sexta-feira, 14 de abril de 2017

MÁSCARAS ARRANCADAS. ÍDOLOS CAÍDOS. ILUSÕES DESFEITAS. E AGORA, O QUE FAZER?

Desde o processo do mensalão eu sabia que a maior parte das acusações contra grãos petistas procedia. Afinal, não só pertenci ao partido até ele me decepcionar por completo, como continuei mantendo contato com amigos que me colocavam a par do que rolava nos bastidores do PT. Ademais, jornalista profissional honesto consigo mesmo invariavelmente aprende a discernir, pelo mero noticiário, quando os ídolos têm pés de barro.

Mas, fiel à minha convicção de que a corrupção é intrínseca ao capitalismo (e à democracia burguesa), nunca embarquei nessas cruzadas moralistas que, de antemão sabia, nada resolveriam em médio e longo prazos. A onda passa e as maracutaias vão retornando, até se tornarem tão ostensivas que a indignação coletiva eclode e uma nova faxina purificadora se inicia. Que graça têm os filmes quando já conhecemos o final?

Tentava é fazer uma revolução que estabelecesse prioridades mais dignas para os seres humanos, pois enquanto eles forem movidos pela ganância, sempre haverá espertos tentando encurtar, mediante ilegalidades, o caminho para a obtenção de riquezas e poder.

Então, muitos companheiros crédulos certamente estarão estarrecidos com as revelações que agora inundam a imprensa, a partir das delações premiadas da Odebrecht. 

Durante tanto tempo acreditaram piamente nas mentiras e fantasias provenientes daqueles que pertenceriam ao nosso lado e agora tomam conhecimento de que a roubalheira era praticada com idêntico cinismo por todas as forças do espectro da política oficial!

Espero que, ao invés de chutarem latas de lixo pelas ruas, aqueles para quem a ficha acabou de cair tenham a reação correta: abandonar todas as ilusões no sistema capitalista, suas cabeças de hidra e seus tentáculos de polvo, passando a lutar fora dele, contra ele e sem nenhuma condescendência em relação a ele. A salvação está nas ruas. Os podres Poderes já atingiram o estágio de putrefação.

Ia escrever mais pormenorizadamente sobre a dança infernal que está em cartaz nesta semana, mas o filósofo Vladimir Safatle já o fez de forma tão lapidar que me limitarei a reproduzir seu artigo. (Celso Lungaretti)
.
UM OUTRO FIM DO MUNDO É POSSÍVEL
.
"O que temos no Brasil não é um negócio de cinco, dez anos. Estamos falando de 30 anos atrás". Foi bom, Emílio Odebrecht, que você tenha lembrado disso em sua delação premiada. Pois durante os últimos anos o povo brasileiro teve que assistir ao espetáculo patético de corruptos com ares de indignação cívica acusando corruptos, torcedores de corruptos saindo às ruas para clamar contra a corrupção.

Tudo isto para chegar neste momento catártico e todos os lados da Nova República serem expostos em suas relações incestuosas com o empresariado nacional.

O ilibado e endeusado pela imprensa local Fernando Henrique Cardoso, o defensor dos oprimidos Lula, o santo Alckmin, a guerrilheira Dilma, o indignado Aloysio Nunes, seu amigo e presidente natural Serra, os operadores do PT, os operadores do PSDB, os negociadores do PMDB, os trânsfugas da ditadura do DEM: em suma, toda a fauna da casta política brasileira no mesmo banco dos réus.

Os mesmos que ocupam os espaços na imprensa para pregar austeridade e destruição dos direitos dos trabalhadores são os que pilharam os cofres públicos de forma aberta e sem pudores. Os mesmos que exigem dos trabalhadores que trabalhem 49 anos para se aposentar de forma integral deram ao Brasil a honra de ter 24 de seus 81 senadores como alvo de inquérito no STF.

Os mesmos que fecham escolas e deixam apodrecer universidades sentavam à mesa fausta das negociações e levavam para casa milhões de reais.

Desde o aparecimento da primeira ponta do iceberg do esquema do mensalão, isto nos idos de 2004, tudo estava claro para quem quisesse ver.

O maior esquema de corrupção da República tinha sido simplesmente reciclado pelos novos inquilinos do poder a partir, como disse o patriarca Odebrecht, do business usual dos últimos 30 anos.

O mais cômico era ouvir aqueles que tentavam diferenciar os ocupantes do poder por intensidade de corrupção: "Não, mas este corrompeu muito mais". "Mas em relação a este são só ilações, é só tentativa de jogar todo mundo na lama para relativizar tudo".

É, meus amigos, o Brasil conhece como ninguém o cinismo dos que sabem muito bem, mas mesmo assim agem como se não soubessem.

Diante disto, poucas foram as vozes que se perguntaram: mas como chegamos até aqui? De onde veio a opacidade do Estado brasileiro e seu desprezo pela presença da soberania popular, único esteio real contra a corrupção dos entes privados? Será que há mesmo uma zona cinzenta de amoralidade em toda forma de governo a respeito da qual não é possível fazer nada?

No entanto, a maioria preferiu o jogo miserável de gritar corrupto! enquanto abraçava seu corrupto do coração.

Melhor teria sido começar por se questionar sobre as relações incestuosas entre governos e empresariado que fazem do Estado brasileiro um Estado privado. Um Estado que serve para socializar as perdas do empresariado, transformando suas dívidas em dívidas públicas, que serve para rentabilizar o dinheiro ocioso de seus banqueiros enquanto joga a polícia para cima de seus trabalhadores.
Agora, aparecem os oportunistas de plantão com os mesmos truques de sempre. O nome da vez é o sr. Doria. O mesmo que gostava de gritar para seus desafetos: "Vá para Curitiba!", enquanto devia R$ 90 mil de IPTU para o município e cujas empresas receberam aportes de R$ 10,6 milhões de vários governos nos últimos anos.

Não, certamente não se trata de mais um caso de relações incestuosas entre empresariado e governos.

Diante da exposição produzida pela chamada delação do fim do mundo, só gostaria de lembrar, como disse o filósofo francês Patrice Maniglier, que "outro fim do mundo é possível".

Que isto sirva principalmente à esquerda brasileira. Eis o resultado do seus grandes operadores e de seus conciliadores que garantiriam uma transformação social segura.

Melhor teria sido lembrar que à esquerda só há um caminho possível: a mais austera virtude jacobina em relação ao bem comum e a recusa completa em operar no interior desta governabilidade.

Sim, que este mundo acabe o mais rápido possível. Toda a história da Nova República só poderia acabar mesmo nesta confissão explícita de fracasso nacional. Que este trauma nos sirva de lição. (Vladimir Safatle)

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu sei que você não vai publicar: Nem a sua querida laranja verde escapou...

celsolungaretti disse...

Querida minha, a Marina Silva?! Nem a pau, Juvenal! Sou revolucionário, não militante ecológico. Eu só tentava evitar que a destruíssem com mentiras e jogo sujo, pois eu sabia que as consequências seriam extremamente nefastas para o campo da esquerda.

E foram: o PT está em frangalhos. Teria sido muito melhor se, numa disputa leal, a Marina se elegesse. Aí caberia a ela adotar as medidas impopulares que os grandes capitalistas exigiam e nenhuma das duas jamais teria coragem de de dizer "não!".

A Dilma ganhou uma eleição que não convinha ganhar, tentou implantar uma orientação econômica neoliberal que boa parte do partido repudiava, não conseguiu aprovar suas medidas no Congresso, passou um ano e quatro meses sem tomar as rédeas do governo nas mãos e acabou derrubada.

Quem é que estava certo?

Related Posts with Thumbnails