O título deste artigo poderia ser: deixemos de mimimi!
O termo popular mimimi foi cunhado para exprimir e desqualificar questionamentos como superficiais e corporativos, porque não levariam em conta aquilo que se constitui como cerne do problema.
Assim, por querermos dar ao conteúdo do que vamos escrever um sentido de reflexão sobre o que somos, o que temos e suas causas mais profundas, escolhi um termo mais pomposo, evocando uma reflexão sobre o que podemos fazer para começar a alterar a negatividade do que está posto e positivado sem reservas de fundo sobre nossa relação social e ecológica.
É sabido por todos nós a tragédia vivida pela vida social mundial, e com mais precariedade sobre os países do hemisfério sul, com grande parte de sua população desesperada, a qual acaba por emigrar para as ilhas de pretensa prosperidade do hemisfério norte - cujo processo de decadência é também visível - correndo riscos de morte para fugir da morte.
Ainda há pouco assistia no noticiário da televisão um suceder de tragédias humanas explicitadas num assassinato frio para obter um celular; na sequência veio a reportagem sobre o aglomerado de pessoas necessitando de assistência médica de urgência a ouvir dos profissionais do hospital não existir material hospitalar, espaço e nem médicos suficientes ao atendimento da demanda; outra matéria tratava de alagamentos provocados por chuvas excepcionalmente volumosas que ora provocam cheias de rios e alagamentos urbanos; e, por fim, toca a campainha de minha casa.
Na dúvida sobre quem estava à porta a nós chamar, e temeroso de ser um assaltante, antes de abrir pergunto: quem é?
Do lado de fora, ouço a voz de uma mulher pedindo R$ 20,00 para completar o pagamento da conta de luz que havia sido cortada.
Pela fresta da porta, e por segurança, olho e me certifico que era uma conhecida de uma favela próxima. Tratava-se de uma mulher esquelética, que, sem exagero, era muito parecida com os judeus resgatados ao fim da Segunda Guerra Mundial dos campos de concentração nazistas, aparentando ser bem mais velha do que deve ser. Servi-lhe um copo de leite que foi tomado como um sopro de vida!!!
Em alguns minutos, tudo isso estava ocorrendo na presença de pessoas que me rodeavam e puderam me ouvir comentar indignado, mais uma vez, sobre a nossa doença social.
Este instantâneo da vida brasileira é igual em qualquer cidade destas bandas e certamente não é desconhecido do leitor que tem a delicadeza de ler nossos repetidos reclamos, mesmo considerando sermos nós mais parecidos com um Dom Quixote, lutando contra moinhos de ventos numa correlação de forças desigual.
Somos uma sociedade doente, e o pior é que nos acostumamos a conviver com a desgraça. Parece ser um reprovável processo de adaptação acomodada do ser humano às suas próprias mazelas.
Cabe, então a pergunta: o que é mesmo uma reflexão com profundidade?
Seria a discussão envolvendo jornalistas a entrevistar parlamentares sobre a regra fiscal ou arcabouço do orçamento do governo a ser aprovado pelo parlamento que enquadra receitas e despesas orçamentárias governamentais da União para o ano de 2023?
Seria a inelegibilidade de Boçalnaro, o ignaro, ou a sua prisão por genocídio causado pela demora da vacinação contra a Covid19 e repetidas afrontas aos moribundos da pandemia?
Seria por afirmação sem provas de fraude eleitoral nas urnas eletrônicas que elegeram grande parte de seus correligionários para governos e parlamentos nos seus vários níveis?
Seria por suspeita de apropriação indébita de joias valiosas presenteadas pela Arábia Saudita, caso não tivessem sido detectadas para alfândega aeroportuária na fila do nada a declarar portadas por funcionários da comitiva governamental do seu Ministro das Minas e Energia de então, Almirante Bento Albuquerque?
Seria por rachadinhas?
Seria pela compra de imóveis por familiares em dinheiro vivo no valor de cerca de 51 milhões de reais?
Seria por cumplicidade nos atos de tentativa de golpe contra a democracia burguesa em 8 de janeiro de 2023?
Seria a tentativa de Lula de se alçar à condição de estadista e candidato ao prêmio Nobel da Paz como intermediador do fim da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, e já hoje ser considerado como uma das 100 personalidades mais importantes deste ano pela revista TIME?
Seria a tentativa de Lula de alavancar o capitalismo brasileiro a partir da retomada do desenvolvimento econômico em negociações com a China e seu programa de expansão capitalista via programa denominado nova rota da seda?
Seria a adoção de um novo padrão monetário como o yuan chinês - ou Renmimbi, no nome oficial - em substituição ao dólar estadunidense e fortalecimento do grupo dos BRICS através de seu banco de desenvolvimento, agora com Dilma Rousseff na Presidência?
Seria a conciliação de classes sociais num ajuntamento político englobando desde João Pedro Stédile, líder do MST, aos irmãos Wesley e Joesley Batista, da gigante JBS, na comitiva de Lula à China?
Seria a taxação de importados da China cujos valores estivessem abaixo de US$ 50?
Seria a previsão de mais um ano de PIB brasileiro na faixa dos 1% ao ano como vem ocorrendo na última década?
Seria a pífia contribuição financeira dos Estados Unidos para a luta contra o desmatamento da Amazônia, principalmente agora quando o governo de Joe Biden foi cutucado por Lula com a afirmação de que o homem da casa branca estaria interessado na continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia?
Seria a necessária reprimenda ao processo de extração mineral poluidora, tráfico de drogas, e extração madeireira predatória na Amazônia, com a morte e escravização de comunidades indígenas?
Seria o fato de Lula considerar Rússia e Ucrânia como culpados pela guerra num mesmo patamar?
Seria o fato de ser o Brasil um dos celeiros de alimentos, fornecedor de minério de ferro e petróleo para o mundo, principalmente para a China, enquanto compra manufaturados por preço superior na relação valor/hora trabalho?
Seria o fato de pagarmos juros altos por nossa dívida pública e termos Selic, taxa oficial de juros do Banco Central, de 13,75% ao ano, com juros do cartão de crédito e outros financiamentos ao consumo a taxas na casa centesimal e cumulativas?
Seria o fato de termos uma inflação diária de alimentos proibitiva para os assalariados que têm salário-mínimo baixo e somente reajustado anualmente?
Seria o fato de termos blocos parlamentares como o Centrão que pensam mais num próximo pleito eleitoral e em fazer um pé de meia para a velhice a partir do seu mandato, do que no Brasil?
Seria o fato de termos critérios de escolha de Ministros para a mais alta corte judiciária do país por indicação presidencial e aprovação parlamentar sem condicionamentos prévios de isenção jurisdicional estabelecidos em Lei?
Seria o fato de termos um dos maiores contrastes de renda média entre sua população operária e classe média e ricos?
Seria o fato de termos alto grau de analfabetismo completo e funcional entre a nossa população?
Seria o fato de pessoas terem que morar em palafitas em Manaus, no mundão a Amazônia, por não terem um chão de terra para morar, e termos em todas as cidades aglomerados de favelas cujas condições de habitabilidade nós bem conhecemos?
Seria, seria, seria...???
Sim, todas estas discussões são pertinentes, sejam elas estruturais, ainda que sob o padrão capitalista de governo, ou por decorrência desse padrão, e merecem ser discutidas com o imediatismo que elas requerem.
Mas há duas questões de fundo nas quais quase ninguém toca, mas que não querem calar e estão à espera de respostas. São elas:
- não seriam todos esses males sociais que constatamos cotidianamente a resultante incontornável de um modelo político e de produção social obsoleto, cujo contraste entre forma e conteúdo de há muito demonstra ser contraditório e inconciliável, e clama por substituição, mas que não é enfrentada por todos por medo do novo?
- não seria nosso ordenamento jurídico constitucional, e seu direito derivado, um antidireito que afronta a nossa consciência cívica e melhor senso de justiça?
A resposta a essas duas perguntas representam a tal da reflexão com profundidade a qual me reporto na primeira parte deste artigo. (por Dalton Rosado)
3 comentários:
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A postos o respondedor de perguntas retóricas.
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O que é mesmo uma reflexão com profundidade?
Uma reflexão em profundidade é um processo de análise cuidadosa e crítica de um determinado assunto ou situação. Envolve a exploração de várias perspectivas, a consideração de múltiplos pontos de vista e a avaliação crítica das informações disponíveis.
Essa reflexão muitas vezes envolve ir além da superfície do assunto e questionar as premissas básicas ou suposições subjacentes. Ela pode exigir que você faça perguntas difíceis a si mesmo e considerar ideias que podem ser desconfortáveis ou desafiadoras.
Uma reflexão em profundidade também pode envolver a revisão de experiências passadas e o aprendizado com elas, bem como a consideração de possíveis soluções ou ações que possam ser tomadas para lidar com a situação ou problema em questão.
No geral, uma reflexão em profundidade é um processo rigoroso que pode ajudá-lo a desenvolver uma compreensão mais profunda e significativa de um determinado assunto e, por sua vez, a tomar decisões mais informadas e ponderadas.
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Como vê, nobre articulista, a resposta está dada. O detalhe... a resposta é do ChatGPT, uma incipiente experiência de inteligência artificial.
Em segundos, destaque-se.
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"A lição sabemos de cor só nos resta aprender" já disse o Beto Guedes.
É que a pessoa sabe a lição de cor, ou seja, é como se ele soubesse o que tem de ser feito, mas na hora da ação ele fracassa mostrando que só sabe na teoria, mas não na prática.(outra resposta de I.A.)
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É nesta altura, aquela em que a máquina é mais razoável do que nós, que desvela-se o porque é tão urgente exercermos o nosso privilégio ontológico de saber o sentido do ser.
O sentido do ser é uma questão complexa e multifacetada que não tem uma resposta única ou universal. É uma pergunta que cada pessoa deve abordar individualmente, com base em sua própria experiência, crenças e valores. Ao refletir sobre o sentido do ser, podemos buscar uma compreensão mais profunda de nós mesmos, de nossas relações com os outros e com o mundo em que vivemos, e assim encontrar significado e propósito em nossas vidas. (resposta IA)
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No caso das sociedades humanas é bem claro que os projetos são bons, os arquitetes' são bons, os engenheires' são bons, as ferramentas são boas, mas o material de construção não está bom ainda.
E não há como construir algo bom com materiais ruins.
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P.S. ' - usei o gênero neutro que, mesmo não normatizado, é uma coisa muito prática num discurso que se pretenda neutro.
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(outro anônimo)
O que significa elaborar o passado
Theodor Adorno
https://www.marxists.org/portugues/adorno/ano/mes/passado.htm
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O que significa elaborar o passado segundo Theodor Adorno?
Para Theodor Adorno, elaborar o passado significa ir além de uma simples recordação ou preservação da história. Elaborar o passado implica em uma reflexão crítica sobre os acontecimentos históricos, levando em conta suas contradições e conflitos.
Segundo Adorno, o passado é uma construção social e cultural, e sua elaboração deve levar em conta a complexidade e ambiguidade das relações sociais e políticas que o constituem. Ele defende que a elaboração do passado não deve se limitar à reprodução dos fatos históricos, mas sim incluir uma análise das estruturas sociais, culturais e políticas que possibilitaram e sustentaram esses acontecimentos.
Adorno também enfatiza que a elaboração do passado deve ter uma perspectiva crítica e autocrítica, questionando as ideologias e interesses que podem ter influenciado a construção da narrativa histórica. Além disso, ele acredita que a elaboração do passado deve ter uma função educativa, ajudando a conscientizar as pessoas sobre as injustiças e opressões do passado e, assim, contribuindo para evitar que se repitam no presente e no futuro.
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Eu poderia dizer o que penso, mas o GPT escreve melhor que eu.
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