quinta-feira, 10 de maio de 2018

O PANORAMA ELEITORAL. DESALENTADOR.

Com a falta de pique que me acomete quando estou gripado e não consigo ter boas noites de sono, apresento aqui, de forma bem sucinta, algumas informações relevantes para entendermos os últimos acontecimentos e o quadro atual:

 CALCANHAR DE AQUILES. O jornalista Luiz Weber, que é também especialista em direito constitucional, atribui a desistência de Joaquim Barbosa ao fato de que, aposentado do Supremo, ele passou a ser um dos principais pareceristas do mercado de munição jurídica. 
Cada um desses pareceres sai por, no mínimo, R$ 300 mil. E, claro, quem tem essa grana preta para lhe pagar são grandes empresas pilhadas em situações melindrosas. 

Não há nada de ilegal nisso, mas Barbosa certamente percebeu como ficaria mal na foto caso os adversários começassem a lhe atirar na cara que tem utilizado todo seu saber jurídico para livrar a cara de canalhas. Não condiria com uma imagem eleitoral de paladino da justiça.

 TUDO ISTO E O CÉU TAMBÉM. Artigo de hoje (9/5) do Josias de Souza veio ao encontro das minhas conclusões de quase um mês atrás (vide aqui). Há evidentes excessos retóricos, pois, afinal, ninguém em sã consciência acredita que o Lula atual fosse capaz de "organizar uma revolução" ou de "pegar em armas contra um Estado que o persegue" (nem o do passado, aliás). 

Mas, o Josias está certo em afirmar que, atirando em duas direções antagônicas, ele e o PT não acertarão em alvo nenhum. Ou mantêm a narrativa do inocente que estaria sendo vítima de um monumental complô, conformando-se com sua longa permanência atrás das grades; ou baixam a bola para tirar Lula da prisão no indulto natalino. 

 TROTSKY TAMBÉM QUEBROU A CARA... Faz-me lembrar um dos piores fiascos da trajetória do grande Leon Trotsky. Assumido o poder em 1917, os bolcheviques se deram conta de que não tinham condições para continuarem lutando contra a Tríplice Aliança (Império Alemão, Impérios Centrais e Austro-Hungria), pois o exército se esfarelara. Então, resolveram firmar uma paz em separado com o inimigo, evitando assim uma invasão da qual não conseguiriam se defender. 
Mas Trotsky, conduzindo as negociações pelo lado russo, utilizou todo seu brilho intelectual para enrolar o outro lado e ganhar tempo, na esperança que o conflito terminasse logo, pois já se encaminhava para a vitória da Inglaterra, França e EUA. 

Funcionou durante algum tempo mas depois a Rússia, recebendo um ultimato assustador, teve de fazer às pressas concessões ainda piores do que as antes exigidas. O próprio Lênin se posicionou pela assinatura do que seria o Tratado de Brest-Litovski, embora afirmando que se tratava de uma paz vergonhosa 
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 ...MAS O PT ADORA COPIAR O QUE NÃO DEU CERTO. Alunos relapsos de História, os petistas estão cometendo o mesmíssimo erro: tentam impor aos outros aquela que seria a melhor das soluções possíveis para si, ou seja, querem a libertação do Lula mas não abrem mão das suas acusações contra o Judiciário.

E, claro, falta-lhes cacife para ganharem tal parada, assim como à combalida Rússia faltava cacife para abandonar a guerra sem ceder os territórios exigidos pelo inimigo como compensação.
  
O NOVO, ONDE ESTÁ O NOVO? Uma boa panorâmica das perspectivas para a próxima eleição presidencial é dada por Hélio Schwartsman na sua coluna desta 5ª feira (10). Segundo ele, "vão se acumulando sinais de que as forças da inércia são poderosas", pois a desistência de Barbosa, após a do Luciano Huck, "mostra que o sistema não é muito amigável para neófitos". 

Sobram, então, "velhos conhecidos como Marina, Ciro, Alckmin", além de Bolsonaro, que "tenta vestir-se de novo, mas (...) cumpre seu sétimo mandato de deputado federal". 

Se o PT não indicar logo o substituto de Lula, Marina ou Ciro se beneficiarão. Os tucanos têm de manter Alckmin vivo até o início da campanha na TV, quando o peso da estrutura partidária se fará sentir. Se Bolsonaro chegar ao 2º turno, seu adversário "estará com a faca e o queijo na mão", pois "extremistas tendem a ser rejeitados".

3 comentários:

Valmir disse...

A Chinesa (La Chinoise) é um filme de Jean Luc Godard que trata - em seu estilo mais que peculiar - dos estudantes maoistas no maio/68 francês.
Pelas tantas um personagem descreve metaforicamente a natureza do discurso esquerdista da seguinte forma:
Na Índia antiga julgava-se que sua língua - o híndi - era um dom dado diretamente pelos deuses a cada pessoa, não algo aprendido e ensinado.
Um rei mais cético decidiu que precisava provar isso e resolveu fazer um experimento que elucidaria a questão definitivamente: um grupo de crianças ao nascer seria apartado de quase todo convívio humano e isolada, e cortariam as línguas dos cuidadores para que nunca ouvissem uma palavra.
Na idade de falar se saberia se elas usariam a língua de seus pais ou não. O que provaria a origem divina da língua sem sombra de duvidas.
Mas ao fim da experiência, para decepção geral, as crianças somente baliam como ovelhas... pq o local que foram criadas era próximo ao abrigo de um rebanho de tais criaturas.

celsolungaretti disse...

A CHINESA impactou fortemente a minha geração. E, de certa forma, tive uma experiência semelhante, então é um filme que há décadas deixei de rever porque me deixa melancólico.

Eu e dois colegas de colégio começamos a fazer conscientização política ingênua no 2º semestre de 1967. Ao chegar o fim das aulas, a companheira que tinha ligação com o movimento universitário convidou-nos para passarmos alguns dias reunidos, estudando marxismo, dentro de uma perspectiva de nos tornarmos militantes revolucionários efetivos a partir de então.

A CHINESA foi lançado em São Paulo alguns meses depois. As comparações eram inevitáveis.

Hoje, lembro-me de como nós todos éramos entusiastas e esperançosos. "Sabíamos e não sabíamos" como aquela jornada poderia ser terrível: tínhamos conhecimento das torturas, não ignorávamos que a ditadura chegava a matar (bem menos do que viria depois, principalmente de 1969 em diante), mas não queríamos pensar nisso. Éramos só empolgação.

O Eremias Delizoicov foi um dos que participou. Era colega meu desde o primário. Seria assassinado pela repressão em outubro de 1969.

Valmir disse...

aí Celsão...experiencias muito similares...tbm quase cheguei a ir pras barricadas; mas a cara do Jean Pierre Leaud e sua turma me alertou...não dava pra acreditar.
e tinha uma coisa mais que obvia né? o povo pelo qual eu supostamente iria morrer ou matar não tava nem aí...muito pelo contrario.

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