terça-feira, 29 de maio de 2012

A "FOLHA" VIRA PORTA-VOZ DO TERNUMA E QUASE NINGUÉM DENUNCIA?!

Agora ficou assim.
Antes era assim.
Tudo como dantes no quartel de Abrantes: 
  • o jornal da  ditabranda  publica em sua edição dominical uma peça de propaganda enganosa e vil travestida de notícia (vide aqui), desta vez atuando descaradamente como porta-voz dos piores remanescentes da repressão ditatorial;
  • eu lanço um protesto consistente e veemente (vide  aqui), mas poucos dos nossos espaços virtuais tocam no assunto, como se minimizar a repercussão dos posicionamentos de um adversário pertencente ao campo da esquerda fosse mais importante do que combater as maquinações dos inimigos do campo da direita; e
  • o filósofo Vladimir Safatle é ñovamente a voz solitária que expõe as falácias da Folha de S. Paulo nas próprias páginas da Folha de S. Paulo.
Lamentando profundamente as inaceitáveis e indesculpáveis omissões, dou o merecido destaque ao texto de Safatle, que reproduzo na íntegra, até por representar um ato de dignidade e coragem. Que morram de vergonha os que, mesmo sem o risco de perderem tribunas importantes, não expressaram seu repúdio à ralé fascista!

A CONTA DOS MORTOS

No último domingo, esta Folha publicou reportagem a respeito do número de mortos resultantes de ações da luta armada contra a ditadura militar ('Para militares, Estado combatia o terrorismo', 'Poder', 27/5).

A reportagem em questão tem sua importância por trazer mais informações que permitem aos leitores tirar suas conclusões a respeito daquele momento sombrio da história brasileira. No entanto ela peca por aquilo que não diz.

Baseando-se nos números de um site de militares defensores da ditadura, o texto lembra como membros da luta armada mataram, além de militares, 'bancários, motoristas de táxis, donas de casa e empresários'. Não é difícil perceber o esforço do jornalista em induzir a indignação a respeito de tais ações contra 'vítimas particularmente vulneráveis', como sentinelas 'parados à frente dos quartéis'.

Em uma reportagem como essa, seria importante lembrar que os membros da luta armada que se envolveram em tais mortes foram julgados, condenados e punidos. Eles nunca foram objeto de anistia.

A Lei da Anistia não cobria tais crimes. Por isso eles ficaram na cadeia depois de 1979, sendo posteriormente agraciados com redução de pena. Sem essa informação, dá-se a impressão de que o destino desses indivíduos foi o mesmo do dos torturadores.

Segundo, seria bom lembrar que 'terrorismo' significa 'atos indiscriminados de violência contra populações civis'. Nesse sentido, as ações descritas da luta armada não podem ser compreendidas como 'terrorismo', já que a própria reportagem reconhece que as vítimas civis não eram os alvos.

Mesmo a ação no aeroporto de Guararapes não era terrorismo, mas um 'tiranicídio', que, infelizmente, errou de alvo. Vale aqui lembrar que, no interior da tradição liberal (sim, da tradição liberal), um 'tiranicídio' é algo completamente legítimo, a não ser que queimemos o 'Segundo Tratado sobre o Governo', do 'terrorista' John Locke.

Quando a Comissão da Verdade foi instalada, era de esperar lermos reportagens sobre as empresas que financiaram aparatos de tortura e crimes contra a humanidade, os centros de assassinatos ligados às Forças Armadas, entrevistas com os jovens que organizam atualmente atos de repúdio contra torturadores, crianças que foram sequestradas de pais guerrilheiros assassinados.

No entanto há uma certa propensão para darmos voz a torturadores que se autovangloriam como 'defensores da pátria contra a ameaça comunista' e 'fatos' que comprovam a teoria dos dois demônios, onde os crimes da ditadura se anulam quando comparados aos crimes da luta armada.

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