A mensagem midiática - ao mostrar e ao calar - visa recrudescer o respeito à ordem, no caso a burguesa. A depredação física é condenada de novo e de novo, mas a contábil é ocultada. Neste discurso de pregação do conformismo, a defesa da democracia é um elemento constante.
Todos defendem a democracia. A mídia burguesa se diz sua grande promotora e o lulopetismo afirma que seu retorno ao poder foi para salva-la. Porém, mesmo a extrema-direita e o próprio Bolsonaro se dizem defensores e respeitadores da democracia. A rigor, a palavra democracia é oca de sentido caso não nos façamos a pergunta crucial: de qual democracia estamos falando, afinal?
Por exemplo, a democracia brasileira é democrática? Quantas decisões cruciais para a vida do cidadão brasileiro realmente foram tomadas levando em conta o que o povo brasileiro pensava? Qual o grau de ingerência popular dentro das casas legislativas país afora? Quanto o brasileiro sente-se contemplado pelo judiciário? E os partidos, qual o nível de democracia interna presente neles?
Basta responder a estas perguntas para saber o quanto a democracia deste país é não-democrática. Toda a vida política nacional fica reduzida a votar, a cada dois anos, em representantes que, posteriormente eleitos, se alienarão por completo da vida do povo comum. Não à toa, todas as instituições da República são rejeitadas pela população, competindo entre si para saber qual a mais detestada.
A democracia brasileira sequer se aproxima por completo de ser uma democracia liberal, esta por si mesma extremamente restritiva, pois é o regime onde o fundamental, os meios de produção de riquezas, não está sob controle social. O liberalismo no fundo é uma ditadura flexível, onde há liberdade no plano político, mas não em seu coração, a propriedade privada.
A ditadura do patrão é a verdade do sistema liberal. Pode-se trocar os representantes, mais ou menos debater os rumos do Estado, mas não se pode discutir e controlar as estruturas fundamentais para a existência da própria sociedade. O poder econômico não é democrático.
Por isso, ele pode roubar e ficar impune, pois não está sob o escrutínio social. Não existe nenhuma eleição na qual os acionistas majoritários das Lojas Americanas deverão prestar contas. Quem foi prejudicado por eles só conseguirá reaver seu prejuízo caso também possua bala na agulha, pois, do contrário, será imponte igual ao servo medieval após ter tido suas filhas sequestradas pelos pequenos tiranos da nobreza.É esta democracia, onde nada muda, que é defendia pela Globo, pelo STF, pelo Congresso e pelo lulopetismo. E também, ainda mais restritiva, pelo bolsonarismo. Democracia, na boca destes agrupamentos, é a ditadura da burguesia, a tirania do capital, em detrimento dos interesses da imensa maioria trabalhadora.
Nossa democracia não pode ser esta, mas deve ser a democracia social, do cotidiano, onde o conjunto da população decida efetivamente sobre os rumos do país e do mundo desde o nível elementar da produção dos bens úteis à vida. Democracia sim, mas democracia que seja muito mais do que simplesmente apertar botões a cada dois anos. (Por David Emanuel Coelho)
6 comentários:
Vide também a "democracia" peruana na qual o verdadeiro povo está indo às ruas pra morrer e tomar porrada de 'puliça' e os "democratas" de lá também chama de vândalos. Aguardemos a manifestação dos "democratas" daqui que até o momento não não ouvi um pio do nosso presidente.
https://www.ihu.unisinos.br/625632-reflexoes-as-vesperas-do-caos-artigo-de-ladislau-dowbor
O post é do David, mas estou dando uma entrada aqui para deixar claro quem é o autor recomendado pelo comentarista acima. É o JAMIL da VPR.
Ele marcou a história da luta armada brasileira como o autor de um documento que foi praticamente um divisor de águas e se tornou conhecido como TESES DO JAMIL. E, por uma coincidência, foi graças a mim que tal documento exerceu papel decisivo no racha da VAR-Palmares e recriação da VPR, no final de 1969.
Quem quiser conhecer esta história, pode acessar aqui: https://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2022/09/com-suas-teses-de-1969-jamil-reinventou.html
Depois de sua fase guerrilheira, o Jamil decidiu que era como scholar que ele queria ser lembrado. Nunca mais usou o velho codinome e esconde a condição de ex-dirigente revolucionário e ex-preso político de seus currículos.
Hoje não passa de mais um reformista que escreve bem, um neto ou bisneto ideológico daquele Bernstein de quem a Rosa Luxemburgo fez picadinho em "Reforma ou Revolução".
No artigo recomendado pelo comentarista, o Jamil (que vou continuar chamando como chamava quando o conheci, naquele tempo em que ele evitava era usar o nome de Ladislau, e tinha um bom motivo para tanto, enquanto agora ele esconde que o Jamil existiu porque isso pegaria mal para um acadêmico) chega a escrever até que, com o Lula, voltou a esperança.
Trotsky explica: ""A revolução é uma grande devoradora de energias individuais e coletivas. Os nervos não aguentam, as consciências vergam-se, os caracteres consomem-se". Mas o Jamil não precisava exagerar tanto assim...
Boa noite Celso e David, tudo bem por aí?
Aqui é o Hebert.
Uma dúvida por favor: é verdade que,
o salário mínimo teve aumento adiado para maio e o valor,
que já seria mixuruca, de R$ 1.320, foi reduzido para R$ 1.302,
para tristeza dos trabalhadores?
Abraço.
Hebert,
as notícias são de que ficará no valor de 1302 até maio, pelo menos. Mas na real é que o liberal Haddad não quer enfurecer seus amigos do arrocho fiscal e, por isso, o aumento, prometido por Lula, talvez não seja aprovado no fim das contas.
https://clubemilitar.org/artigo/os-4-erros-do-governo-da-imprensa-e-do-stf/
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