segunda-feira, 29 de agosto de 2022

POR SER DESPOLITIZANTE E REACIONÁRIA, A ESTRATÉGIA DO LULA FAVORECE O BOZO

david emanuel coelho
POR QUE NÃO VOTAREI NO LULA
EM NENHUM DOS DOIS TURNOS?
"
Se o Lula for um candidato de esquerda, a gente desconhece o que seja a esquerda no Brasil e no
mundo"(Vera Lúcia, presidenciável do PSTU)
O melhor caminho para combater um chantagista é não se dobrar às suas chantagens. 

O lulopetismo tornou-se chantagista desde o mensalão, quando ficou claro que não havia mais qualquer programa capaz de distingui-lo dos demais partidos da ordem burguesa brasileira. 

O escândalo de 2005 não foi apenas um ato de falta de ética, mas também expressou a completa rendição do PT ao fisiologismo do Congresso Nacional: quem havia sido eleito com a promessa de mudar as práticas políticas, abertamente se adequava a elas.

E nem sequer por bons motivos era, pois a rendição ocorreu para aprovar medidas neoliberais que custaram direitos trabalhistas e reforçaram o poder dos oligopólios burgueses. 

Tornando-se mais do mesmo, o lulopetismo ficou sem condições de se viabilizar junto às massas trabalhadoras. Começou aí sua derrocada junto aos trabalhadores organizados e consequente deslocamento de sua base para as massas pauperizadas. 

O assistencialismo substituiu a política operária enquanto a própria indústria decaía nas metrópoles e o papel das commodities crescia exponencialmente. 
"O lulopetismo joga no mesmo campo do bolsonarismo"

Sem ter programa, ao PT restou a política da chantagem: cada eleição passou a ser uma disputa para evitar a ascensão ou retorno do atraso. 

O PSDB foi empurrado para a direita, com seus candidatos sucessivamente vilanizados, pouco importando que no fim os dois partidos fizessem a mesma coisa quando no poder. 

Enquanto persistia o ciclo de crescimento da economia mundial, com dólares inundando o país, era possível camuflar a precariedade na qual o lulopetismo estava assentado. A onda de consumo e a relativa melhora da renda favoreceram Lula em seu segundo mandato, criando a aura que o acompanha até hoje. 

No entanto, a crise capitalista de 2008 foi-se fazendo sentir no país até que, na década passada, nova mudança qualitativa se tornou obrigatória. As contradições acumuladas irromperam e o vazio programático do lulopetismo ficou manifesto. 

Após o mensalão, as manifestações de 2013 foram seu segundo grande encontro com a verdade. Se em 2005 ficara configurada a adesão do PT ao fisiologismo, a partir de 2011 foi se evidenciando cada vez mais seu posicionamento reacionário, de inteira submissão ao capital. 

Junho de 2013 significou para o PT o batismo de fogo de um partido clara e abertamente contra-revolucionário, compromissado até a medula com a ordem capitalista nos moldes subalternos e coloniais ainda presentes no Brasil. 

Tendo ajudado a sufocar a rebelião daquele ano, o petismo compromissou-se ainda mais com as forças do atraso, as mesmas que depois iriam derruba-lo do poder em 2016.
Qual o lado escolhido pelo PT em 2013? Adivinhem...

Sua postura diante daquela explosão social serviu também para alavancar a atuação da extrema-direita, que se tornou soberana nas ruas e usurpadora da insatisfação popular. O bolsonarismo nasceu aí, não sendo exagero afirmar que o lulopetismo teve papel predominante em sua gênese. 

Bolsonaro surfou no inconformismo das massas, na derrocada do sistema político falido. Enquanto o lulopetismo havia se amalgamado com o atraso, o atual presidente passou a atacar o stablishment mediante o chavão genérico – mas nem por isso menos efetivo  de que era preciso acabar com tudo isso que tá aí

Ao se vender como um (falso) outsider, Bolsonaro colocava-se como o grande vingador, o homem que combateria incansavelmente as forças dominantes, agora também identificadas com o petismo e a esquerda em geral graças exatamente às metafomorfoses operadas pelo PT em 2005 e 2013.

Com isto, inverteu-se a lógica. A extrema-direita virou rebelde, revolucionária; e a esquerda se tornou conservadora, amiga da ordem. A ascensão do bolsonarismo em 2018 é uma exata expressão disto; e a estratégia cretina e absolutamente criminosa do Lula e da cúpula do partido em fingir uma candidatura-fantasma, torpedeando Ciro Gomes, só fez agravar o quadro. 

Bolsonaro jamais abandonou o personagem. Continuou posando de rebelde e de adversário do status quo, mas remodulando o discurso após ter ficado claro sua igual sujeição ao fisiologismo e aos capitalistas. 
"Era preciso criar nova história de confrontos"

Era preciso criar uma nova história de confrontos, daí seus alvos terem passado a ser o STF, o TSE, a medicina, a ciência. No lugar das forças do atraso, antes hipocritamente denunciadas, agora a culpa pelas agruras do povo estaria na obrigatoriedade do uso de máscaras, na imposição de vacinas, na restrição ao movimento nas cidades, na suposta conspiração para roubar o seu voto, etc. 

Tais encenações mistificadoras são essenciais para Bolsonaro fazer sentido no seu papel de vingador, de outsider, mesmo não o sendo. 

O resultado no entanto não poderia ser pior, pois graças à estratégia política do presidente, mais de 1 milhão de brasileiros morreram, num ato gritantemente genocida, à medida que envolveu método para aumentar a contaminação por uma doença que ele sabia ser mortífera. 

E o PT nisto? O partido não poderia estar mais feliz, pois passou a ter o melhor dos espantalhos. Se antes precisava vilanizar os tucanos, agora o discurso era ocioso, pois estavam diante de um vilão autêntico, um alucinado insensível à dor alheia e absolutamente despreparado. Por isso, fez de tudo para empurrar Bolsonaro até as eleições deste ano, a fim de bater em cachorro morto. 

Na realidade, o confronto com Bolsonaro serve ao petismo para camuflar sua falta de programa, seu caráter reacionário e corrupto. Diante do atual presidente, nenhum tema relevante será aprofundado e o debate vai permanecer proscrito em nome do retorno à civilidade. 

Dito de outro modo, o lulopetismo consegue um cheque em branco graças ao seu principal concorrente ser um sujeito absurdamente desqualificado e assim Lula pode ir à TV mentir e vender apenas a si mesmo. Não há debate, há apenas mesmerização do santo salvador. 
Sem papas na língua, Ciro Gomes bate forte na guinada
conservadora do Lula: "Ele se lambuzou no poder".

Ciro Gomes foi o único entre os concorrentes minimamente viáveis que tentou sair deste buraco trazendo um debate racional e programático, sendo, por isso mesmo, torpedeado pelo lulopetismo e amiúde ridicularizado pela militância do PT. 

A rigor, o lulopetismo joga no mesmo campo do bolsonarismo, o da irracionalidade, da substituição do debate pelo apelo emocional e o do ocultamento dos programas. 

Digo os programas de fato, e não as ficções escritas para os ingleses do TSE verem, pois o programa petista é neoliberal e segue a mesma lógica do bolsonarismo – apenas com alguns desvios para mais ou para menos aqui e ali , mas isto é escamoteado do povo pela exploração maciva da imagem redentora do milagreiro de Guaranhuns. 

Pior para nós, pior para o Brasil, pois num contexto de crise acelerada do capitalismo, de divisões crescentes no mundo inteiro, com o fenomeno da desglobalização avançando, e mesmo com o risco de uma nova guerra mundial, não debater os programas, não ter clareza sobre o que será feito, é o caminho mais propício para o desastre. 

A despolitização que tem sido a marca do lulopetismo enquanto estratégia para ocultar sua falta de programa, sua natureza reacionária e antipopular já nos legou o bolsonarismo e pode nos legar algo ainda pior no futuro. 

Por isso, não pretendo dar meu voto a Lula nem sequer num eventual 2º turno. Posso ser acusado de estar favorecendo Bolsonaro, mas tal acusação só faz sentido quando consideramos a política como algo existente apenas a cada quatro anos, na hora do voto, e não enquanto um processo histórico. 

Quando encaramos a política em sua processualidade, é possível constatar que quem realmente favorece Bolsonaro é o lulopetismo com sua estratégia despolitizante e reacionária. Não votar em Lula é dar um grito de sanidade e lucidez contra o rebaixamento político em curso no país.
(por David Emanuel Coelho) 

6 comentários:

Anônimo disse...

https://www.ihu.unisinos.br/621677-lembrar-maquiavel

https://www.ihu.unisinos.br/621647-a-crise-do-imperio-artigo-de-raul-zibechi

Túlio disse...

"A despolitização que tem sido a marca do lulopetismo enquanto estratégia para ocultar sua falta de programa, sua natureza reacionária e antipopular já nos legou o bolsonarismo e pode nos legar algo ainda pior no futuro."

Muito boa análise. A palavra-chave pro lulopetismo é exatamente esta, despolitização. É o metalúrgico que só fala de "futebol, picanha e cerveja". Um dia, ficará claro que o Lula é um cavalo-de-tróia dos milicos/istêits desde os primórdios. E o objetivo sempre foi deixar a esquerda "desdentada" com essa despolitização.

Deixo aqui algumas informações que acredito ser relevantes para os leitores deste blog:
A primeira Emenda Constitucional aprovada no primeiro ano do primeiro mandato do Lula foi a
EC 40/03, que foi um projeto (PEC 53/99) de autoria do preposto dos banqueiros José Serra.
Trata-se de uma emenda que suprimiu do art.192 da CF/88 o limite dos juros bancários a 12% a.a.

Já a EC 41/03, também aprovada no primeiro ano do primeiro mandato do Lula, autorizou a cobrança de contribuição previdenciária dos aposentados e pensionistas.

O FIES, que é propagado por Lula como uma porta de acesso dos pobres à universidade, simplesmente encheu os bolsos das instituições de ensino privadas e deixou os recém formados com dívidas impagáveis até hoje.

Anônimo disse...

Só lembrando um velho detalhe, Lula nunca se declarou comunista ou socialista radical.Portanto , ele nunca enganou ninguém quanto a questão ideológica! Aconselhar leitores(as) a não votar em.Lula em.nenhum dos dois turnos , como vcs sempre fizeram 'n fazem e farão, realmente mostra a irresponsabilidade que sempre permeou o PSTU , que vive de verbas públicas, nunca foi ou é incomodado pela direita e as elites , não elegem.nem.vereador e torcem para que o não nosso.ja sofrido país ocorra um.banho de sangue , pra que realmente há uma revolução na estrutura do nação, contanto que nenhum membro do Pstu de todo território.nacional não participe diretamente , e fiquem como sempre ,escondifos(as) atrás do.poste!

celsolungaretti disse...

Comentarista das 23h19 de ontem, suponho que vc não esteja familiarizado com este blog, então vou lhe dar alguns esclarecimentos:

1. O Náufrago da Utopia não é um blog do PSTU, mas sim da equipe que o produz e mantém sem doações nem inserções comerciais de nenhuma espécie;

2. A equipe é de quatro quatro (dois jornalistas, um economista e um filósofo) e temos como ponto comum o fato de sermos todos antifascistas;

3. Aqui não vige nenhum pensamento único. As várias tendências da esquerda brasileira podem se manifestar livremente, desde que aceitem o debate franco (pode haver réplicas, mas no sentido de aprofundamento das questões, não de destruir ou humilhar algum companheiro do qual discordemos);

4. Sou o único filiado ao PSTU e nunca afirmei que não votaria no Lula de jeito nenhum. Como veterano da luta armada, venho sendo, nas últimas décadas, um defensor na web do legado da resistência à ditadura militar e da memória daqueles que também a travaram. Então, por uma questão de coerência, embora considere o Lula particularmente nocivo para o processo de libertação dos explorados brasileiros, sempre encararei como inimigos principais aqueles que representam no presente os torturadores que eu combati no passado. Se tiver de optar entre o Lula e o Bozo (fãzoca deslumbrado do Brilhante Ustra), votarei no Lula, mesmo que isso me revire o estômago;

5. O David Emanuel Coelho é o autor do artigo que vc questiona. Considero perfeitamente aceitável para o blog que ele se recuse a votar no Lula em toda e qualquer circunstância, assim como que o Dalton Rosado defenda o voto nulo em toda e qualquer eleição disputada segundo as normas da democracia burguesa. Podemos discordar num ou noutro detalhe, mas somos todos companheiros fraternos. A esquerda que prezo desde que nela ingressei em 1967 é assim, fraterna e solidária, não uma briga de foice no escuro pelas boquinhas do sistema;

6. Eu sou militante do PSTU, não fiquei escondido atrás do poste na ditadura militar, amarguei a perda de duas dezenas de companheiros estimados, escapei da morte várias vezes, fui torturado e sofri lesão permanente em unidades militares e continuo até hoje defendendo de peito aberto as minhas convicções, inclusive participando, septuagenário, das manifestações #ForaBolsonaro ocorridas na capital paulista. E não sou o único do PSTU a correr os riscos inerentes à luta contra o capitalismo, muito pelo contrário. Sua generalização é descabida e inaceitável.

Anônimo disse...

Não custa repetir, é até 'evangélico'!
Seja como for, e quem for,(fora bolsoringa!) o governante terá que enfrentar isto e muito mais:

https://www-washingtonpost-com.translate.goog/world/interactive/2022/brazil-amazon-deforestation-enforcement/?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt

No corpo da matéria: 'O (Washington) Post examinou todos os 764 processos criminais abertos em 2016 por procuradores federais na Amazônia'

Francisco disse...

O congresso ocupado pelos agroboys do boi, da bala e da bíblia, pelo andar da carruagem vai ficar ainda mais reacionário e gosmento do que já é pelo numero de candidatos e a grana que os caras estão gastando pra se eleger. Não existe mais presidencialismo neste país, foi incendiado pelo PIG e pela lavajato, o judiciário arde em chamas em autocombustão, e nós aqui gastando latim com a cor do gato que pode evitar uma tragédia maior que a já se bateu sobre esta colonia infeliz. Essa discussão aqui está me lembrando muito aquele filme do Mont Python, A Vida de Brian. Salvar os dedos vale a pena, sacrificando os aneis? Ou vamos deixar aneis e dedos e braços etc, serem incinerados pela fogueira da insensatez? Aliás,isso não lembra vagamente algum momento da história num certo pais da Europa?

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