clóvis rossi
A REVOLUÇÃO TRAIU OS SONHOS
"...que triste ver que os sonhos que sonharam parcelas significativas dos jovens e não tão jovens latino-americanos tenham sido soterrados por ditaduras.
Talvez nada seja, hoje em dia, mais emblemático do pesadelo em que se transformaram revoluções de sonho —sonho de liberdade— que a Nicarágua.
Nesta 4ª feira (18), a Organização dos Estados Americanos discutia resolução de censura à repressão desatada pelo governo de Daniel Ortega e sua mulher, a vice Rosario Murillo, contra principalmente os estudantes rebelados. Repressão que, segundo organismos de direitos humanos, deixou ao menos 351 mortos em três meses de levante popular.
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A triste ironia é que, há 39 anos, a mesma OEA aprovou em junho resolução condenando o regime de Anastasio Somoza Debayle, o ditador de turno, e exigiu sua substituição imediata.
Um mês depois, Somoza caiu e assumiu Daniel Ortega, o líder da Frente Sandinista de Libertação Nacional que comandava os muchachos, os jovens que usavam os cachecóis rubro-negros da Frente.
Nesta 5ª feira (19), comemoram-se precisamente 39 anos da vitória do sonho de liberdade que à época se sonhava.
Agora, no entanto, os muchachos estão do outro lado das barricadas, exigindo a saída do novo Somoza, como chamam Ortega, o traidor da revolução, que se aliou à fatia mais reacionária e corrupta da elite nicaraguense para tornar-se um tiranete.
Os muchachos agora se declaram em "desobediência estudantil acadêmica", como parte da rebelião contra o novo Somoza. Explicam que governo e autoridades acadêmicas são incapazes de "respeitar e salvaguardar nossa integridade física e mental, a liberdade de expressão, a autonomia universitária e, mais importante ainda, nosso direito de viver".
Agora, a igreja, parte da qual apoiara e ajudara os muchachos de cachecóis rubro-negros, apoia e ajuda os muchachos que marcham contra o governo sandinista e vestem a bandeira azul e branca da Nicarágua.
A Conferência Episcopal nicaraguense convocou um jejum para esta 6ª feira (20) de explícito conteúdo político. Será, dizem os bispos, "um ato de desagravo pelas profanações realizadas estes últimos meses contra Deus" (alusão óbvia à violência que o governo vem empregando contra manifestações em geral pacíficas).
É razoável supor que o jejum tende a ser o estopim para novas manifestações contra o governo e, por extensão, por novas profanações contra Deus (e contra as pessoas, principalmente os jovens).
3 comentários:
É, é...
O que nào faz um dia após o outro!
Ernesto Cardenal, padre, poeta, ministro do governo sandinista por muitos anos, condena o rumo da revolução em seu livro "A Revolução Perdida".
O filme N-Água, da recente mostra da Ecofalante Cinema Ambiental, mostra a vergonhosa negociatas de entrega do lago da Nicarágua ao magnata capitalista chinês Wan Jing para a construção do canal Atlântico-Pacífico, sem consulta ao povo nicaraguense. A devastação ecológica será catastrófica, se construído o canal.
Um histórico partido de esquerda no Brasil em seu blog defende o governo de Daniel Ortega "atacado pelo neoliberalismo". Um apoio implícito aos massacres.
Em quem acreditar, no Clóvis Rossi?
Eu acredito que genocidas não são de esquerda nem de direita, são apenas genocidas. É assim que devemos encarar alguém como o Ortega de hoje. Lamentavelmente, pois simpatizei muito com a revolução sandinista.
Assim como tenho muito respeito pela revolução mexicana de Villa e Zapata, mas o PRI, supostamente dela herdeiro, era uma lástima.
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