terça-feira, 19 de abril de 2016

DALTON ROSADO: "A GUERRA DO IMPEACHMENT (ou GOVERNAR, PRA QUÊ?)".

Uma inusitada atração dominical...
“E mesmo o Padre Eterno, que nunca foi lá,
olhando aquele inferno, vai abençoar
o que não tem governo, nem nunca terá,
o que não tem vergonha, nem nunca terá,
o que não tem juízo"
(Chico Buarque, O que será)

Assistimos neste domingo (17) a milhões de pessoas nas ruas e em suas casas se posicionando contra e pró o Governo Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, numa expectativa geral e inusitada. E deu a lógica. 

O processo foi estimulado por um espetáculo midiático e parlamentar com a participação, em sua grande maioria de gente como: 
  • o inacreditável Eduardo Cunha; 
  • Jair Bolsonaro (que fez a apologia de um assassino de presos políticos indefesos, o recentemente falecido coronel Brilhante Ustra); 
  • por tudo que é corrupto de carteirinha, eleito graças ao poder econômico ou conluio com prefeitos corruptos nos grotões brasileiros; 
  • por correntes conservadoras de todo tipo que recebe apoio dos empresários da Fiesp e de todas as entidades do grande empresariado nacional, bem como dos principais bancos; 
  • pela chamada bancada ruralista
  • pela bancada da bala
  • pela bancada do conservadorismo evangélico mais piegas, etc.
...e suas atrações bizarras: Jean Wyllys, vulgo Bob Cuspe...
O PT, por apego ao poder, entrou na dança do fogo e se queimou; mancomunou-se com aliados como Gilberto Kassab, José Sarney, Edison Lobão, Jader Barbalho, Renan Calheiros, e tendo como parceiro de chapa Michel Temer(ário).

Obviamente, terminou por perder o poder e a compostura. Tal espetáculo, que mais parece um concorrido Fla-Flu das antigas, ao invés de promover a conscientização cívica, embrutece a inteligência coletiva.

No mundo inteiro a esquerda e a direita se alternam no poder graças aos desgastes inerentes ao exercício do poder, praticando as mesmas receitas eleitorais e econômicas (as diferenças são periféricas e se situam no campo social com visões mais ou menos assistencialistas, que não resolvem os problemas), pois governam dentro de uma lógica econômica cujos instrumentos e remédios (sempre ineficazes) são estritamente iguais. 

O quadro do capitalismo mundial é o de um doente terminal sustentado por aparelhos. Assim, os problemas brasileiros se assemelham aos problemas mundiais, com a diferença de que os senhores do mundo podem emitir moeda sem lastro e títulos públicos a juros mais baixos, e assim continuarem posando de ricos enquanto os demais não podem fazer o mesmo (e, quando o fazem, pagam juros mais altos).
...Jair "Torquemada I Love You" Bolsonaro...

O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, a partir do chamado consenso de Washington, ditam regras para um apertar dos cintos que somente é válido para os pobres do mundo. As agências de classificação de riscos (rating) dão notas de confiabilidades econômicas facciosas (silenciavam quanto ao banco Lehman Brothers).

Diante da falência sistêmica há uma tensão para a imposição de restrições de todos os tipos, sob a força da coação militar em nome da governabilidade que já está representando um retrocesso civilizatório antes inimaginável (vide barbárie do fundamentalismo islâmico e movimento migratório para a Europa dos refugiados das guerras e da fome). 

O contraponto a esse estado de coisas não é a política, e nem a busca pela impossível, segregacionista e predatória retomada do desenvolvimento econômico, mas a superação da própria economia junto com o sistema produtor de mercadorias e seus construtos institucionais.

Podemos demonstrar as deficitárias contas públicas brasileiras, causadas menos por má gestão (que as agravam), e mais por inviabilidade dos próprios fundamentos capitalistas, com apenas três indicadores:
  • déficit do orçamento público –o chamado rombo das contas públicas decorre de um nível de arrecadação inferior às despesas, o déficit primário, e nos últimos 12 meses, encerrados em fevereiro 2016, ficou fixado em R$ 125,1 bilhões, sem considerar o pagamento dos juros da dívida pública crescente (a despeito de uma taxa de impostos altíssima, e que agora tenta restabelecer a CPMF);
...Tiririca, aquele que fez o Lula de palhaço...
  • falência da previdência social –o governo previu um rombo de R$ 43,7 bilhões nas contas da previdência em 2015. Esse valor leva em conta o pagamento de R$ 436,3 bilhões com benefícios e receitas de R$ 392,6 bilhões, uma bomba relógio com data marcada para explodir;
  • dívida pública insolvável –R$ 2,79 trilhões que corresponde a 66,23% do PIB de 2015 e juros anuais R$ 367,6 bilhões, a serem pagos pelo povo.
Nessa esteira, e como exemplo de débâcle da economia, nós podemos citar outros três exemplos ilustrativos:
  • a taxa de desemprego no trimestre que se encerrou em janeiro de 2016 ficou calculada em 9,5% da mão de obra economicamente ativa (não é menor na rica e culta Europa);
  • inflação anual de 9,36% (de março de 2015 a 2016);
  • taxa negativa do PIB prevista para os mesmos 3,8% em 2016, e em cima dos 3,8% de 2015 (e o FMI prevê uma queda no PIB mundial para 3,2% ao ano em 2016, que já vem em curva decrescente). 
 A situação de muitos dos estados e municípios brasileiros é de déficit orçamentário crônico, e são muitos os que não estão sequer conseguindo honrar as folhas de pagamentos dos funcionários ativos e aposentados. 
...e o mestre de cerimônias do Circo Federal, Eduardo Cunha.

O sistema encontrou o seu limite de expansão e definha.

Chega a ser irresponsável a esquerda desconhecer os fundamentos pelos quais ocorre a decadência econômica brasileira e mundial, acompanhada do agravamento da crise ecológica causada por um modelo de produção predatório, e ainda querer governar sob tais pressupostos, ao invés de denunciá-los!

Que os capitalistas queiram fazê-lo é compreensível Mas, para quem quer resolver os problemas sociais e ecológicos, resta a difícil luta pela superação do atual modo de produção e relação social

Esta deve ser a palavra de ordem! (por Dalton Rosado) 

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