quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

INICIADA A CONTAGEM REGRESSIVA PARA A PRISÃO DO JAIR BOLSONARO

Com a apresentação de uma impecável denúncia da Procuradoria Geral da República contra o mais alto escalão dos golpistas de 08.01.2023, iniciou-se nesta terça-feira (18) a contagem regressiva para o aprisionamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que, aliás, há muito já deveria ter ocorrido, dada a gravidade dos crimes que ele cometeu. 

Ou para a definitiva desmoralização do Estado brasileiro, pois ficaria comprovado que aqui vige a lei de quem detém o poder econômico, como em qualquer república das bananas.

Isto porque o impeachment de Dilma Rousseff só fez sentido se considerado como o momento em que o Brasil decidiu que suas leis deveriam ser cumpridas integralmente, não cabendo mais a distinção entre contravenções menores que constariam da Constituição Federal apenas como enfeite e crimes mais graves que, apenas estes, justificariam a aplicação de penas pesadas.

Dilma foi impichada porque, ciente de que seu péssimo desempenho econômico no primeiro mandato, se conhecido pela cidadania, comprometeria em muito suas chances de reeleição, resolveu sonegar ilegalmente  dos eleitores as informações que tinha o dever de lhes prestar. 

Sem a camuflagem (pedaladas fiscais) das contas públicas, todos ficariam sabendo que o Brasil marchava para uma aguda recessão logo no ano seguinte, 2015. Ora, Dilma negava exatamente isto e os remédios amargos que se fariam necessários, jurando a seus eleitores que eles escapariam de tais rigores votando nela, mas sofreriam o diabo se o vitorioso fosse o adversário dela.

A
 mentira cabeluda funcionou e ela se reelegeu. Aí, tão logo foi empossada para o segundo mandato, anunciou como seu principal ministro da área econômica o neoliberal Joaquim Levy, incumbido de promover exatamente o arrocho que ela havia prometido que não seria necessário.  

O nome disto é estelionato eleitoral, que constava, sim, da Constituição Federal como motivo suficiente para impeachment presidencial.

Daí eu haver sempre recusado a balela de que Dilma fora derrubada por um golpe de Estado, expressão que os brasileiros identificam com tanques na rua, repressão desembestada, torturas, etc. 

Não, ela havia apenas sido vítima da súbita disposição dos poderosos de fazerem cumprir ipsis litteris os preceitos constitucionais, punindo pra valer aquilo que antes era tido como uma besteirinha que todos cometiam (então seria melhor continuarmos fazendo vistas grossas)...

Por isto eu aconselhei o tempo todo o PT a denunciar a aplicação do critério de dois pesos e duas medidas, mas não abraçar demagogicamente a narrativa do golpe. Um processo de impeachment que em todas as suas etapas cumpriu exatamente o que a Constituição determinava não estava errado em si, o erro foi idêntico rigor nunca haver sido adotado antes, contra presidentes de centro e de direita.  

O precedente de 2016, contudo, torna simplesmente impossível a absolvição ou anistia de Bolsonaro por haver sido o cabeça de uma tentativa golpista de anular o resultado das urnas mediante o uso de muita violência,  cujo ápice seria o assassinato do presidente e do vice eleitos, além de um ministro do Supremo. 

Tendo a PGR comprovado que a possibilidade de virada de mesa caso perdesse a eleição era uma carta na manga de Bolsonaro desde o primeiro dia do seu desgoverno, é inescapável a conclusão de que a vandalização da praça dos Três Poderes não passava de um pretexto para justificar uma intervenção militar que desfizesse o resultado das urnas, mantendo o derrotado artificialmente no poder. 

Para tanto, ele vinha mês após mês preenchendo cargos importantes no governo com militares da reserva ultradireitistas, bem como promovendo alguns da ativa com a mesma orientação ideológica.

Salta aos olhos que a pretendida reprise do golpe de 1964 seria infinitamente mais grave do que o estelionato eleitoral pelo qual a Dilma foi condenada. Portanto, qualquer desfecho que não seja uma dura punição a Bolsonaro mostrará o Brasil errático como um bêbado, ora rigoroso na aplicação de suas leis, ora com uma complacência que beiraria a cumplicidade das autoridades (ir)responsáveis.

Até quando, Bolsonaro, abusarás da nossa paciência? (por Celso Lungaretti) 

4 comentários:

Anônimo disse...

Só para constar:
https://midias.jb.com.br/_midias/pdf/2025/02/18/a_integra_da_denuncia_da_pgr_contra_bolsonaro-1009295.pdf

SF disse...

Grande Celso!
Como você cansou de alertar aqui, bozo segue sendo uma ameaça, na visão do sistema.
Este movimento denota que ele já foi limado.
Seria Tarcísio o próximo trunfo da direita?
Algumas de suas análises fazem crer que sim.
***
Engraçado, ao invés de impichar padim Inácio, irão neutralizar o capitão.
*

celsolungaretti disse...

SF, o pessoal da grana gosta de lidar com serviçais obedientes. Loucos queimam dinheiro, o que para eles é um pecado capital.

P. ex., a sabotagem da vacinação, durante a pandemia, apenas retardou a normalização da vida e dos negócios. Pode ter certeza de que lançaram o prejuízo numa hipotética conta do Bozo... e, em seguida, a fecharam. Deram sinal verde para a Faria Lima lançar o manifesto dos notáveis, que foi a primeira iniciativa deles para o esvaziamento do palhaço sinistro.

Na época muitos minimizaram o ocorrido. Eu fui o primeiro a notar que o setor mais moderno do capitalismo estava dando um basta nos delírios inconsequentes do Bozo e seus bozoides.

O pessoal da grana quer mesmo é mais grana. E só recorre ao fascismo quando sua dominação começa a ser contestada. Restabelecida a ordem natural das coisas, mentecaptos como o Bozo não têm mais serventia e são botados pra escanteio.

Anônimo disse...

Do El País
https://elpais.com/america/2025-02-19/bolsonaro-maniobra-para-que-el-congreso-de-brasil-lo-salve-de-la-carcel.html
Do The Guardian
https://www.theguardian.com/world/2025/feb/19/brazil-jair-bolsonaro-coup

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