As ilusões jurídicas camuflam a impotência política e mais uma vez estamos diante de um espetáculo ruidoso, pirotécnico, mas possivelmente infrutífero. A esquerda, ou o que restou dela, não possuí qualquer tipo de força para derrotar socialmente a extrema-direita, daí precisar da ação canhestra das instituições burguesas, sempre propícias a agir de acordo com os interesses momentâneos e na salvaguarda maior da propriedade privada.
Ora, é mais que clara a existência de um movimento golpista junto às hostes bolsonaristas pois o próprio bolsonarismo nasceu da corrente mais extremada da ditadura militar, corrente que nunca deixou de se lamuriar pela redemocratização através de análises, discussões e circulares do clubesco militar, espécie de grêmio recreativo dos milicos de pijama. No entanto, o golpismo aqui e agora nunca fez parte da estratégia atual dos militares em sua volta ao poder, pois há muito se articularam em torno de um processo de tomada do Estado via eleições, paulatinamente. Assim, a tramoia desvendada não conseguiu o apoio necessário justamente porque não estava nos planos um golpe militar clássico.
Talvez nunca saibamos dos detalhes do grande acordo nacional que libertou Lula e selou a "Frente Ampla". |
Para os militares, a democracia brasileira é apenas tolerada dentro de certos limites. Lula respeita plenamente tais limites e é tão submisso aos milicos quanto um cãozinho ao seu dono. Ele também é o mais humilde servo dos capitalistas e do imperialismo, cumprindo fielmente o programa neoliberal de ferrar o povo para salvar os bilionários. Então, qual o sentido de dar um custoso golpe contra quem não é nem de longe ameaça a nada?
Mais ainda que Lula tinha, e tem, o apoio de fatia de peso dos capitalistas brasileiros, a mesma que o colocou em cana em 2018, mas o retirou da cadeia posteriormente quando o plano Alckmin fracassou rotundamente nas urnas. Sua saída foi possível mediante um grande acordo nacional - nas imortais palavras de Romero Jucá -, cujo teor ainda nos escapa, envolvendo STF, mídia, bancos, EUA e uniu o resto do antigo PSDB ao lulismo. O perigo era Bolsonaro e sua fúria disruptiva que, aceita, colocaria o país em um turbilhão incontrolável. Quem sabe o que poderia acontecer caso o ímpeto revolucionário do bolsonarismo fosse executado? A burguesia brasileira, por sua origem comercial e mercantilista, sempre foi avessa ao risco e prefere sempre dar o passo de forma absolutamente segura.
No entanto, estamos assistindo a um filme sem qualquer originalidade, igual aqueles enlatados de Hollywood. Os personagens são diferentes, o enredo também, o tema é outro, mas a dinâmica é a mesma. Se trata do padrão lava jato reaplicado, mas agora pela democracia. A lava jato terminou com os corruptos e corruptores de volta ao mesmo lugar em que estavam. A operação pela democracia terá o mesmo destino? O tempo dirá.
Preso, ficou ainda mais popular. No fim, os mesmos que o prenderam o puseram no poder. |
Nesse sentido, é desalentador as tendências atuais. Longe do militarismo, um dos pilares do bolsonarismo, ser enfraquecido, ele tem sido reforçado, com uma nova lei orgânica das Polícias Militares, aprovada por Lula, que amplia a inserção e o escopo dos militares na vida brasileira. As igrejas evangélicas, segundo pilar do bolsonarismo, seguem a todo vapor e acabam de conseguir mais isenções fiscais junto a Lula. Por fim, o coração econômico do bolsonarismo, o agronegócio, tem ampliado seu poder no país, a ponto de ter sua própria propaganda doutrinária na TV Globo.
No verdadeiro campo de batalha, estamos perdendo a guerra, enquanto acreditamos que os barulhos de fogos de artifício se igualam a sons de canhões. (por David Coelho)
Um comentário:
Excelente análise, David.
Na vdd, os milicos come-e-dorme sempre têm um plano B pra resguardar a instituição FFAA.
Como alguém já disse, os milicos viram no bozo um cavalo para chegar ao poder. Ao mesmo tempo em que o bozo é uma espécie de para-raios dessa instituição.
E já escrevi aqui uma vez que quase nada melhorou pra classe trabalhadora desde a redemocratização.
Aliás, algumas coisas estão piores, por exemplo a aposentadoria.
Ora, já se foram 14 anos de lulopetismo nesse período, portanto vivemos a política do "bode na sala".
A direita arrocha o trabalhador (bode na sala), aí volta o lulopetismo que promete picanha e cerveja (tira o bode da sala) mas nada muda pro trabalhador. Só piora com a superexploração do trabalho e aumento das margens de lucro, além da drenagem dos recursos públicos pro rentismo.
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