terça-feira, 4 de outubro de 2022

NUNCA NO BRASIL ESTIVEMOS TÃO PERTO DE UM LEVANTE SOCIAL

dalton rosado
A ENCRUZILHADA HISTÓRICA
V
ivemos, mundialmente, um momento de inflexão social que nos remete a uma reflexão histórica, e o Brasil reflete o cenário global.

Há uma insatisfação generalizada com os rumos que a sociedade do capital está tomando em face do limite interno e externo da expansão capitalista. O pior é que muitos buscam na causa do mal a solução para o dito cujo.

Falta pão no seu sentido mais lato; ademais, tateamos como cegos encerrados num quarto escuro em que estão guardados os segredos do labirinto chamado itinerário da humanidade.

O medo do desconhecido (representado pela necessidade flagrante de um novo contrato social, sem que se saiba como fazê-lo) cria uma situação de insegurança geradora de guinadas drásticas à direita historicamente opressora ou para uma pseudo-esquerda cujos exemplos atuais e históricos são negativos.

O pensamento keynesiano social-democrata defensor de um Estado que sempre se mostrou opressor, ou mesmo o pensamento marxista-leninista defensor do capitalismo de estado como etapa emancipatória da humanidade, mostrou-se inepto e inapto para tal transição e denegriu a crença nos postulados humanistas do pensamento de oposição, que se criou no século 19, ao capitalismo emergente e seu iluminismo opaco.

Este cabo de guerra entre os pensamentos humanista e conservador retrógrado ganhou agora tensionamento.
Hitler e Mussolini foram modelos para Plínio Salgado...

Desde as consequências da segunda revolução industrial capitalista,
causa mater da depressão econômica que culminou em duas guerras mundiais, a ultradireita ganhou espaço, como o atestam a ascensão do nazifascismo italiano e alemão, representado pelas figuras de Benito Mussolini e Adolf Hitler, que serviram de modelos mundo afora, inclusive no Brasil dos integralistas de Plínio Salgado, agora redivivo.

Com a terceira revolução industrial da microeletrônica, a mediação social capitalista se tornou de tal forma contraditória entre forma e conteúdo, que ou vamos para a frente ou retrocedemos à barbárie.

O medo do desconhecido que a grande maioria da população não entende como será, e o controle sobre o pensar coletivo libertador sendo manipulado e castrado, é a explicação mais próxima para o fenômeno de guinada à direita, observado hoje mais intensamente.

Numa memória amnésica histórica de tudo que aconteceu durante os últimos 100 anos, esquecem-se facilmente os horrores do genocídio de 3% da população mundial em duas guerras mundiais, bem como a intensificação da crueldade de seres humanos contra seus semelhantes.

Agora, e sem o menor pejo, os fanáticos ultraconservadores supremacistas vociferam sua ira ignorante e primitiva contra quem se lhes opõem, como se fossem cruzados religiosos perdoados pelos deuses e com licença para matar.
...revivido (ou repetido como farsa?) por Bolsonaro. 
A defesa da aceitação da morte por covid em nome da salvação da economia, reiterada publicamente pelo candidato derrotado no 1
º turno das eleições brasileiras em seu comentário pós-eleitoral, é um exemplo desse comportamento que sequer entende e esconde a crueldade nele contida.

Mas, nem tudo está perdido.

Se por um lado cresce o desmascaramento da face elitista brasileira que vem desde os tempos de quando éramos somente uma colónia agrícola, postura ideológica persistente ainda hoje (nunca fizemos uma reforma agrária, digna do nome, e que é bandeira capitalista desde a colonização dos Estados Unidos), por outro lado cresce o sentimento (ainda latente) da necessidade de uma ruptura sócio-econômica-institucional.

Nunca estivemos tão perto como agora de um novo levante social na linha do de 2013, a ser perpetrado pelos segmentos de trabalhadores de baixos salários ou nenhuma remuneração (a grande maioria) e de setores intermediários empobrecidos, mesmo de forma inconsciente e sem o apoio da esquerda institucional e sindical, contra governos insensíveis e uma elite retrógrada que manipula as eleições majoritárias e parlamentares a partir dos grotões do Brasil profundo.

Os anos vindouros, 2023 e 2024, principalmente, serão de graves dificuldades no campo econômico-social brasileiro, porque estamos na periferia do capitalismo e os países que detêm a hegemonia econômica mundial vão cuidar primeiro de suas próprias falências, deixando de lado as preocupações com os vizinhos empobrecidos e acostumados a sofrer e serem saqueados pela lógica da produção de mercadorias e do mercado.
2023 e 2024 serão anos nuito difíceis para o Brasil, podendo ocorrer protestos como os de 2013
Lula, se eleito (o que parece ser mais provável), governará com os mecanismos capitalistas e com um parlamento mais conservador do que aquele do período 2003/2010, e sob uma conjuntura de crise do capitalismo mundial.

Não é demais prognosticar-se que, se ele não der um novo direcionamento à sustentação do seu governo com apoio popular e bandeiras de repúdio ao interesse do capital nacional e internacional (o que é improvável que ele tenha peito para fazer), o próximo presidente será o picolé de xuxu ou um militar menos primário e com mais estrelas no ombro do que o presidente atual.

Bolsonaro, se eleito (o que parece um pouco menos provável), será alvo de um desgaste violento,pelos mesmos motivos acima citados, o que certamente o fará propor novamente o autogolpe como forma de segurar a barra, além das costumeiras sandices antipovo.

Qualquer previsão fora disso é quimera otimista desconectada com a realidade plausível para o nosso futuro eleitoral próximo.
"Não vai ser a ultradireita que estabilizará o capitalismo"

O motor da roda das mutações sociais mundo afora está acelerado, e não vai ser a ultradireita (com seu interesse em manter o
status quo social pela força e com retrocessos civilizatórios nos costumes, na economia, e na política) que dará estabilidade ao capitalismo.

Também a esquerda (com sua visão estatizante de capitalismo de estado, seja na vertente keynesiana social-democrata, democrático-burguesa ou sob regimes ditatoriais militaristas, como ocorre com a Venezuela) que promoverá a redenção social emancipatória.

Faz-se necessário o resgate de princípios humanistas que redirecione a luta social dos oprimidos para a apropriação das riquezas materiais e seus processamentos tecnológicos tão desenvolvidos; e que estimule um modo de organização social de base cujos cânones jurídicos e constitucionais sejam consentâneos com os verdadeiros ideais de justiça social.

Liberdade combina com repulsa à opressão. Consciência direciona a vida social para a autogestão. Senso de justiça repudia a injustiça social, racial, de gênero, misógina e nacionalista patriótica e xenófoba.

Estamos numa encruzilhada histórica em face da saturação de um modelo social capitalista agonizante. Sua permanência entre os seres humanos deverá ser a mais breve de todo o itinerário trôpego da humanidade em busca da plenitude de sua racionalidade e convivência harmônica social e com a natureza em seus vários aspectos.

Cabe a nós tomarmos o nosso destino pelas mãos e sermos superiores aos sentimentos mesquinhos que nos aprisionam à barbárie hoje tão presente.(Dalton Rosado)
Graça Santos interpretando composição do Dalton

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