sábado, 16 de março de 2024

A ELEGIBILIDADE DE TRUMP E A NATUREZA DA DEMOCRACIA BURGUESA

 

Pelo critério da Suprema Corte dos Estados Unidos e de Trump, Al Capone poderia ter sido Presidente dos Estados Unidos.  

Tenho me perguntado sobre as razões de grande parte da população prestar apoio a personagens como Donald Trump e Jair Bolsonaro, entre outros que poderiam ser citados, representantes assumidos do que há de mais perverso na relação social sob a égide da forma-valor, com defesas implícitas ou explícitas em suas ações de governo de teses retrógradas, quais sejam:  

- genocídio; 

- xenofobia nacionalista; 

- misoginia; 

- racismo supremacista; 

- razão da força contra a força da razão expressa em armamentos e despotismo político militarista direto ou indireto; 

- concentração, nas mãos de poucos, das riquezas abstrata e material produzidas coletivamente; 

- da intransigente e hipócrita defesa do feto quando não defendem a vida de imigrantes desesperados que arriscam a vida em arriscadas travessias, ou grandes contingentes de mortes por desnutrição e falta de assistência médica dos filhos de desempregados mundo afora - como agora em Gaza -, entre outras formas de exclusões sociais, etc., etc., etc. 

Se quisesse traduzir em poucas palavras a resposta à minha auto indagação diria que tal comportamento deriva de um fenômeno capitalista conhecido como fetichismo da mercadoria!   

As pessoas adoram as mercadorias porque são elas que se constituem, na era do capitalismo hegemônico - não há nenhum país do mundo que não tenha adorado a forma-valor como modo de relação social -, como aquilo que satisfaz as suas necessidades de consumo.  

Normalmente não se estabelece a diferença entre o objeto natural, que tem apenas valor de uso e é capaz de satisfazer a necessidade de consumo, e a mercadoria, que tem, concomitantemente, valor de uso e valor de troca, e é aí que reside o problema. 

Idolatram o dinheiro, a mercadoria das mercadorias, expressão da abstração forma-valor, a única mercadoria que não tem valor de troca em si, mas é capaz de comprar todas as outras mercadorias.  

Idolatram o que desconhecem.  

Se se pedir a qualquer transeunte anônimo que dê uma definição do dinheiro, objeto de sua idolatria e ao qual é obrigado à sua obtenção numa busca diária e permanente, quando muito ele poderá dizer - se for alguém com bom nível de escolaridade - que ele é apenas um benéfico facilitador das compras e vendas de mercadorias, ou seja, um mero instrumento, tal como um garfo ou uma colher na hora da refeição.  

Se se perguntar algo mais complexo, como e por que de uma cédula de R$ 10,00 comprar dez vezes menos mercadorias que uma cédula do mesmo tamanho de R$ 100,00, ele certamente dirá que é o governo quem assim o determina, e pronto.  

As pessoas em geral não entendem que o dinheiro, expressão materializada numericamente da abstração valor, é aquilo que promove e materializa a apropriação indébita pelo capital dele mesmo, num movimento tautológico e sem sentido de autorreprodução cumulativa ad infinitum, e que priva a pessoa assalariada e explorada do acesso integral à riqueza abstrata socialmente e coletivamente produzida, e consequentemente do acesso à riqueza material de que necessita.   

Portanto, o dinheiro, objeto sacral na sociedade capitalista, é um pernicioso estranho no ninho.  

Fiz essa digressão explicativa sobre o escravista móvel da relação social ao redor do mundo para dizer que, tal como o dinheiro, objeto de idolatria e desconhecimento, há um paralelo com a  a crença ingênua nas pessoas que se apresentam como salvadores da pátria do tipo Donald Trump e Jair Bolsonaro, que mais parecem encarnar na vida pública perante os seus eleitores o sonho dos apostadores da loteria almejando ganhar os milhões da mega sena.  

O Brasil está eleitoralmente divido entre o ilusionista genocida, a quem chamo de Boçalnaro, o ignaro, e o socialdemocrata Lula, como se fossem projetos antagônicos na essência constitutiva de base primária, quando na realidade não são.  

Não nos esqueçamos que sob a égide do capital, Hitler assumiu o poder pelo voto; Vladimir Putin, também, entre tantos outros. 

A direita resgata velhos temas liberalistas que nasceram com Adam Smith no século dezoito e vêm sendo reciclados com aparência de algo novo nesta fase de ocaso da lógica do capital, que iludem os conservadores, conscientes ou inconscientes, ávidos por uma volta ao passado que foi menos ruim do que o presente.  

A socialdemocracia de centro e de esquerda institucional tenta humanizar o capital nesta mesma fase e sem questionar a sua essência constitutiva predatória e escravista, provocando uma falsa dicotomia entre projetos politicamente diferenciados, mas similares quanto ao modo de produção social adotado, ambos subtrativos pelo capital da riqueza socialmente produzida.    

A direita se fortalece com a falta de respostas sociais de projetos de humanização do capital dos seus pretensos antagonistas justamente porque não se pode querer transformar Mefistófeles em Santo. 

O desconhecimento da essência da lógica do capital, até por quem se diz marxista, é o que faz muitos bem-intencionados da socialdemocracia e seus membros socialistas mais combativos a proporem soluções como a inexequível taxação dos grandes capitais empresariais, ou a estatização dos meios de produção para que seja o Estado o patrão de todos, entre outras proposições de cunho pretensamente humanistas, como se fosse possível alterar a essência feia de um monstro com intervenções cosméticas.  

Assim, o medo de péssimo impele à aceitação do ruim por alguns, e por outros à aceitação de propostas políticas conservadoras e anticivilizatórias, inconscientemente ou não.  

Romper com essa camisa de força em face da barbárie mundial e brasileira que se evidencia por conta do anacronismo de um modo de relação social que atingiu o estágio de obsolescência dos seus fundamentos básicos, não é uma tarefa fácil, e nem pode ser operada, como querem muitos, por ideias de harmoniosa convivência político-institucional com os opostos, como forma pretensamente moderna de superação dos problemas sociais. 

O resultado de tal tentativa “bem-intencionada” e pela via eleitoral, é que o faz com que figuras como Donald Trump, Jair Bolsonaro e Javier Milei, entre muitos outros mundo afora, se apresentem abertamente com armas em punho e defendam teses nacionalistas, xenófobas, racistas e supremacistas, misóginas, genocidas, elitistas, e recebam considerável apoio desavisados uns, e bem espertos outros.      

A nosso favor está a certeza de que se pode viver socialmente em paz, com a contribuição de todos de modo equânime, e sob a égide de um projeto social que busque a justa distribuição da produção social sob uma ordem horizontal de relação social.  (por Dalton Rosado)

2 comentários:

Neves disse...

do El Pais "¡Libertad (y pobreza), carajo!"...
https://www.4shared.com/s/fpu2gG_XQku

Neves disse...

https://www.ihu.unisinos.br/637529-golpe-de-1964-completa-60-anos-insepulto-entrevista-com-denis-de-moraes?utm_campaign=newsletter_ihu__18-03-2024&utm_medium=email&utm_source=RD+Station

https://www.ihu.unisinos.br/637509-ihu-cast-o-golpe-civil-militar-de-64-impactos-des-caminhos-processos?utm_campaign=newsletter_ihu__18-03-2024&utm_medium=email&utm_source=RD+Station

Related Posts with Thumbnails