O Marx traído e o crescimento do fascismo -1
Há contradições na obra de Karl Marx? É possível visualizar diferenciações entre o que ele escreveu em 1848 (aos 30 anos), no auge das dores europeias do parto da transição revolucionária do feudalismo para o republicanismo capitalista, e o Marx dos Grundrisse - rascunhos do que viria a ser o primeiro volume de 1858 de O Capital e dos demais volumes compilados por Friedrich Engels após a morte do autor em 1883.
Contudo, não há contradição quando se entende que ele fez uma autocrítica de si mesmo ao caminho da maturidade (já aos 40 anos) no que se refere ao sujeito da revolução anticapitalista, como adiante abordaremos.
Na vasta obra de Lênin, tendo por base
o Marx politicista, mais voltada para a tomada do poder numa Rússia agrícola,
não se encontra praticamente nada sobre a crítica marxiana do valor; tal
observação pode também ser feita sobre a obra bem menos abrangente de Mao Tsé
Tung.
O Marx do Manifesto Comunista, de
1848, escrito em parceria com Engels, exalta a força da classe operária como sujeito
da revolução, tanto assim que terminam dizendo: Trabalhadores de todo o mundo,
uni-vos! Não tendes nada a perder, a não ser vossos grilhões.
Mas o Marx dos Grundrisse prevê
o declínio do poder da classe operária como produtora da substância primeira e
primária do capital, o trabalho abstrato produtor de valor, quando o
desenvolvimento da tecnologia aplicada à produção de mercadorias tornasse prescindível seu uso em maior parte por tal categoria
capitalista.
É evidente que a luta armada para a
tomada do poder de então, fosse ele predominantemente feudal - como na Rússia de
1917 - ou republicano burguês, pelo proletariado, num estágio tal de
desenvolvimento tecnológico da produção social sob a forma valor, por ele pensado
(e que hoje se concretiza), perderia força como sujeito revolucionário.
E
o que seria, então, o móvel da revolução emancipatória pela superação do
capitalismo? Esta é a grande incógnita a ser respondida diante do
impasse social sob o qual vivemos e que ameaça a humanidade de extinção sob uma
guerra nuclear ou catástrofes ecológicas mais iminentes.
Chegamos
ao estágio no qual os nichos de emprego surgidos pelo uso da tecnologia na
produção e serviços são substancialmente menores do que a dispensa do trabalho
abstrato, e tal fenômeno, previsto por Marx há 165 anos, está a acontecer.
Disse Marx nos Grundrisse que quando tal fenômeno ocorresse faria voar pelos ares toda a lógica capitalista. A esquerda dita marxista institucional desconhece, ou conhece e ignora, o que é pior, a já referida autocrítica implícita que Marx fez na maturidade, daí traí-lo cotidianamente de modo voluntário ou não ao usar o seu nome, sendo o caso chinês o mais notório.
Já os social-democratas, antimarxistas, são apenas equivocados crentes na humanização do capitalismo; acreditam que o pé de laranja pode dar manga, caso seja enxertado.
Acresça-se
à ilusão social-democrata de humanização do capitalismo o fato de que os
parlamentos burgueses são formados na sua grande maioria por parlamentares
eleitos pela força do capital dos grotões mais profundos de cada país, onde a
liberdade de escolha e discernimento eleitoral é quase nula.
A
esquerda, quando muito, compõe 20% das casas parlamentares e apenas legitima,
com sua presença, o domínio burguês do processo legislativo. O povo somente assiste
passivo à sua representação espúria delegada.
Mas, conforme colocava Marx, o capitalismo cava a sua própria sepultura, pois ele somente pode crescer e se sustentar com o aumento do volume de extração de mais-valia, e esta é uma regra inquestionavelmente comprovada e básica decorrente das análises marxistas.
Ora,
se diminui a massa global de extração de mais-valia em face do uso da
tecnologia na produção impulsionada pela guerra concorrencial de mercado que
obriga os produtores concorrentes à redução de custos de produção como forma de
vitória no mercado, é evidente que aí se evidencia a auto-destrutibilidade de
uma lógica contraditória que está fadada ao fracasso num determinado momento
histórico.
O
fracasso do capitalismo one world enquanto forma de relação social
sustentável da vida das pessoas e da sua própria funcionalidade gera os
seguintes fenômenos:
-
o desemprego estrutural
-
falência do Estado que a ele serve
-
incapacidade de reprodução do capital (leia-se valor) no nível exigido pela
própria dinâmica da sua necessidade do crescimento constante sem o qual definha
inexoravelmente
-
inflação ditada pela emissão de moeda sem valor
-
fome e miséria em vastas regiões do planeta e emigração forçada para as regiões
nas quais ainda há vida capitalista, mesmo decadente
-
decadência e depressão econômica nos países de economias dominantes e
hegemônicas (G7, como conhecemos)
-
uso predatório e irracional dos recursos naturais com poluição de rios, mares,
solo, subsolo, e atmosfera
-
aquecimento da temperatura planetária causada pela emissão de gases que
promovem o feito estufa e alteram os fenômenos climáticos
- guerras por hegemonia política e econômica
Os
fenômenos acima elencados estão presentes mais do que nunca na vida social
mundial contemporânea, sendo o discurso dominante de que sua causa é apenas devido à má governabilidade, e não à falibilidade intrínseca do sistema capitalista.
Diante dos impasses causados pela inviabilidade de um modo de relação social e do desconhecimento científico e social da necessidade de superação de um modo de relação social obsoleto que alcança o seu limite existencial histórico, observam-se posturas políticas consubstanciadas em dois segmentos claramente definidos.
Por um lado, a volta de posturas políticas totalitárias, de cunho militarista, objetivando a contenção dos segmentos sociais organizados reivindicadores e questionadores das misérias sociais e comportamentos retrógrados nos costumes, e com visão do liberalismo clássico na economia, não raro acompanhadas de visões fundamentalistas religiosas.
Já, por outro lado, a defesa insustentável de uma retomada
do desenvolvimento econômico pelos social-democratas e pela esquerda
institucional com visão keynesiana em seus vários matizes.
Ora, ambos os segmentos políticos acima referidos têm como base de suas posições a relação capitalista que se inviabilizou, como se o capitalismo fosse a única forma possível de relação social, e aí se identificam. Consideram que o capitalismo é algo inerente à vida social humana, como se fosse um dado ontológico e inevitável da nossa existência, e não um elemento histórico com nascimento, vida e morte. (por Dalton Rosado - continua neste post)
Um comentário:
A vontade é a essência do mundo e é conflito que leva à dor causada pela força contínua opositora entre as vontades do mundo. A vontade nasce do descontentamento do próprio estado e é um sofrimento enquanto não é satisfeita, mas mesmo que satisfeita a satisfação não dura e a vontade satisfeita se inclina para um novo estado de descontentamento, em um processo de geração de vontades infinito, sendo também infinita a dor e o sofrimento gerados nesse processo.
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Ô povo que não estuda!
Schopenhauer já deu a dica
"dos sete dias da semana, seis são de dor e necessidade e um é de tédio".
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A teoria de valor e o materialismo histórico de Marx são contribuições maravilhosas.
A socidade vai mesmo rumo ao caos.
Caótica, não nos servirá e nem deixará de seguir o determinismo de manada, que é.
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A ordem de sucessão dos regimes políticos é: aristocracia, timocracia, oligarquia, demagogia, tirania e caos.
O tirano da vez tenta conter o caos criado pelos conchavos que fez quando demagogo.
Taí a teoria política de Aristocles reconfirmada.
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Perto de Platão, quem é Marx na fila do pão?
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