quinta-feira, 31 de agosto de 2023

BRICS NÃO É SOLUÇÃO PARA NADA


 O mundo é uno. Os seres humanos pertencem a uma mesma espécie animal, mas o patriotismo nacionalista e o racismo, sob o comando de uma relação social político-econômico-fetichista-xenófoba-racial-mundial, nos dividem. 

As nações e suas fronteiras não se separam por questões culturais, bem como as raças humanas não se subjugam umas às outras por questões epidérmicas ou morfológicas, mas político-econômicas. 

É a milenar ideia de escravização de uns em benefício de outros o que denota o aspecto subdesenvolvido e selvagem - no mau sentido da palavra - da racionalidade humana; a relação social sob o capital é apenas a resultante político-jurídica formatada para dar sustentação à escravização humana e sua segregação social claramente visível.    , porque mais sutil, pois indireta, mas não menos cruel que a direta. 

Historicamente, a migração de poder entre as regiões do Planeta Terra nas quais habitam os seres humanos, tem obedecido a um comando econômico-militar ditado pelo escravismo de uns poucos sobre a maioria. 

Não foi diferente entre fenícios, sumérios, chineses, gregos, romanos, egípcios, entre outros mais modernos, e tudo obedece a uma mesma matriz escravista que denuncia quão inferior ainda nos encontramos no nosso estágio evolutivo, que agora alcançou o estágio bélico-ecológico extremo de autodestruição. 

Há quem considere, como no pensar de um fraterno amigo petista, que o Presidente Lula, um ex-operário e imigrante nordestino, está a colaborar expressivamente com um movimento de afronta ao poderio econômico do dólar estadunidense ao reforçar a ideia de consolidação e expansão do BRICs, a ponto de considerá-lo como um grande estadista.  

 Primeiramente é preciso explicar que os Estados, em suas várias formas políticas atuais de obediência e sustentação da ordem econômica que lhes dita comportamentos ditatoriais de obediências, são eminentemente opressores, por mais bem-intencionados que sejam seus governantes. 

As suas opressões estão diretamente vinculadas à relação social capitalista sob a qual foram formatados, ou seja, às suas dependentes e obedientes submissões ao sujeito automático da forma-valor e sua reprodução autofágica e autotélica, que nada mais é do que uma lógica abstrata que comanda negativamente a vida real dos seres humanos em detrimento destes.  

Assim, ser estadista é sobretudo ser conivente com tal relação social, ao invés de denunciá-la como forma negativa de vida social.  

O civilizado herói estadista bem-intencionado é o vilão com imagens de mocinho que sequer compreende, ou não quer compreender por oportunismo ou ignorância, o seu papel de mera peça contributiva no jogo de xadrez da ordem capitalista mundial.   

O modo de produção capitalista hoje se assenta sobre três fundamentos, a saber:  

trabalho morto, das máquinas na produção de mercadorias sensíveis e programações computadorizadas na área de serviços, que substitui substancialmente o trabalho vivo, eventual, assalariado, abstrato;  

busca de tempo de trabalho abstrato barato nas regiões pobres do mundo; 

produção de manufaturados tecnológicos e científicos patenteados pelos países ricos em suas sedes, que têm alto preço de venda no mercado, e de lucros. 

O segundo item acima, relativo à busca de trabalho abstrato barato nos países pobres impelida pela concorrência mundial de mercado, promove o crescimento da produção de mercadorias e serviços nos novos locais de produção - Ásia maior e Ásia menor, Eurásia, Américas Central e do Sul, México e África -, e tem causado redução da massa salarial global de extração de mais-valia e, consequentemente, da massa global de valor, fator determinante na falência econômica da ordem capitalista mundial e dos seus Estados. 

Tal ocorre porque apesar do capital ser controlado por esses países originalmente produtores - os que fizeram as primeiras revoluções industriais que usavam o trabalho abstrato dos imigrantes e rurícolas urbanizados -, os capitalistas acionistas das empresas produtoras industriais deslocam suas unidades de produção de suas antigas sedes em busca desse trabalho abstrato barato encontrados nos países pobres, forçados que são pela concorrência globalizada de mercado, e isso implica numa alteração da empregabilidade dos jovens destes países que ora chegam ao mercado de trabalho. 

As revoluções devem começar nos países ricos quando estivessem em processo de empobrecimento e falência, como asseverou Marx. Estamos vivendo tal estágio e essa é uma das explicações do crescimento da direita inconformada com a perda de poder aquisitivo e deseja uma volta ao passado, sem compreender que este é um passado e período irreversível.  

O capital acumulado nos países ricos nos últimos 150 anos não tem compromisso com as suas populações, mas apenas com o processo de valorização do valor, acumulação sem a qual não sobrevive, e essa é a razão das ebulições mais intensas recentemente ocorridas na Inglaterra e França, mas que devem se alastrar para os outros países do G7 e G20. 

As duas guerras mundiais fratricidas dos países industrializados em busca da pretendida hegemonia econômica nestes eventos genocidas que os abalaram ou enriqueceram, como no caso dos vencedores aliados da primeira e segunda guerras mundiais, principalmente dos Estados Unidos que então instituíram o dólar como moeda internacional, são a resultante visível da competição capitalista fratricida. 

O capital migra para onde possa sobreviver e esse fenômeno migratório da produção de mercadorias demonstra e explicita mais uma contradição própria à essência autofágica desse modo de relação social que chega ao seu ponto de inflexão falimentar.  

Países pobres retardatários da industrialização como o Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul, que evoluíram nesse campo nas últimas décadas sob a lógica capitalista de estado ou privada - a Rússia e a China somente usaram as insígnias do pretendido comunismo para enganar a torcida - e que ganharam importância econômica e populacional, quase metade da população mundial, estão a reproduzir a fórmula de uma equação irresolúvel. 

 Agora fundaram o BRICs, desejando formar um bloco econômico detentor de uma nova hegemonia econômica, ou pelo menos, disputar em igualdade de condições com aqueles do ocidente capitalista, masculino e branco, mas apenas embarcam numa empreitada fora do foco emancipacionista da humanidade. 

O legítimo direito que têm de não se submeterem à tirania do dólar e ao pagamento  de juros extorsivos incidentes sobre as suas dívidas - a China, por exemplo, com dívida pública e privada de 300% sobre o PIB, e com limite de crescimento imposto por vários fatores, não aguenta taxa de juros de mais de 3% aa que lhe é cobrada, e nem o Brasil de mais de 10% aa -, não lhes dá o direito de pretenderem atuar como protagonistas numa guerra econômica escravista, e principalmente  num momento do limite interno de expansão capitalista.  

Estão empunhando a bandeira de uma justa rebeldia defendendo o mesmo mecanismo que dizem condenar; não se cura uma doença com os métodos que causam a própria doença.  

Não há lado bom de se defender de modo maniqueísta nesta briga capitalista, como fazem os que se alinham a cada um dos blocos dissidentes, para os quais tudo o que vem de um lado é bom, e o que vem do outro lado é pecaminoso. 

A justa condenação aos Estados Unidos como palmatória do mundo, que se acha no direito de intervir em todas as guerras e movimentos nos vários quadrantes do mundo deve ser condenada com pesos e medidas diferentes das que têm sido usados(as) historicamente. O mote não é ser hegemônico economicamente sob o capital, mas acabar com toda e qualquer forma de capitalismo.  

O envio de tropas estadunidenses para o Vietnã, apoio logístico às ditaduras militares da América do Sul, bombardeio de populações civis em Bagdad, no Iraque; financiamento de invasão de mercenários da Baía dos Porcos em Cuba, tal como faz o grupo Wagner na Ucrânia, e tantas outras intervenções mundo afora, não dá a nenhum país o direito de apoiar ditaduras sangrentas como a de Mohammad Bin Salman da Arábia Saudita; apoiar a invasão da Ucrânia pela Rússia de Vladimir Putin; considerar democrática a ditadura corrupta da Venezuela de Nicolás Maduro, ou justificar a repressão chinesa aos manifestantes da Praça da Paz, em Pequim.       

Não são poucos os organismos mundiais, todos de orientação capitalista, ou pretensamente humanistas, que justamente por não se rebelarem com tal modo de mediação social, rodam em falso sem resolver os problemas insolúveis causados pela imanência desses ao capital.  

Podemos citar os seguintes nomes e siglas representativas de tais organismos que nada resolvem, quais sejam: G7, G20, OTAN, ONU, OEA, UE, MERCOSUL, NAFTA, AOEC, ASEAN, ALCA, CEE, OCDE, OMC, UNASUL, PACTO ANDINO, SADC, MCCA, BENELUX, ALIANÇA DO PACÍFICO, UEAA ou UNIÃO EUROASÍATICA, e outras siglas que ora não me ocorrem, mas devem existir.  

O BRICs, com seu banco e sua nova referência de padrão monetário, é o mais novo organismo que pretende mudar o mundo com as mesmas ferramentas capitalistas que recrimina. A questão não é mudar a referência do padrão monetário, mas superá-lo definitivamente! 

Por que não se cria e defende um organismo que vise promover a produção destinada a matar a fome que aumenta no mundo, sem a intervenção do dinheiro, já que em nenhum alimento ou bem de consumo há sequer um grama desta mercadoria abstrata que representa o valor igualmente abstrato? 

Porque tal medida seria a explicitação cabal do fim do império da escravização indireta da forma-valor à qual todos os governos e políticos são dependentes submissos com seus discursos hipócritas de benemerência humanitária mundial.   

Não é ingênuo se querer a superação de um modo de relação social que chegou ao seu limite de expansão e existência e que está infelicitando a humanidade e a ameaçando de extinção. É ato de consciência revolucionária inadiável.  

Querer alterar o status quo vigente comendo pelas beiradas e com as armas usadas é querer acabar com o fogo jogando gasolina na fogueira.    

Os governantes políticos, dependentes das formas políticas que lhes dão poder - sejam ditaduras como a China e pseudodemocracias como na Rússia, ou de ditaduras monárquicas ou teocráticas seus novos membros como a Arábia Saudita e Irã -, não podem defender a ruptura com a ordem econômica mundial à qual estão vinculados, mas apenas que esta lhes seja favorável. 

Não precisamos de blocos capitalistas hegemônicos, mas ao contrário, de uma ordem mundial que consiga estancar a autofagia capitalista e possa possibilitar a humanidade à apropriação dos ganhos da ciência, que foram por ela adquiridos, e em seu próprio favor, e não em favor do capital.  

Basta de maniqueísmo xenófobo! 

A retomada do desenvolvimento econômico linear mundial, pretendido por todos os governantes como forma de arrecadar impostos da atividade produtiva privada ou estatal, e tentar melhorar as condições de empregabilidade que permita o funcionamento da relação social capitalista, pretensamente humanizada, é bandeira previamente destinada ao fracasso, além de ser condição de aprofundamento das guerras e ecocídio em curso.  

O pavio da bomba atômica que pode destruir a humanidade já está acesso e cabe a nós apagar a sua chama a tempo, além de barrarmos a emissão de CO² na atmosfera antes que ela frite os nossos miolos. (por Dalton Rosado) 


Um comentário:

SF disse...

***
O estado-nação está com os dias contados e suas vilipendiadas moedas fiduciárias, idem.
Os caras deveriam desconfiar de poderem começar a pensar em ter uma moeda comum, tipo o euro. Os donos do mundo aprenderam muito com ele.
Se eles estão deixando o terceiro mundo pensar nisso, quer dizer que eles já estão a frente.
Será inócuo. Inócue! Esta bisonha tentativa de repetir Bretton Woods.
***
Há sinais.
Os carros autônomos Tesla estão usando oito câmeras e inteligência artificial para aprenderem a dirigir.
Veja-se, não é mais um ser humano tentando programar um robot para pilotar um carro, é um carro aprendendo em rede como outros milhões de carros a reconhecer toda e qualquer possibilidade da direção.
É como um cérebro com milhões de olhos e aprendendo com eles ao mesmo tempo.
***
Outra coisa típica dos brics é tentar manter sovietes... a nossa maravilhosa medicina não quer:
1 - atendimento via celular e
2 - inteligência artificial instalada nas máquinas de exames.
*
Este último fato é inexplicável, pois um tomógrafo poderia estar em rede com outros milhares de tomógrafos, comparar uma tomografia com outras e antecipar diagnósticos que não são percebidos por olhos humanos e sua reduzida memória.
Sem contar que a mercantilização da medicina induz muitas ineficiências evitáveis.
***
Nosso mundo está mais para o que Isaac Azimov previu.
No livro Fundação - que agora é série - o professor de matemática diz a império:
"O que vocês tem oferecido?
"A mesma novidade velha.
"Por isso serão destruídos".
(algo assim)
Como todo totalitário, o cara mata o professor.
Quebrar o termômetro é a resposta para febre entre tiranos.
*
O fato provável é que a I.A. irá aprender muito com os dados que o mundo lhe fornece. A princípio será acessória, mas evoluirá para algo que direcionará a humanidade no sentido de uma vida melhor e mais saudável.
***
O mais são flores.
Camus tem razão em dizer que a única coisa que justifica a vida é a luta pela liberdade.(foi o que entendi do lero-lero dele)
E isso não quer dizer sair brigando.
Pode ser encontrar o sentido e a beleza da vida, mesmo ela sendo gratuita e desemparada.
A vida vale a pena ser vivida apenas pelo lindo e misterioso fato de que é impossível.
***

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