demétrio magnoli
MEIOS E FINS
não é economia, são os
temas propostos por Bolsonaro, o que significa
que o presidente venceu o debate desta eleição."
Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil, não erra no diagnóstico. Na TV e nas redes sociais, a campanha de Lula emula a linguagem do bolsonarismo.
Segundo a síntese do ministro, "Lula não está lutando no campo dele; está travando uma eleição no campo adversário".
A gosma oriunda da campanha bolsonarista espalhou-se por toda a comunicação eleitoral, dos dois lados. Sob o efeito Janones, a campanha lulista transitou da qualificação de genocida, aplicada ao presidente desde a pandemia, para sugestões de que ele teria inclinações ao canibalismo e à pedofilia.
Jogo empatado? Diferentes pesquisas, que registram discretas quedas nos índices de rejeição a Bolsonaro, indicam que não. O jogo no campo adversário sempre serve ao adversário – eis uma regra universal da política.
A interpretação de texto, mesmo elementar, evidencia níveis deploráveis de distorção. Na entrevista antiga ao New York Times, Bolsonaro pretendia associar (falsamente) indígenas brasileiros à prática do canibalismo e impressionar o interlocutor exibindo-se (pateticamente) como tolerante à diversidade cultural.
Já as declarações do presidente sobre as meninas venezuelanas, expressas na sua vulgaridade habitual, simplesmente atestam arraigados preconceitos, tanto sobre mulheres quanto sobre refugiados. O janonismo, porém, escolheu acusar o presidente de ser um potencial devorador de índios e um adepto, real ou virtual, da pedofilia.
Os expedientes tóxicos do janonismo não comoveram o eleitorado. Entretanto, entusiasmaram comentaristas progressistas engajados, aberta ou veladamente, na campanha lulista. A turma, muito culta, nada entendeu sobre a relação entre meios e fins.
Os fins justificam os meios, assegura uma crença ingênua adotada por pessoas que se imaginam moralmente superiores. De fato, os meios qualificam e moldam os fins.
O carluxismo é um meio eficiente para produzir um governo extremista, inclinado ao preconceito e propenso ao golpismo. O janonismo, imagem espelhada do carluxismo, não é um meio apropriado para gerar um governo democrático, capaz de respeitar a pluralidade social e a divergência política.
O PT não é neófito na prática de campanhas difamatórias. Nos idos de setembro de 2014, operando em nome de Dilma Rousseff, João Santana montou a célebre peça de TV na qual Marina Silva expropriava a comida dos pobres, transferindo-a aos banqueiros. O recurso à linguagem do esgoto funcionou –e a política brasileira enveredou por um labirinto escuro.
O paralelo é, contudo, imperfeito. A propaganda imunda de 2014 surtiu efeito pois situava-se, ainda, nos limites da esfera da política: o alvo não era a pessoa da candidata, mas sua proposta de conceder independência ao Banco Central. Hoje, o janonismo, imitação do carluxismo, move-se no terreno da difamação pessoal.
Numa ofensiva recente, a campanha de Lula divulga um vídeo no qual Bolsonaro homenageia Alfredo Stroessner, acompanhado pela notícia de que o ex-ditador paraguaio era um pedófilo que mantinha meninas como escravas. No caso, o tema não é exatamente a ditadura, mas a pedofilia. A absorção da linguagem bolsonarista tem implicações que ultrapassam o 30 de outubro.
A vida política não se encerra, apoteoticamente, no 2º turno. Depois dele, o Congresso votará leis relevantes, o STF pronunciará sentenças cruciais, os eleitores voltarão às urnas em novas eleições municipais, estaduais e federais.
Sempre será possível asseverar que algo decisivo –inclusive a democracia– pende por um fio. A alegação utilizada para justificar o jogo sujo no campo adversário ressurgirá em múltiplas oportunidades. O bolsonarismo terá triunfado –mesmo após a derrota. (por Demétrio Magnoli)
Cara do Janones... |
Mas, quem disse que o PT tem compromisso com a democracia? Na verdade, a real ideologia petista é exatamente o utilitarismo: vale tudo para conquistar posições no Executivo e no Legislativo e, assim, desfrutar as benesses e privilégios que o capitalismo disponibiliza para seus serviçais.
Revolução? É uma hipótese de difícil concretização, que só vinga esporadicamente. Pragmáticos não apostam nela.
Assim é que o PT abriu mão dos ideais de transformação da putrefata sociedade burguesa, trocando-os pela conveniência de levar vantagem dentro dela.
Já na década de 1980 começou a expurgar as tendências esquerdistas que trazia em seu seio, insuflando o reformismo e o populismo, até chegar ao estágio atual, quando precisa esconder em campanha sua proposta de política econômica (pois não passa de mais do mesmo) e não ousa revelar quem será ministro da Economia (pois vai escolher um dos costumeiros).
Nada a estranhar, portanto, no paralelismo de sua comunicação com a do genocida ensandecido.
...focinho do Carluxo |
Lula e o Bozo não passam das duas faces da moeda capitalista, mas a face bestial implica extermínios como o de uns 400 mil brasileiros imolados no altar do obscurantismo durante a pandemia que matou 1 milhão dos nossos compatriotas (uso as projeções confiáveis de instituições estrangeiras, não os viciados dados brasileiros).
Somos obrigados a tapar o nariz e votar no Lula, porque ainda estamos tentando evitar o apocalypse now e não antecipá-lo. Mas, faço questão de deixar registrado: Janones não me representa! (por Celso Lungaretti)
Um comentário:
É duro ter que concordar com Demétrio Magnoli e é mais difícil ainda ter que concordar com Ciro Nogueira mas a realidade é essa. Ficou evidente que Janones é o Carluxo da campanha do Lula. E como Lula e o PT podem, nesse momento, alegar superioridade moral em relação ao Bolsonaro? O que aliás, mesmo se fizesse um campanha mais limpa, nunca deve ser o mote da esquerda. O PT e a chamada esquerda eleitoral deixaram a luta de classes de lado. Já era ruim quando assumiram o populismo eleitoral. Péssimo quando colocaram o Bolsonarismo como forma eficiente de vencer as eleições. Perdeu as ruas faz tempos e possivelmente perderá as eleições. (Ricardo)
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