quinta-feira, 5 de outubro de 2023

A EXECUÇÃO DOS MÉDICOS PODE SER MUITAS COISAS. INCLUSIVE O INÍCIO DE ESCALADA TERRORISTA CONTRA A ESQUERDA EM GERAL

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Nessa manhã de louco
Todo mistério é pouco
Espuma de sangue a brilhar"
(Jards Macalé, Só Morto)
Uma regra de ouro para jornalistas é jamais abraçarem de imediato uma das possibilidades de interpretação de alguma ocorrência que comporta outras. Há chance não desprezível de passarem vexame adiante. 

À primeira vista, o bestial assassinato de três médicos num quiosque da Barra da Tijuca (RJ) parece ser uma retaliação contra o Psol como um todo, contra a deputada federal Sâmia Bonfim em particular, ou contra ambos.

Mas, há uma diferença marcante com relação à execução da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Franco: ela não se tornou alvo por ser de esquerda, por militar no Psol, por preconceito racial ou sexual, mas sim porque concretamente combatia as milícias do RJ e denunciava as suas práticas criminosas.

Caso não se comprove que a deputada Sâmia Bonfim ou seu companheiro Glauber Braga estava colocando em risco os negócios dos milícianos de estimação da família Bolsonaro ou a impunidade desse bando ignaro,  a coisa pode ser ainda mais ameaçadora.

Pois, se o motivo da matança tiver sido apenas o fato de uma das vítimas, o ortopedista Diego Ralf de Souza Bomfim, ser irmão de Sâmia, então este poderá ser o começo de uma escalada terrorista contra a esquerda em geral, atingindo, inclusive, parentes, amigos e conhecidos. 

Pior, impossível! Quase um século depois, estaríamos prestes a ver repetidas por aqui as chacinas dos gangsters de Chicago, que não poupavam nem mulheres e crianças em suas retaliações e intimidações. Seria o eclodir do ovo de serpente que o palhaço psicopata chocou durante quatro anos.  

Mas, muita calma nesta hora! 

Antes de  reagirmos ao cenário mais terrível, temos de considerar a possibilidade de que a tríplice execução haja tido outro motivo, desde mero engano na escolha dos alvos até uma queima de arquivo, sabe-se lá por qual motivo. 

O certo é que, parafraseando o saudoso Jards Macalé, a espuma de sangue brilha cada vez mais na manhã deste Brasil de louco. (por Celso Lungaretti) 

2 comentários:

SF disse...

Acertou, Celso.
Noticiaram que foi engano. Pensaram que estavam matando o miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa. Deu no G1.

celsolungaretti disse...

Muitos jornalistas e internautas parecem querer que o circo pegue fogo. Enquanto parecia tratar-se de um novo Caso Marielle, o interesse pelo assunto é enorme. Quando se percebeu que os pistoleiros tinham apenas atingido alvo errado, ficou relegado a episódio secundário.

No entanto, se fosse mesmo um atentado político, seria péssimo, tudo de que não precisamos neste momento.

As pessoas de esquerda, principalmente, deveriam se dar conta da importância da CORRELAÇÃO DE FORÇAS. Confrontos podem convir-nos quando temos como sustentá-los; mas, se a perspectiva é de sermos esmagados, o racional é os evitarmos tanto quanto possível.

Isto não é Marx, é Clausewitz: quem escolhe o momento e o local da batalha já obtém uma vantagem inicial que, às vezes, pode ser decisiva.

Agora, uma radicalização só serviria para dar à extrema-direita uma chance de sair das cordas.

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