Dia 21 de janeiro último completou-se 100 anos da morte de Lênin, o grande líder da revolução russa. Mais que celebrar sua memória ou falar de seu pensamento, a data apenas me evocou o quanto em um século o mundo ficou pior e a revolução socialista foi totalmente derrotada em todos os cantos do planeta.
Tal sentimento de desalento e de pessimismo me fez não escrever nada no dia 21, pois simplesmente se prestar à exaltação à sua memória seria fazer mais verborragia, em pouco acrescentando às inúmeras análises encontradas por aí.
A URSS que deveria ter encaminhado o novo mundo sem classes e sem Estado logo após a morte de Lênin se afundou na contrarrevolução estalinista, gerando um dos regimes mais despóticos do século XX. Pior, pois acabou servindo de modelo para outros regimes no mundo, além de contribuir decisivamente para a deturpação do pensamento marxista. O resultado desse processo foi o afastamento de grandes parcelas das massas trabalhadoras dos países europeus e dos EUA do socialismo, pois passaram a associa-lo à ditadura e à repressão, impedindo o avanço da revolução para os decisivos países centrais do capitalismo.
Pela inflexão vivida após a derrota da revolução russa, os movimentos socialistas acabaram no século passado atravessados por duas tendências conflitantes: as organizações burocratizadas, associadas à URSS, e os movimentos independentes que buscavam um caminho alternativo sem, contudo, alcançar um nível decisivo de condução dos processos políticos. A uns faltava democracia, a outros organicidade.
Nesse embate interior às forças socialistas, o capital conseguiu avançar, transformando-se e ampliando-se. Concedeu aqui e ali melhorias pontuais às populações, caso da experiência do Estado de Bem-Estar Social na Europa, retomadas posteriormente quando o contexto lhe era mais vantajoso. Quando finalmente o Muro de Berlim caiu e a URSS desapareceu, resultado das complexas contradições acumuladas nos regimes estalinistas, o capitalismo se acreditou plenamente vitorioso e o socialismo foi escorraçado do mundo como coisa jurássica.
O resultado do triunfo capitalista pode ser visto hoje por qualquer um: milhões morrem de fome e não possuem casas, mesmos nos EUA e em países europeus; as guerras explodem descontroladamente; o egoísmo e a podridão humanas crescem vertiginosamente; o meio ambiente é destruído e ecossistemas inteiros são varridos do mapa; a xenofobia, o racismo, a homofobia, a violência e a crueldade se tornam elementos comuns do dia-a-dia; o irracionalismo chegou ao nível de se negarem o uso de vacinas; etc.
Na realidade, a dita vitória do capitalismo só pode levar à devastação e desumanização total. Estamos hoje mais próximos de uma Era de barbárie extrema e depravação completa da vida e poderemos assistir ao nascimento de um dos momentos mais terríveis da história humana e do próprio planeta. O capital é incontrolável e busca o crescimento infinito, custe o que custar. Por isso, nenhuma alternativa reformista ou de controle do capitalismo jamais terá efeito, nenhuma lei ou legislação fará o capitalismo refrear seu ímpeto desumano e aniquilador. O capitalismo é força material irrefreável e só pode ser parado com sua destruição completa, mas sua destruição só é possível mediante a revolução socialista.
Após um longo período hibernando, o socialismo retorna à cena, mas ainda indeciso e sem clareza. O peso do passado ainda cobra forte ônus e a desesperança do presente imobiliza. É preciso, no entanto, se fiar nas palavras de Marx, de que a revolução não tira sua poesia do passado, mas do futuro. O que devemos fazer, portanto, agora, não deve ser uma repetição do já feito, mas aquilo que melhor possa nos conduzir a um futuro luminoso, mais humano e pleno.
Respostas para como fazer isso não são fáceis, mas acredito que o primeiro passo é perder as esperanças. Sim, as esperanças de que um mundo capitalista possa nos dar algum futuro, pois não dará. O segundo passo, e decisivo, é ter clareza de que nossa missão revolucionária não diz respeito apenas a nós pessoalmente, mas ao futuro do próprio gênero humano e, por isso, só pode ser conduzido com a consciência da gravidade histórica vivida por nós neste começo de século XXI: ou transitamos para o socialismo ou não haverá mais nada. (por David Coelho)
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