Sam Peckinpah (1925-1984), descendente de índios paiutes, foi um dos meus diretores favoritos de um tipo de cinema que teve seu apogeu na segunda metade do século passado e hoje quase não existe mais.
Refiro-me aos filmes de ação que, embora satisfizessem as expectativas de plateias menos sofisticadas, tinham embutidos ingredientes que agradavam em cheio aos cinéfilos mais exigentes.
Ou seja, dependendo do perfil de quem os assistia, podiam ser vistos apenas como espetáculos ou como muito mais do que isto.
Peckinpah nos brindou com um belo lote dessas pequenas obras-primas: Pistoleiros do entardecer (1962), Meu ódio será sua herança (1969), Sob o domínio do medo (1971), Pat Garrett e Billy the Kid (1973), Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia (1974)...
A perfeição com que ele filmava cenas violentas lhe valeu injustas críticas de ser apenas uma prostituta explorando os baixos instintos das plateias, quando, na verdade, era o contrário.
O cinema estadunidense sempre banalizara a morte, como se fosse algo silencioso, indolor e inodoro: o mocinho atirava, os bandidos tombavam, o tiroteio terminava, e esta parecia ser a ordem natural das coisas.
Não para Peckinpah: com sua câmara lenta e uma duração bem maior dessas agonias, a morte de seus personagens era quase sempre mostrada como um acontecimento terrível, sofrido, único.
Cruz de Ferro (1977) é uma das culminâncias de sua obra, ao mostrar os dramas internos de um destacamento de soldados alemães prestes a serem destruídos pela contra-ofensiva soviética, quando o curso da segunda guerra mundial já começava a mudar.
A novela de Willi Heinrich, que conheceu como soldado os episódios transpostos para a tela, é poderosa; e a adaptação de Peckinpah e seus roteiristas, simplesmente primorosa.
Flagra o choque de dois personagens empenhados num duelo mortal em meio ao caos dà derrota iminente:
-- um capitão de origem prussiana (Maximilian Schell) que, para satisfazer as expectativas familiares, precisa voltar para casa com uma Cruz de Ferro conquistada no campo de batalha, caso contrário desonrará as tradições dos seus antepassados; e
-- um cabo heroico (James Coburn) que preza acima de tudo o companheirismo com seus comandados, ao mesmo tempo em que detesta os oficiais.
-- um cabo heroico (James Coburn) que preza acima de tudo o companheirismo com seus comandados, ao mesmo tempo em que detesta os oficiais.
James Mason, David Warner e Senta Berger também compõem personagens inesquecíveis. É um filmaço! (por Celso Lungaretti)
Nenhum comentário:
Postar um comentário