Há muito tempo que as escolhas para o STF deixaram de ter uma pauta minimamente jurisdicional. Obviamente, não significa que nunca tiveram aspectos políticos, mas é flagrante o quanto os nomes apontados tem sido menos apontados por questões qualitativas e mais por preferências personalíssimas, em flagrante ônus para o interesse público.
Mendonça e Kássio Nunes já tinham sido absolutamente problemáticos nesse aspecto, ao atenderem lobbys de forças políticas: os evangélicos no caso do primeiro e os políticos de alto escalão no segundo. Mas Zanin bateu o recorde pois foi escolhido apenas e tão somente por ter sido advogado do presidente Lula. Pior, pois é discutível sua real competência, tendo visto que o atual ocupante do palácio do planalto foi condenado e cumpriu pena, vindo a ser liberto apenas por um nebuloso processo de acordões políticos cujas minúcias ainda estão por serem esclarecidas.
Assim, mesmo enquanto advogado criminalista, a competência de Zanin não poderia ser totalmente reconhecida. Em outras áreas, como relevância para o conhecimento jurídico, parece ser menos ainda possível.
O voto, contudo, do novo ministro em relação à descriminalização da maconha tem de ser considerado com cuidado. Os argumentos usados por ele são pífios, mas muito mais que os argumentos, a posição expõe não apenas um indivíduo conservador e de mentalidade retrógrada, mas um compromisso do lulismo com setores religiosos e policiais. O aceno não foi de Zanin, foi de Lula aos evangélicos e às forças repressivas do Estado e cumpre papel na estratégia presidencial de se reaproximar do fundamentalismo religioso.
Mais uma vez se paga o preço do apoio incondicional da esquerda ao lulopetismo, pois esse não precisa levar em conta as pautas de esquerda, mas apenas aos dos grupos conservadores a fim de garantir o apoio deles. O lulismo vai repetindo assim a mesma lógica de vinte anos atrás, ganhar eleições com a esquerda e governar com a direita. O mundo gira e não saí do lugar. (por David Emanuel Coelho)
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