quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O PREÇO DA COERÊNCIA

"Yo soy un hombre sincero
De donde crece la palma,
Y antes de morirme quiero
Echar mis versos del alma.

(...) Yo he visto al águila herida
Volar al azul sereno,
Y morir en su guarida
La vibora del veneno."
("Yo Soy un Hombre Sincero...", José Martí)

Ultimamente têm aumentado as calúnias, injúrias, difamações, infamias e boicotes contra mim. Parece que meu trabalho incomoda muita gente. Os reacionários unem-se, em santa aliança contra meus textos, aos sectários de esquerda e aos dependentes das boquinhas do Poder.

Nos comentários do Centro de Mídia Independente, p. ex., já recebi desde ameaças de morte até acusações de que seria gay, criatura do "lullo-petismo" e condescendente com os EUA e com Israel, além das costumeiras adulterações dos eventos de 1970!

Cada vez mais, os portais, sites e blogues da esquerda organizada me colocam na lista negra, seguindo, com algum atraso, os passos da grande imprensa, cujas editorias políticas me tratam como não-pessoa desde 2004.

Havendo sempre espaço para mais uma vilania, um indivíduo que eu considerava amigo chegou ao cúmulo de postar em vários espaços virtuais e de espalhar na rede de e-mails uma dezena de trechos de mensagens de caráter privado que eu trocara com ele há anos.

O objetivo dessa quebra de confiança e de confidencialidade foi intrigar-me com correntes de esquerda e com companheiros que eu evitara criticar publicamente para não criar fissuras no nosso campo.

Engolia meu desagrado para não fornecer munição gratuita aos adversários das nossas causas, mas ficava com muito sapo entalado na garganta. Cai na besteira de desabafar com esse ser indigno.

Resultado: ele tornou público não só o que me prejudicava, mas até informações que ameaçam a segurança de terceiros. Sem ser um provocador, prestou serviço melhor à reação do que muitos agentes remunerados. Até que ponto leva a inveja e a busca de holofotes!

Então, vem a calhar o artigo que a companheira Adriana Tanese Nogueira postou, por coincidência, exatamente no dia do meu aniversário: Maus, antipáticos e desagradáveis.

Pertencente ao seleto grupo dos brasileiros forçados à diáspora nos anos de chumbo, ela está às voltas com problemas materiais e reminiscências emocionais que dificultam seu retorno à patriamada. Mora nos EUA, onde é uma conceituada psicoterapeuta e escritora, além de encabeçar a ONG Amigas do Parto.

Afora o blogue em questão (Psicologia Dialética), possui vários outros, inclusive o que leva seu nome e está servindo para uma curiosa experiência: a construção, em público, de um livro de memórias, capítulo por capítulo.

Fala das perseguições que sua família sofreu da repressão brasileira, por conta da opção política do seu pai, bem como de injustiças contra ele praticadas pela própria esquerda.

Enfim, eis o final de seu interessantíssimo artigo, que veio bem ao encontro das minhas agruras recentes:
"...a verdade é que todo indivíduo que ousa sair do trilho é marcado como 'mau, antipático e desagradável'. Com frequência, a pessoa desvia do caminho desejado não intencionalmente, mas porque 'nasceu assim'; ela adota espontaneamente esta ou aquela atitude, e só descobre o imenso 'mal' que fez pelas infelizes reações alheias.

"Para muitas pessoas não é agradável conviver com alguém que tenha idéias, estilo de vida e escolhas diferentes. O incômodo nasce do fato que a presença da diversidade torna nossa posição relativa, o que não seria problema algum, se nossas escolhas fossem livres e conscientes. Mas, no caso delas serem o resultado de uma auto-repressão e/ou de uma falsa atitude de base, ambas as coisas provocando muita tensão interna, ter alguém ao lado que contradiz com seu modo de ser nossas 'escolhas', é altamente desestabilizante. Essa pessoa deve ser eliminada. Ela é desagradável, pois está, mesmo sem querer e falar nada, emitindo um convite implicito para libertarmo-nos ou revelando silenciosamente nossa hipocrisia interna.

"Há outros que não suportam pessoas que não reagem aos eventos da vida da mesma forma que o grupo, ou não administram os negócios segundo seu estilo. Esses são os antipáticos, eles não se solidarizam com os mesmos assuntos, posturas, atitudes, piadas e formas de encarar os fatos que o grupo assumiu. Eles também devem ser rejeitados. Não se encaixando, não servem para 'apoiar' o grupo e sua política; são considerados detratores, contrários à causa, enfim, antipáticos. Devem, portanto, ser excluídos.

"Enfim, há os maus. Esse são sentenciados ao banimento por uma maldade essencial: a de querer ser fieis a si mesmos e agir com consciência. Nesse, como nos outros casos expostos, a obtusidade intelectual e emotiva do grupo (seja ele família, círculo de amigos, de trabalho, de igreja, de partido, etc.) não permite diferentes opções. Sem o dialogo, que promoveria o desenvolvimento de todos, não resta que rejeitar o 'mau'. Ele é 'mau' para a 'saúde' do grupo, 'mau' para seus objetivos, estratégias, meios, valores, e etc. No final das contas, talvez, os 'maus' se conhecessem essas pré-condições optariam por não entrar num grupo desses.

"Concluindo, entre os 'maus, antipáticos e desagradáveis' é possível encontrar as pessoas mais interessantes, criativas e de vanguarda de nosso tempo. Isso, naturalmente, se elas não tiverem sucumbido ao feitiço que lhes foi lançado, acreditando na visão, que os que se sentem ameaçados, têm delas. "

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