EUA: o perigo do totalitarismo.
Qual o verdadeiro objetivo dos cortes nas pesquisas e instituições científicas dos Estados Unidos, pelo presidente e seu auxiliar direto Elon Musk? O que se pretende com a suspensão das ajudas do governo às universidades e com os controles de professores e alunos, antes não existentes?
A imprensa europeia ainda parece atônita diante das notícias trazidas por professores desejosos de vir ensinar na Europa, contrários ao governo Trump ou prestes a serem demitidos pelas chamadas medidas econômicas.
Difícil de responder, mesmo porque o plano comercial de taxar pesadamente as importações equivale a provocar reações capazes de provocar um aumento da inflação nos EUA.
A desativação ou diminuição das atividades de setores de ministérios, de ajudas mesmo se interessadas a países estrangeiros como as da Usaid, é feita dentro de um plano bem programado ou com o objetivo de desativar as principais atividades sociais do Estado?
Ou já se trata de se colocar em prática ou estar testando as medidas destinadas a se criar um mundo totalmente diferente, controlado com a utilização de plataformas sociais e inteligência artificial (uma versão atual e mais sofisticada do 1984 de George Orwell: um totalitarismo utilizando câmeras).
O sistema de controle e vigilância de toda população, imaginado pelo escritor, não é mais ficção e já pode ser instalado em todas as residências, ruas e locais coletivos para funcionar o dia inteiro.
Nos nossos dias, existem diversos países com vontade de controlar a formação de pensamento do seu povo. Reeditando um procedimento mais comum na Idade Média, algumas nações utilizam a censura, felizmente sem fogueiras.
E, embora possa parecer surpreendente, os Estados Unidos, um dos países nos quais mais se fala atualmente em exercício da liberdade de expressão, é um dos maiores utilizadores da censura.
O jornal suíço Le Temps dedicou duas páginas da sua edição de fim-de-semana para destacar a existência de mais de 4 mil livros censurados nas bibliotecas e escolas estadunidenses, perguntando qual seria a sequência dessa vaga liberticida.
Entre os livros censurados estão O diário de Anne Frank, o próprio 1984 e Fahrenheit 451, de Ray Bradbury.
Essa realidade foi mostrada no documentário Os Bibliotecários, de Kim A. Snyder, exibido em janeiro no Festival do cinema independente de Sundance, em janeiro. Isso nunca se viu, nem na época do macartismo, se diz no documentário. Vale lembrar que a Constituição estadunidense garante a liberdade de expressão e a liberdade acadêmica.
Mas não é tudo e não vem só de Trump, mas também dos fundamentalistas que o apoiam desde o primeiro mandato. Nos dois últimos anos, houve mais 10 mil pedidos processuais de censura de livros, bem como de álbuns e manuais escolares tratando do período da escravidão e da luta pela liberdade e direitos cívicos dos afroamericanos.
Basta uma frase ou uma imagem para o livro ser catalogado como obsceno ou pornográfico pelas associações e grupos de pressão de fundo religioso nacionalista cristão.
O jornalista Jean-Jacques Roth afirma não serem só livros mas haver palavras e expressões proibidas pelo mundo trumpista numa ofensiva lançada contra a cultura, contra a ciência e contra a espinha dorsal do racionalismo moderno.
Desde o primeiro mandato de Trump eram proscritos nos Centers for Disease Control os termos e expressões feto, diversidade, transgênero, baseados na ciência e apoiados por provas.
Existe na era Trump uma enorme profusão de proibições, tais como as que incidem sobre designado homem ao nascer, identidade de gênero, LGBT, pessoas grávidas.
Devem, ainda, ser evitados os termos ou expressões diversidade, justiça social, raça, etnia, discriminação, racismo.
Trata-se de uma guerra de purificação léxica, destinada a desqualificar tudo quanto se relacione com valores progressistas e com os conceitos das ciências políticas e sociais.
De acordo com Jean-Jacques Roth, o objetivo é o de se criar um mundo onde o real não se relacione com a razão mas sim com a vontade do poder dominante, um mundo no qual não se procura a verdade mas no qual se decreta o que deve ser verdade. Isso tem um nome: totalitarismo.
(por Rui Martins)
6 comentários:
Rui Martins publicou este artigo no 'Observatório da Imprensa' e no 'Correio do Brasil' com o título 'EUA: o perigo do totalitarismo'
ver:(18 páginas)
https://actualitte.com/dossier/225/aux-etats-unis-une-inquietante-vague-de-censure-de-livres
O Rui faz parte da nossa equipe e o título do ARTIGO foi mantido, Mas o título do POST é o que eu dei.
No caso deste tipo de artigo, quanto mais publicações tiver melhor. Como aqui se copia tudo que houver de ruim, sabe-se lá o que pode vir por aí em 2026, com o Tar sem ciso e CIA bela. O jair poderá ter ido, mas a saudade ainda vai matar gente
por Paulo Nogueira Batista Jr.
https://www.jb.com.br/brasil/opiniao/artigos/2025/03/1054809-que-maneira-e-essa-de-make-america-great-again.html
Outra postagem mais que importante no blog, que me faz pensar profundamente, no quanto o puro egoísmo tem que ser enfrentado incansavelmente, dando todas as lições necessárias ao público que não está nem aí com imensa insanidade infestada num mundo tão injusto, onde a falta de humildade fala mais alto que o bom senso, onde até uma criança teria muito mais equilíbrio mental do que inúmeros adultos que se dizem "autoridades" e sabe-se lá o que mais...
Dá gosto de acompanhar o blog, sempre realista e direto.
Ver: Celso Amorim diz que Trump é o interesse 'nu e cru' - 22_03_2025 - Mônica Bergamo - Folha
https://f.i.uol.com.br/fotografia/2025/03/23/174270691767df98e593cc6_1742706917_16x9_md.jpg
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