sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

A CONTAGEM REGRESSIVA PARA O FIM DA ESPÉCIE HUMANA ESTÁ EM CURSO

flávio tavares
BEM PIOR DO QUE BRINCAR COM FOGO
A imagem que os homens geralmente
têm da destruição final é apocalíptica...
 
O
palavrório rebuscado e genérico, tão comum nas reuniões internacionais e que, em verdade, não revela compromissos, mas apenas meras intenções, reapareceu agora no documento final da conferência sobre o clima realizada em Sharm el-Sheikh, no Egito.

As mudanças climáticas evidenciam a ameaça maior à continuidade da vida no planeta, mas desprezamos os alertas da ciência. 

Em verdade, permitimos que nossos governantes se comportem como burocratas nos quais as palavras apenas disfarçam ou encobrem a falta de ações concretas. Assim ocorreu no documento conclusivo da reunião no Egito, no final de novembro.

As conclusões não estabelecem nenhum compromisso de cortar as emissões de combustíveis fósseis, como carvão e petróleo, responsáveis diretos pelo aquecimento global.

Ao inaugurar a reunião, o secretário-geral da ONU, António Guterres, havia alertado que o planeta está no limite máximo de sua resistência e acentuou ser obsceno que os governos continuem a financiar a destruição ao darem subsídios ou isenções à exploração dos combustíveis fósseis, como carvão e petróleo.

Há muito o papa Francisco adverte sobre os cuidados com a Casa Comum (o planeta) e prega a conversão ecológica da humanidade para preservar a vida como um todo.

As advertências do papa apenas reafirmam as da própria ciência, mas dão a elas uma característica moral e ética que as amplia por si sós, sem que possam ser vistas como simples números estatísticos.

Sob pressão dos chamados países industrializados (responsáveis pela maior parte das emissões geradoras do perigoso efeito estufa), a reunião do Egito acabou desconhecendo a principal ameaça à estabilidade da vida no planeta. 
...mas a possibilidade de desertificação do planeta também inspira pesadelos...
Desconheceu, de fato, o próprio
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas, que estabeleceu o ano de 2025 como limite máximo para que a média anual global das emissões de gases de efeito estufa atinja o ponto de inflexão e comece a cair.

Em suma: a conferência do Egito preocupou-se apenas com as consequências, nunca com as causas do efeito estufa e do aquecimento global que provoca. A invasão da Ucrânia pela Rússia dificultou o abastecimento da União Europeia com gás russo e, assim, próximo do inverno no Hemisfério Norte, as consequências da guerra chegaram também à reunião do clima.

Criou-se, porém, um fundo para socorrer os países insulares que irão simplesmente desaparecer com a elevação do nível dos mares. 

Esses pequenos países-ilhas, localizados quase todos no Oceano Pacífico, não sobreviverão, porém, com nenhum fundo, por mais milionário que possa ser. Dinheiro algum vai conter a elevação dos mares provocada pelo derretimento (gerado pelo efeito estufa) das geleiras do Ártico e da Antártica.
...e uma nova Era Glacial igualmente não pode ser descartada.
Na Antártica, onde o Brasil tem uma base científica, a cada ano aparece mais
terra preta em substituição ao gelo. Já não é necessário nenhum sofisticado aparelho de medição, pois o aquecimento é visível a olho nu. 

No extremo norte, no Ártico, desaparecem paulatinamente os ursos polares e toda a fauna típica da região. 

Tudo isso é muito pior do que a infantilidade de brincar com fogo, mas nos portamos como crianças, sem capacidade ou condições de medir as consequências. 

Nem sequer a brutalidade dos números nos impressiona. P. ex., entre 2010 e 2019, a média anual das emissões de monóxido de carbono atingiu os níveis mais altos de toda a História, e a tendência é de que continue a subir de forma avassaladora. Assim, a meta de limitar a alta da temperatura a 1,5ºC até 2030 torna-se totalmente descartada.

A grande contribuição do Brasil para essa meta está na preservação da Amazônia, cujas florestas têm o poder inato de sequestrar da atmosfera o temível monóxido de carbono. 

Entre nós, porém, a degradação da Floresta Amazônica se acentuou sob a presidência de Jair Bolsonaro e, mesmo com sua derrota na tentativa de reeleição, não se conhecem até agora os rumos da futura gestão de Lula da Silva na área ambiental.

O candidato vitorioso presenciou parte da conferência do clima no Egito, e, mesmo numa visita rápida, assumiu publicamente o compromisso de preservar a Amazônia. No entanto, enquanto não indicar o futuro ministro do Meio Ambiente e os rumos a adotar, permanece a incógnita – e, com ela, até as incertezas.
A destruição ambiental para favorecer interesses particulares marcou o governo do Bozo 
Sim, pois a permissividade do governo Bolsonaro quanto à devastação ambiental fez com que, tão só em abril deste ano, exatos 
1.012,5 km² de florestas fossem derrubados na Amazônia. Além disso, calcula-se que, de 2020 a 2021, a devastação da Mata Atlântica aumentou mais de 66%. 

De fato, é assunto de segurança nacional, para usar o jargão utilizado para proteger as fronteiras do País. No caso da devastação florestal, trata-se das fronteiras da vida.

Brincar com fogo é tão só um passatempo infantil, impossível de ser adotado como regra de Estado ou de governo. (por Flávio Tavares, jornalista e escritor que, em 1969, foi um dos 15 presos políticos libertados pela ditadura militar em troca do embaixador Charles Elbrick)

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