O debate em torno da luta palestina é atravessado de desinformações e superficialidades, induzidas pela mídia à serviço dos EUA. As análises superficiais rondam em torno das ações do Hamas que são magnificadas e exploradas sem qualquer tipo de criticidade ou contextualização. Ao mesmo tempo, as ações do Estado de Israel e seus crimes são desconsiderados ou justificados com a desculpa de serem apenas respostas ao terrorismo.
Nós sabemos muito bem o quanto a chamada Guerra ao Terror tem servido há mais de duas décadas para justificar todo tipo de ação bárbara e arbitrária no Oriente Médio, além de práticas autoritárias e que beiram ao estado de sítio nos países ocidentais. Tal como o combate ao crime nos países da América Latina, a luta contra o terrorismo tem sido usada pelos governos da Europa e dos EUA para impor medidas de exceção, ampliar gastos militares e relativizar direitos fundamentais.
A ideia do terrorismo sempre foi usada pelo staus quo para difamar grupos insurgentes e jogar a população contra eles. É um meio sobretudo de propaganda e praticamente todo grande grupo contestatório já foi qualificado de terrorista, desde os Panteras Negras até os movimentos anticoloniais, passando pelo movimento dos direitos civis nos EUA e pelos resistentes à ditadura no Brasil e países vizinhos.
Embora não compactuemos com os métodos do Hamas e tão pouco com sua posição religiosa fundamentalista, não podemos simplesmente fazer eco ao discurso ideológico da mídia burguesa, de seus jornalões reacionários e de seus jornalistas alugados. É preciso entender, antes, como é possível existir um grupo igual o Hamas e porque parte dos palestinos chegou ao desespero de usar métodos de luta praticamente suicidas.
Primeiramente, é preciso considerar que o Estado de Israel é uma aberração histórica, fruto de uma ideologia artificial chamada sionismo que defende o ressurgimento de um mítico país israelense na Palestina. De fato, tal país jamais existiu na região e boa parte dos atuais moradores de Israel são originários da Europa e dos EUA, tendo sido para lá transplantados após a fundação do Estado. Muito menos são sobreviventes do Holocausto, pois a maioria desses continuou a viver na Europa.
Na realidade, Israel foi criado para ser um enclave militar das potências ocidentais, lideradas pelos EUA, após o fim da Segunda Guerra e no processo acelerado de descolonização da Ásia e da África. Foi o meio encontrado para manter a presença imperialista em uma região estratégica do mundo, em um contexto que a URSS avançava com seu apoio às lutas anticoloniais.
Israel só pode ser fundada com o deslocamento forçado de milhões de palestinos que habitavam a região há milênios. Nenhum deles foi consultado a respeito do surgimento do novo país e da vinda em massa de milhões de colonos europeus e estadunidenses. O processo lembra em praticamente tudo as ações de remoção forçada de populações feitas durante a Segunda Guerra e anteriormente. Começava ali a resistência palestina à ocupação israelense.
Na verdade, Israel é um país frágil. Possui economia fraca, poucos recursos e vive em permanente estado de guerra. Quem mantém o país é sobretudo os EUA, com subvenções bilionárias, armamentos, tecnologia e produtos manufaturados. Sem tal ajuda, é impossível Israel se manter.
O grande problema é que nos últimos anos tal ajuda tem sido questionada severamente nos Estados Unidos. Muitos argumentam ser um contrassenso ajudar um país estrangeiro enquanto a própria população estadunidense pena com o a fome e condições deterioradas de vida. Ao mesmo tempo, forte movimento de apoio à causa palestina tem crescido e pressionado contra a ajuda. Por isso, o volume da ajuda diminuiu consideravelmente.
Muito da crise vivida em Israel hoje é devido a essa diminuição de recursos, levando a um quadro crescente de insatisfação popular que pegou em cheio o governo de Netanyahu com manifestações massivas desencadeadas por sua tentativa de controle do Judiciário. Com os ataques do Hamas, ele poderá virar a situação, a depender se o dinheiro voltará a fluir com mais intensidade ou não.
Uma grande ofensiva israelense contra Gaza nesse momento é uma forma de Netanyahu assumir liderança e enfraquecer cobranças contra si. Certamente será um massacre imenso contra o povo palestino, incapaz de fazer frente ao poderio bélico de Israel. O terrorismo de estado elevado à enésima potência não será condenado ou repudiado pela mídia, mas certamente será justificado, sendo seus excessos aceitos.
No entanto, por trás da ação israelense não existe qualquer justificativa válida, mas apenas o rolo compressor do imperialismo capitalista. No fim, milhões serão massacrados, não por causa da terra supostamente prometida a um povo, mas pelo lucro de pouquíssimos. (por David Emanuel Coelho)
Um comentário:
Não há nenhuma ameaça real a Israel.
Não faz sentido a invasão.
A lógica é continuar com o bloqueio e bombardeios seletivos.
Natanael não tão idiota assim para invadir, ou é!?
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