sábado, 9 de setembro de 2023

SEPULTAMENTO DA LAVA JATO SERVE AO PROJETO BURGUÊS NO BRASIL


 Quando me pergunto por que Lula foi o primeiro Presidente da República do Brasil preso, por decisão judicial ou não, somente me vem à cabeça uma única conclusão: sua origem de classe e simbologia socialista.  

O republicanismo burguês sempre soube usar a simbologia pretensamente iluminista em seu favor e isso aconteceu até na revolução burguesa da França no final no século XVIII, que matou os revolucionários mais audazes quando eles prometiam ir além do que os interesses mercantilistas emergentes gostariam. 

Os símbolos nem sempre correspondem à simbologia que encarnam, literalmente falando. 

O fenômeno da Lava Jato, desde o seu começo, meio e fim, pode e deve ser analisado no contexto histórico correto, sem as manipulações facciosas de cada lado.  

A corrupção com o dinheiro dito público, estatal e advindo dos impostos cobrados a uma população economicamente exaurida pela extração de mais valia do capital, é uma espécie de mal necessário.

É um mal porque fragiliza economicamente a cidadela jurídico-institucional do Estado nacional burguês, ora falido, criado para regulamentar, proteger e induzir o crescimento econômico capitalista e mantê-lo de pé; mas é necessário como forma de viabilizar o segmento político burguês que nela, a corrupção, se apoia para ganhar eleições e se legitimar no poder político. A corrupção com o dinheiro dito público mais não é do que a filha pródiga da corrupção original, praticada pelo próprio capitalismo, que é a apropriação indébita e cumulativa da riqueza abstrata privada por alguns, e consequentemente da riqueza material, mas produzida coletivamente.  

Assim, quando se faz necessário, usam-se os mecanismos de convencimento sublinear coletivo sobre as causas dos infortúnios sociais como forma de manutenção da inconsciência coletiva sobre a raiz dos problemas, no que ainda são ajudados pela promessa religiosa, no mau sentido da religiosidade, de que haverá uma recompensa celeste aos males terrenos.  

Dentre tais mecanismos ideológicos-midiáticos, o mais usual é colocar a culpa da miséria social nos ombros da corrupção política com o dinheiro dito público - são os trabalhadores assalariados, que pagam mais impostos, aqueles que financiam a própria opressão estatal da qual são vítimas -, como forma de desvio da questão central: o colapso em curso de uma relação social que sempre foi segregacionista, mas que ora entra em rota de inviabilidade estrutural.   

 A lava jato mais não foi do que a tentativa do segmento nazistóide da elite política, econômica e militar brasileira de uso do judiciário para a definitiva depuração do poder político de um projeto político da esquerda da socialdemocracia quando a crise econômica brasileira explodiu sob o governo de Dilma Rousseff ainda em 2013 e se agravou nos anos seguintes.  

Juntaram-se na operação lava-jato, graças à crise capitalista do subprime de 2008/2009, que jamais foi uma marolinha, como disse Lula, e que se estende até os dias de hoje: 

- a mídia burguesa ávida por escândalos televisionados a partir de operação policiais espetaculares;    

- segmentos mais conservadores da elite política brasileira; 

- parte dos segmentos militares saudosos do poder;   

- segmentos religiosos conservadores evangélicos que cada vez são mais numerosos no Brasil; e 

- conservadorismo ideológico no poder judiciário. 

Pronto! Estavam dadas as condições justificativas do golpe institucional dentro da legalidade jurídico-constitucional e qualquer pretexto menos significativo serviria pra tal, como pedaladas contábeis no orçamento da união, tendo como pano de fundo a corrupção verdadeiramente existente desde os tempos do império, e mais recentemente do mensalão, e que se estendeu ao petrolão.  

Lula sempre foi confiável ao sistema, e a cada dia demonstra seu apego ao poder político burguês, sem jamais contestá-lo, mas apenas querendo dar uma feição humanista àquilo que é desumano por natureza.  

O sistema capitalista mais consciente de seu papel republicano burguês sabe que Lula é anticomunista sob qualquer viés e confiável como socialdemocrata que é, e que sabe usar a simbologia revolucionária, como tem sido recorrente no curso da história recente dos movimentos revolucionários traídos. 

A sua conciliação com os segmentos mais atrasados do parlamento e partidos políticos como forma de governar e se manter no poder político denuncia a sua crença na conciliação de classes como forma de gerenciamento do poder político burguês. 

A sua ênfase na busca pelo crescimento econômico - leia-se mais capitalismo e prosperidade sob tais critérios - num momento no qual as locomotivas do capitalismo internacional estão rateando - Estados Unidos e China estão tendo crescimentos pífios e já se anuncia uma recessão global - é sintoma de que ele aposta nisso como forma de se manter, tal como um surfista, na onda sem alterá-la.  

O sistema tem uma bússola baseada na máxima do “vão-se os anéis e fiquem os dedos” e age por ela orientado. 

É nesse sentido é que numa hora cassou mandato presidencial de Dilma Rousseff e prendeu o Lula usando o Poder Judiciário como forma de justificar a debacle capitalista em curso, sob o aplauso das cercas embandeiradas que separam quintais, como disse Raul Seixas, e noutra hora, diante da primariedade perigosa de um neofascismo militarista bolsonarista tosco que ameaçava as instituições burguesas num país importante como o Brasil, anistia Lula e o traz para a cena política triunfalmente.  

O Poder Judiciário nas altas cúpulas tem visão politicista conservadora, e suas decisões tornadas públicas e televisionadas - apesar de que Lula as querer sigilosas, num retrocesso sobre o item transparências dos figurões da República - são o testemunho de tal inclinação de obediência à Constituição burguesa ou contrariá-la, quando se faz necessário dentro dos interesses sistêmicos.   

O voto monocrático do Ministro Tofolli, concluindo que a prisão de Lula foi um erro histórico do judiciário, considerando apenas os aspectos políticos da questão e a hermenêutica processual usada, sem adentrar no mérito das práticas de corrupção comprovadas, mesmo que por meios arbitrários, conforme restou demonstrado nas operações vaza-jato, ao invés de pacificar a questão, levantou questionamentos e provocou efeitos colaterais de sua decisão:  

- como ficam os vultosos valores devolvidos por bancos internacionais de dinheiros advindos das corrupção?!

- Os corruptos serão ressarcidos?! 

- As delações de políticos e empresários com documentos fornecidos, como a do ex-Ministro Antônio Palocci, eram mentirosas?! 

- as repercussões internacionais das empreiteiras -até suicídios de ex-Presidentes do Peru ocorreram.  

Jogar para debaixo do tapete a sujeira de tudo isso, numa Operação Clean Wash, não resolve o problema. (por Dalton Rosado) 


Um comentário:

Anônimo disse...

https://www.nytimes.com/es/2023/09/10/espanol/opinion/chile-11-septiembre-allende.html

Related Posts with Thumbnails