Toque do editor |
Outros aspectos da intervenção federal no Rio de Janeiro já foram aqui dissecados com muita propriedade pelo David Emanuel de Souza Coelho e pelo Dalton Rosado, então eu pretendia abordar um que tem tudo a ver com meu longínquo passado de comandante de Inteligência da VPR: por que, afinal, o Governo Temer decidiu fazer agora o que já poderia ter feito há muito tempo ou deixar para outra ocasião?
Desde o primeiro momento me pareceu ser uma decisão determinada pela política e não pela insegurança que era imposta aos cariocas e afugentava os turistas. E, para minha surpresa, encontrei pronto um texto que contém quase ipsis litteris o que eu pretendia escrever. Redigir outro, nestas condições, acabaria sendo um desperdício de tempo.
Daí eu estar publicando abaixo o artigo do já veterano e sempre brilhante colega Marcos Augusto Gonçalves. Dentre todos os que li, foi aquele que melhores respostas deu para algumas questões que me interessavam. Espero que vocês também o apreciem. (por Celso Lungaretti)
TEMER TROCA AGENDA LIBERAL
ESGOTADA POR POPULISMO DE DIREITA
Do blog do MAG |
Ao decretar a intervenção que transfere a segurança pública do Estado do Rio para o comando da União e das Forças Armadas, o presidente Michel Temer colocou em segundo plano a agenda econômica liberal, a essa altura esgotada, que o avalizava no plano político.
Em ano eleitoral, o Planalto constatou o fracasso inevitável da prometida e fetichizada reforma da Previdência. Como desse mato não há mais muito o que sair, além da virada ainda lenta do ciclo econômico, resolveu chamar ao proscênio a charanga característica do populismo de direita –que toca música conhecida pelo MDB.
Temer gostaria de candidatar-se à reeleição. Quer pelo menos aumentar o cacife do governismo. Espera melhorar seus baixíssimos índices de popularidade com os efeitos mágicos da intervenção no Rio. Há motivos, de fato, para que parcela considerável da população (a carioca com certeza) apoie a medida drástica.
Mas o tiro político-eleitoral pode sair pela culatra. O Planalto tenta surfar na onda demagógica de Bolsonaro, mas ao fazê-lo abraça um abacaxi. Enfrentará desafios nada triviais, como revoltas em presídios, união de facções, confrontos e, quem sabe, ataques.
O que resultará do pulo do gato dado pelo Temer? |
Esses problemas vão começar, a partir de agora, a cair na conta do governo. “Não assumiram a parada? Agora resolvam!”
E a insatisfação de setores das Forças Armadas não vai ajudar.
Uma tentativa de aplainar obstáculos seria amenizar o perfil militar da intervenção. O plano está em aberto; nada de concreto foi apresentado.
Algum tipo de controle externo, um conselho, por exemplo, da sociedade civil, poderia, quem sabe, aplacar algumas resistências e reduzir os riscos da aventura. Mas quem dará essa mão? Justo agora, quando tudo se volta para a corrida eleitoral?
O show está apenas começando. (por Marcos Augusto Gonçalves)
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