sábado, 27 de janeiro de 2024

SÓ ROBERT ALTMAN SERIA CAPAZ DE FAZER UM WESTERN DETONANDO AS ILUSÕES LIBERAIS E O EMPREENDEDORISMO

O empreendedor que desenvolve um novo mercado e sua experiente gestora de corpo-de-obra
Cineasta estadunidense que só obteve o merecido reconhecimento a partir da Palma de Ouro conquistada no Festival de Cannes de 1970 com M.A.S.H., Robert Altman (1925-2006) estava em grande forma ao realizar, no ano seguinte, Onde os homens são homens, uma parábola sobre as ilusões liberais, ambientada numa remota cidade mineira do velho Oeste.

Obrigado até então a limitar-se a trabalhos mais convencionais, Altman pôde dar vazão à sua visão crítica e sarcástica do Tio Sam e do american way of life quando a melhor juventude dos EUA se insurgiu contra a Guerra do Vietnã e o establishment como um todo.

Sua sátira devastadora à intervenção estadunidense no Vietnã, mesmo que fingindo referir-se à Guerra da Coréia, foi o chamado filme certo na hora certa, granjeando-lhe prestígio mundial. 
No mundo dos negócios às vezes surgem imprevistos... 

O novo status lhe garantiu um bom período de liberdade para fazer as obras autorais que sempre quis realizar, com destaque para Voar é com os pássaros (1970), O perigoso adeus (1973), Nashville (1975), Cerimônia de casamento (1978), Quinteto   (1979) e Popeye (1980).

Onde os homens são homens, título brasileiro que dá uma ideia totalmente inadequada de McCabe & Mrs. Miller, mostra Warren Beatty como um jogador que não chegou aonde queria com o baralho e decide fazer outro tipo de aposta, tornando-se empreendedor.

Como não muitos dos seus congêneres atuais, ele se mostra hábil em identificar oportunidades de negócio, desenvolver ideias inovadoras e criar um novo empreendimento:  vai montar um bordel mais sofisticado numa cidadezinha com clientes endinheirados, mas mal servidos desse item de consumo.

Como não saberia lidar com as funcionárias, ele de pronto aceita a oferta de sociedade de uma especialista no gerenciamento desse corpo-de-obra (Julie Christie), acabando por manter um quase-romance com ela, o que não a impede de cobrar dele também os serviços especializados que igualmente lhe presta.
...que obrigam o empresário a improvisar.

Mas, antes mesmo de seu sucesso na nova atividade lhe proporcionar prêmios de
empresário do ano, ele se vê pressionado por uma grande corporação, que, atraída por aquele florescente mercado, decide nele instalar-se, adquirindo um negócio já montado por uma quantia inferior à que realmente vale.

Então, McCabe cai na besteira de ir numa cidade grande consultar-se com um advogado pomposo, que, seguindo à risca a cartilha liberal, o aconselha a resistir, pois tem a lei a seu lado. 

Na volta, descobre que os poderosos se lixam para a lei e, quando não conseguem o que querem graças às suas vantagens competitivas, tratam de eliminar a concorrência (inclusive fisicamente). 

Ele se vê, assim, obrigado a defender a liberdade de empreender com armas, contra três pistoleiros que são bons conhecedores do ofício. 

E ninguém dá a mínima importância para seu duelo solitário na cidade gelada, exceto Mrs. Miller, a sua sócia, que, entristecida, droga-se enquanto ele está lutando não só pela sobrevivência no mundo dos negócios, como também pela vida.

Ironias à parte, é um belíssimo faroeste outonal, com sua melancolia realçada por uma magistral  trilha sonora de Leonard Cohen. (por Celso Lungaretti)  

As legendas são em espanhol, opção que restou, pois o filme é raro.
 

Também legendada em espanhol, The stranger song (a canção dos títulos)

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