sexta-feira, 19 de maio de 2017

DALTON ROSADO: HÁ UM TERTIUM GENUS!

"Por mais críticas que sejam a situação e as circunstâncias, não aceite o desespero; nas ocasiões em que tudo leva
ao medo, não se deve ter medo de nada; quando
se está rodeado de perigos, não se deve temer
perigo algum; quando já se esgotaram todos
os recursos, deve-se contar com todos os
recursos; quando se é surpreendido,
deve-se surpreender o próprio
inimigo." (Sun Tzu, em 
A Arte da Guerra)
São chocantes as últimas notícias, dando conta do envolvimento do Presidente Temerário e do presidente do PSDB, senador Aécio Neves, com empresários financiadores de campanhas eleitorais, visando à obstrução da justiça. 

Toda a operação foi planejada pelo Polícia Federal e filmada. Com as imagens de prisões repetidas ad nauseam na televisão, acirram-se as discussões sobre uma falsa dicotomia entre esquerda (representada pelo PT, PC do B e Psol) e direita (PMDB e PSDB), com a participação dos demais partidos, de um lado e de outro, como coadjuvantes. 

Num dos muitos comentários nas redes sociais, um constrangido eleitor de Aécio Neves aproveita o noticiário para proclamar a isenção republicana do funcionamento das instituições do Estado, afirmando criticamente que o PT, agora, considera a Operação Lava-Jato, a PF, a Justiça e a própria imprensa como artefatos sócio-institucionais úteis.

Por seu turno, um deputado federal do PT, que até há bem pouco tempo era líder do governo, se apressa pedir o impeachment do Presidente Temerário (com o semblante feliz de quem se considera redimido de todas as culpas!) e engrossa o coro das diretas-já.

Todos eles estão adstritos a uma mesma imanência básica de organização e funcionamento social capitalista, embora atribuam a si próprios uma divergência fundamental, que afinal não existe (ou existe apenas cosmeticamente) em termos políticos.  

Entretanto, existe um tertium genus (terceiro elemento)! 

Há um contingente, calculado em quase 1/3 dos eleitores brasileiros, que no último pleito se absteve de votar, votou em branco ou anulou o voto, desencantado com a política. 

Há um contingente de 14,2 milhões de desempregados, desesperando-se com as cruéis tragédias humanas decorrentes desta condição, assistindo à decomposição institucional da crise no topo e se inquietando com a conta da luz a pagar e o alimento das crianças por comprar.

Há quem entenda que tanto a justiça quanto todos os demais poderes de Estado encontram-se a serviço de uma ordem econômica decadente, que está na base da decomposição orgânica social em curso. Estes, por isto mesmo, não acreditam na isenção republicana de pretensa independência e harmonia funcional dos poderes republicanos e criticam a sua força institucional, compreendendo que ela não está acima do bem e do mal, mas, acima de tudo, preserva o capitalismo em sua fase de limite existencial, apesar da tragédia humana por ele provocada. 

Os grandes capitalistas e a dita classe média culta defendem o capitalismo por conveniência, já que desfrutam de privilégios sociais (ora ameaçados).
Os primeiros porque querem manter e ampliar seus negócios, apesar do estresse que representa a atividade empresarial em meio à guerra da concorrência de mercado, que elimina paulatinamente parte do empresariado, levado à falência numa autofagia irracional.

Os segundos defendem o capitalismo por medo da perda dos privilégios que adquiriram, vivendo sob o constante temor de voltarem para o andar de baixo; de sofrerem um assalto na esquina; ou, ainda, de uma bala perdida os encontrar, pois a escalada do crime (organizado ou não) é vertiginosa.        

Muitos cidadãos bem intencionados, pertencentes ao segmento explorado dos trabalhadores assalariados, também defendem o capitalismo (aí incluídos os que o aceitam como um mal menor, desiludidos com as experiências socialistas que não passaram de capitalismo de Estado, igualmente deletério). 

Não se dando conta de sua evidente falência como modo de mediação social, querem o impossível: que sejam defenestrados do poder os maus políticos e, nos seus lugares, colocados políticos bons
Tais esperanças ingênuas se devem a desconhecerem a natureza corruptora intrínseca à logica funcional do próprio capital; o seu caráter autotélico segregacionista; e a opressão contida no arcabouço jurídico-institucional que lhe dá suporte.

Não é mais hora de insistirmos nas velhas e decrépitas fórmulas eleitorais que dão sustentação à ordem capitalista, a qual se mostra incapaz de prover a sustentação digna dos indivíduos sociais, mesmo num país rico em recursos naturais como o Brasil (que, apesar de sua imensa extensão territorial, sequer oportuniza terras os trabalhadores erguerem suas moradas, deixando-os amontoados nas favelas). 

Cabe a nós, conscientemente, atentarmos para o sofrimento humano de quem está ao nosso lado e mesmo para as nossas próprias vicissitudes, compreendendo que toda propriedade, seja ela uma morada, uma unidade fabril, ou uma fazenda, devem estar a serviços da vida, e não do capital.

Urge serem quebradas as grades da prisão de um pensar que somente admite a produção de valor, riqueza abstrata, como modo de obtenção da sustentação material da vida, numa ilogia que agora encontra o seu limite interno de expansão e nos arrasta para a barbárie e o genocídio.

Por Dalton Rosado
Para tanto, faz-se necessária a compreensão da opressão contida nas instituições capitalistas cuja decrepitude se evidenciam; e, mais que isto, o entendimento de que toda riqueza abstrata acumulada (dinheiro e mercadoria), que tanto nos faz falta, representa tempo de trabalho assalariado coagulado numa mercadoria e apropriado indevidamente dos trabalhadores. Dela devemos nos apropriar coletivamente, para lhe dar uso mais nobre, até por direito natural. 

Fora tudo, fora todos! 

Há um tertium genus!

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