domingo, 27 de outubro de 2024

NEM TUDO ESTÁ PERDIDO, BOULOS!

Típica foto da fase papagaio de pirata do Boulos
G
uilherme Boulos é um raro espécime da política convencional que escreve muito bem, tanto em termos de estilo quanto de consistência do conteúdo. Daí eu ter lido quase todos os textos por ele publicados no período 2014/2017, como colunista semanal da Folha de S. Paulo
.

Também, pudera! É bacharel em filosofia e mestre em psiquiatria, ambos pela USP, o que certamente o ajuda a pensar a sociedade. 

Mas, como tenho visto em muitos scholars, as boas análises teóricas não lhe serviram muito para agir sobre a sociedade.

Assim, as esperanças que cheguei a depositar nele logo se tornaram decepções. Ao invés de insistir na mobilização dos excluídos fora do jogo viciado e vicioso da democracia burguesa, foi deixando em segundo plano as ocupações dos sem-teto e apostando cada vez mais suas fichas em candidaturas para o Executivo que, mesmo se houvessem triunfado, não o teriam levado a lugar nenhum.

Assim, não se elegeu presidente da República em 2018, nem prefeito de São Paulo em 2020 e (não terei melindres, pois a derrota é inevitável e detesto manter aparências) agora em 2024. 

E se vencesse, de que adiantaria? Governar o país submetido à camisa de força imposta pelo poder econômico ou governar a cidade sob a mesmíssima limitação, na prática, significa apenas gerenciar as propriedades da classe dominante por deferência da mesma que, se lhe der na telha, aplicará um pé na bunda do serviçal saído das urnas para botar qualquer outro em seu lugar.
A fase de eleger postes já havia terminado 

Foi o que fez com Goulart e Dilma, despojando-os de suas faixas presidenciais para entregá-las àqueles que tinham os votos da caserna ou àquele que era vice também em matéria de escrúpulos. 

E o pior de tudo é que, seduzido por uma miragem de poder, Boulos desempenhou o melancólico papel de bajular o reformista/populista Lula de forma desmedida (houve tempo em que aparecia como papagaio de pirata em boa parte das fotos do dito cujo), sonhando com ser por ele apadrinhado. Nem sequer percebeu que a fase de Lula eleger ou reeleger postes terminara em 2014. 

E não foi só o próprio prestígio que Boulos comprometeu. Graças a ele, o Psol cumpriu a ridícula trajetória de ter nascido como alternativa ao domesticado PT e acabar tornando à casa paterna como bom filho

Só mudou o status. Antes seus dirigentes pertenciam à agremiação que era vermelha e foi virando lilás, agora são apenas um puxadinho da mesma.

Mas, Boulos, nem tudo está perdido: tamanha é a dificuldade que a esquerda brasileira está tendo para forjar os líderes dos quais desesperadamente carece que, se você botar a mão na consciência e repensar suas opções, poderá ainda desempenhar um papel histórico digno. 

Seu verdadeiro trunfo agora é a idade. Aos 42 anos, sobra-lhe tempo para reassumir a missão de transformar em profundidade nossa sociedade, ao invés de continuar apenas ajudando a maquilar a dominação burguesa, para que pareça menos execrável e possa continuar desgraçando indefinidamente nosso sofrido povo. 

A escolha é sua. (por Celso Lungaretti

4 comentários:

Henrique Nascimento disse...

O poste atual do Lula é a Sra. Janja. Como o marido se recolheu pra não se expôr, colocou a madame pra soltar umas abobrinhas.

celsolungaretti disse...

A falta de humildade do Lula, a dificuldade em reconhecer e aceitar suas limitações, é simplesmente chocante.

Percebe-se claramente que ele não deveria mais estar presidente hoje em dia, no entanto, mesmo assim, o Lula ainda ambiciona um quarto mandato.

Se nem no terceiro está dando conta do recado, imagine em 2027, quando já for octogenário.

Henrique Nascimento disse...

Com as particulartlidades dos momentos históricos vividos por ambos, Getúlio Vargas e Lula têm muitas características em comum. Ambição é a palavra-chave. No entanto, como você já vem pontuando, aquilo aconteceu ao primeiro da segunda vez que tentou ser o pai dos pobres, é altamente provável que Lula nem cheguei ao fim desse mandato , pelas pressões vindas dessa turma que hoje domina o Congresso estados e municípios e/,ou pelas suas limitações físicas e emocionais (a queda recente já mostra muito bem).

celsolungaretti disse...

Só não consigo imaginar o Lula se matando para evitar uma derrota humilhante. A única coisa que admiro no Vargas é ele ter entregado a vida para virar o jogo na enésima hora, da única forma que restava. Tinha um senso de grandeza inacessível ao Lula, que foi capaz de atravessar a pandemia inteira sem dar as caras numa única manifestação #ForaBolsonaro sequer.

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