A IMPOTÊNCIA DA ESQUERDA BRASILEIRA
José Chasin, importante filósofo marxista brasileiro, dizia, pouco após a queda da URSS, que a esquerda estava "morta em sua teoria e em sua prática".
Décadas se passaram desde então, sem que houvesse completa aceitação de tal veredito.
Há muito engano sobre vitórias eleitorais e crescimentos de bancada, que, ao fim, não representam absolutamente nada. No entanto, os rumos das ações da autoproclamada esquerda, suas concepções e sua inserção social, constantemente comprovam a justeza da afirmação do célebre intelectual.
No entanto, existe outro elemento importante a ser considerado na condição da esquerda brasileira, talvez associado à sua própria morte: a impotência.
A esquerda não possui força própria para absolutamente nada, tanto que precisou se subordinar ao personalismo saudosista de Lula para poder sobrepujar Jair Bolsonaro. Pois o que derrotou o genocida eleitoralmente não foi nenhuma mobilização popular ou ações organizadas de conscientização, mas sim as reminiscências da belle époque do começo do século, contraposta, à vida dura e sofrida de sua segunda década. Não foi a política, foi a saudade.
Por isso, inclusive, a campanha eleitoral de 2022 foi a mais despolitizada da história, não tendo qualquer tipo de discussão relevante ou mobilização digna de nota. Foi a campanha dos baixos instintos, do irracionalismo, da ignorância e do vazio. Votou-se não para optar por alguém, mas para impedir que o poder acabasse nas mãos do adversário.
Uma campanha negativa, portanto, na qual inexistiram proposições, até porque o essencial não estava em debate. Ganhasse quem fosse, a política econômica e o modelo de sociedade permaneceriam essencialmente os mesmos: o capitalismo periférico, subordinado, de matriz neoextrativista, permaneceria intocado, apenas mudando o chantilly que cobre a grande merda, se progressista ou fascistoide.
E onde estava na esquerda nisto tudo? Basicamente, ela se dividiu em dois grupos, os que se curvaram desde o 1º turno e os que vieram a se curvar apenas no 2º, fingindo-se de autônomos na fase inicial.
No primeiro grupo, o exemplo mais notório é do Psol. Como a história de rendição do psolismo já foi por mim narrada neste outro artigo, não preciso retomar o assunto aqui. O partido, no entanto, teve o mérito de não esconder o jogo, embarcando desde a largada no bonde lulista.
O segundo grupo foi mais dissimulado. Fingiu independência no início, até mesmo criticando o lulismo, para no final render-se incondicionalmente.
"O Psol teve o mérito de não esconder o jogo, embarcando no bonde petista desde o início" |
Passada a eleição, pateticamente, grande parte desta esquerda passou a fazer as vezes de consciência crítica do PT, lançando alertas para os possíveis erros do lulopetismo, como se de fato Lula e sua gangue estivessem equivocando-se e não simplesmente seguindo o seu próprio projeto de poder, que jamais foi outro que não o de administrar o capitalismo e enriquecer-se sob ele.
Parecem ainda acreditar que o PT e o futuro presidente insiram-se na esquerda e tenham algum compromisso com qualquer forma de transformação, quando, na realidade, o lulopetismo não é hoje sequer uma força conservadora, mas sim abertamente contrarrevolucionária. Marcha desde 2013 na contramão das massas insurrectas.
A esquerda, inclusive, rejeita a ação destas massas pelo óbvio motivo de ser por elas rechaçada. Presa em concepções esquemáticas, fazendo uma interpretação oscilante entre o puro stalinismo e o impressionismo barato, se perde no curso da história, tendo de prostrar-se à hegemonia lulista para ter o mínimo de efetividade.
A inoperância da esquerda abre livre curso de ação à extrema-direita que é a grande mobilizadoraatual das ações das massas. Momentaneamente derrotada nas urnas, permanece com força social e com agitações nas ruas, fazendo uma crítica radical às atuais condições sociais e propondo uma transformação completa do país.
A extrema-direita age apesar de Bolsonaro, pois sua relação com o futuro ex-presidente é de criador para criatura e não o contrário. O capitão foi elevado pelas massas reacionárias, mas ele jamais conseguiu as domar completamente, tendo inclusive havido uma pluralidade de lideranças entre elas – Aécio, Moro, Cunha, para citar alguns. Ao contrário da esquerda que foi liquidada por Lula e passou a ser completamente dependente deste.
Este é inclusive um trunfo para as forças reacionárias, pois independem de um nome, agindo muito mais por ideias do que por personalidades. Força deles e fraqueza da esquerda, atrelada por demais ao destino de um indivíduo historicamente superado e sem qualquer tipo de compromisso com nada a não ser ele mesmo.
A impotência da esquerda é, portanto, a força da extrema-direita e prenuncia um futuro terrível, do qual muitos sequer conseguem ter clareza, neste momento de deslumbramento com a vitória eleitoral. (por David Emanuel Coelho)
2 comentários:
Alexandre Veiga
A esquerda foi liquidada por Lula e a força viva da militância do seu partido também. É um engodo acreditar na força do PT , partido com mais filiados no país. Existe uma enorme burocracia no Brasil para desfiliar-se de um partido.
Na sede de qualquer um deles, entrega-se a carta de desfiliação. Leva-se, então cópia protocolada à Justiça Eleitoral.
Tivesse a Justiça Eleitoral um sistema avançado como as urnas eletrônicas poderia se fazer a desfiliação por e-mail. Fosse isso possível a cúpula do PT ficaria assustada com o esvaziamento dos números de "filiados".
Na capital paulista fui em quase todas as manifestações ocorridas bem antes das eleições. O número de jovens era a maioria absoluta. E nos nos palanques , muitos improvisados, vi , ouvi muitos oradores, oradoras jovens que serão as lideranças do futuro. As figurinhas carimbadas do PT , de centrais ou sindicatos não ousaram aparecer: provavelmente seriam vaiadas.
No entanto, como nas enormes e gigantescas manifestações espontâneas de 2013 o PT, não possui mais vínculos , linguagem, comunicação com essa massa de jovens.
Em 2013 deram para essa massa uma lei anti-terror. Muitos religiosos do PT ainda defendem que em 2013 teve o dedo da CIA e outras teorias conspirativas.
O PT não tem mais uma massa de militantes, tem diletantes. Uma enormidade de diletantes nas redes sociais que, do sofá , alguns com centenas ou milhares de seguidores , defendem infantilidades como a que a faixa presidencial tem quer ser transmitida pela sucessora de Lula que foi impedida , apeada do poder, por incompetência administrativa e de exercício de poder pois não conseguiu 1/3 mais um dos parlamentares para terminar seu mandato.
Lula, no meio do segundo governo, no auge da sua popularidade. alavancada por excepcional conjuntura econômica mundial,não ousou nem reformas.
A baixa classe média, aquela que possui uma modesta casa própria e renda de poucos salários mínimos para sobreviver, continuou sendo massacrada pela ganância do mercado financeiro, do sistema privado de saúde, preços abusivos de remédios, indecência de ver retido pelo Imposto de Renda parte de seus parcos vencimentos.
Se teve a covardia política de não fazer as reformas dentro das limites capitalista, do mercado, não fará agora com uma base dividida e uma extrema direita ativa.
Na história das lutas revolucionarias, Lula já foi julgado: sua ação foi e continua nefasta para o avanço das massas.
Vi no reddit o relato* de uma garota que...
**"trabalha numa indústria de madeira, só que nesse final de ano não pagaram a quinzena dela, pois alegaram que ela já ganha bastante com o décimo e as férias, e ontem fizeram ela trabalhar das 6h da manhã até as 23h pra contar estoque do almoxarifado, sendo que ela nem é desse setor, e alegaram que iam pagar apenas 100 reais por essas 17h que ela trabalhou contando peças, e fizeram isso com todos os jovem aprendizes, além deles não deixarem ninguém deles baterem ponto e quem bateu eles zeraram todo, como isso acontece numa empresa grande e ninguém faz nada"?
Então, não foi para combater este tipo de prática que os tipos elencados no artigo do David Emanuel se elegeram?
***
* P.S, - pode ser fake.
** O link
https://www.reddit.com/r/ConselhosLegais/comments/zrtuwy/tem_o_que_minha_namorada_fazer_sobre/
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