quinta-feira, 23 de novembro de 2023

QUANDO A ONU CONDENOU O SIONISMO


N
estes dias de guerra, quando Israel bombardeia Gaza e causa milhares de mortes de civis, em represália aos atentados cometidos pela organização terrorista Hamas, provocando manifestações internacionais, certas palavras destacam-se na imprensa mundial como sionismo, antissemitismo e islamofobia. Vamos tratar do sionismo.

Pouca gente se lembra de que a ONU, mesmo tendo sido criadora do Estado de Israel - que já deveria conviver com um Estado palestino vizinho -, condenou o sionismo, a ideologia e o movimento que uniu os judeus pela criação de Israel.

Ora, isso ocorreu no dia 10 de novembro de 1975, na Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque. O Brasil estava sob a ditadura militar, o presidente era Ernesto Geisel, luterano e filho de imigrantes alemães, e votou pela condenação do sionismo, indiretamente contra Israel, junto com Cuba, China, URSS e outros 69 países, se demarcando do voto dos Estados Unidos.

Os militares olhavam os judeus com desconfiança, pois muitos deles condenavam ou lutavam contra a ditadura. Durante outra ditadura, a de Vargas, o líder comunista Luís Carlos Prestes esteve preso durante nove anos e sua esposa, Olga Prestes, alemã e judia, também foi presa. Grávida, em 1936 foi deportada para a Alemanha nazista, ficou nos campos de trabalho forçado para judeus e morreu aos 34 anos numa câmara de gás.

A jornalista Marina Lemle, do blog HCS-Manguinhos, publicou, em maio de 2014, uma importante reportagem sobre um seminário realizado no Instituto de História da UFRJ, “Judeus, militância e resistência à ditadura militar”. O título da reportagem é bastante revelador: “Judeus que resistiram à ditadura eram secularizados”.

Participaram alguns nomes importantes da esquerda judaica, como Bernardo Sorj, Bila Sorj, Jeffrey Lesser, Marcos Chor Maio, Roney Cytrynowicz, Roberto Grun e Alberto Dines.

“Dines contou que a comunidade judaica era claramente dividida entre os “roite idn” (judeu vermelho, em ídish) e os não “roite”. Segundo ele, a vida judaica de esquerda no Brasil era muito intensa e corria separada da vertente sionista”.

Dines contou também terem desaparecido durante a ditadura militar os judeus Ana Rosa Kucinski Silva, Mauricio e André Grabois - pai e filho -, Chael Schreier, Gelson Reicher, Pauline Philipe Reischtuhl, Vladimir Herzog e Yara Iavelberg.

Provavelmente, estes judeus seculares também teriam concordado com a definição de sionismo, dada pela ONU, Resolução 3379, que considerou o sionismo como forma de racismo e discriminação racial.

A aprovação da Resolução 3379 teria sido também uma condenação da decisão israelense de permanecer nos territórios ocupados na Guerra dos Seis Dias, como resultado da ascensão política do terceiro-mundismo e da legitimidade da causa palestina.

Nessa época, há 48 anos, os evangélicos – que se identificam com a história bíblica do povo judeu, são de extrema direita e apoiam Netanyahu e Israel contra os palestinos – não possuíam a mesma força religiosa de hoje para influir no voto do Brasil.

Em 1991, com o fim da guerra fria, a maioria dos países não árabes mudou o voto e anulou a Resolução 3379, votando a Resolução 4686, cujo texto é o mais sucinto da história da ONU. Só diz o seguinte: a Assembleia Geral decide revogar a determinação contida na resolução 3379 de 10 de novembro de 1975. (por Rui Martins)

 

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