quinta-feira, 28 de julho de 2022

TEMOS DE ESVAZIAR A CHAMADA AO GOLPE E À LUTA ARMADA NAS RUAS

rui martins
CARTA  AOS BRASILEIROS E ÀS BRASILEIRAS:
VAMOS ASSINAR E DIVULGAR!
E
m 1977, quando o professor. Goffredo da Silva Telles Jr. leu a primeira Carta aos Brasileiros, denunciando como jurista a ditadura militar, não pude ver e nem assinar. 

Tinha retornado a Paris, logo depois da libertação de minha esposa na época, presa pelo DOI-Codi, pelo crime de ter participado, em 1965-66, da peça teatral Morte e Vida Severina, escrita pelo escritor e poeta João Cabral de Melo Neto, dirigida por Silnei Siqueira, musicada pelo jovem Chico Buarque, encenada pelo Teatro da Universidade Católica em São Paulo e premiada em Nancy, na França. 

Sem se esquecer de Roberto Freire, José Armando Ferrara, Lucrécia d´Alessio e Carlito Maia. Todos os do Tuca estavam fichados como membros da Ação Popular.

Os anos 60 foram tempos de muita lucidez política entre universitários, secundaristas, intelectuais, artistas, sindicalistas, jornalistas, enfim, todos que sabiam pensar e usar seu cérebro para lutar primeiro pelas chamadas reformas de base e, depois, contra a ditadura militar.

O Brasil estava há 13 anos sob a ditadura quando o jurista e professor de Introdução à Ciência do Direito (fui seu aluno de 1958 a 1963) leu diante das arcadas do Largo de São Francisco a Carta aos Brasileiros, por ele redigida, em favor do restabelecimento do Estado de direito e da convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. A ditadura militar sobreviveu ainda por oito anos, até 1985.

Hoje assino aqui, publicamente, a nova Carta, denunciando o clima de golpe complacente instaurado no país, contra a ameaça de ataques armados às instituições e personalidades defensoras da democracia, Carta cujo texto integral pode ser acessado aqui, para leitura e subscrição.

Já vivemos num clima pré-ditatorial, no qual existe uma escalada de desmonte das estruturas sociais do país, no qual se relevam os abusos do presidente Bolsonaro e as denúncias contra ele apresentadas, desde quando ignorou a vacina contra o coronavírus e se tornou o responsável por centenas de milhares de mortes. O Brasil tem hoje um presidente fantoche, pois é governado pelo chamado
centrão e por lideranças evangélicas fundamentalistas dispostas a destruir nossa cultura.

A esperança é a realização das eleições do 2 de outubro, quando se espera derrotar Bolsonaro e sanar os malefícios causados ao país, durante quatro anos, pela extrema-direita no poder. 

Porém, a realização dessas eleições não está mais garantida. Depois do fiasco, ao tentar desmoralizar nosso sistema eleitoral diante dos embaixadores representantes da comunidade internacional, Bolsonaro incitou seus seguidores, ao se declarar oficialmente candidato, para irem às ruas pela última vez no dia 7 de setembro, a data histórica na qual se comemoram os 200 anos da proclamação da independência do Brasil por d. Pedro I.

Tal apelo e as palavras pela última vez são considerados uma clara incitação ao golpe para provocação de choques armados e se assemelha ao apelo feito nos EUA pelo presidente Donald Trump, incitando seus seguidores a impedirem a diplomação de Joe Biden. 

Disso resultou o ataque ao Capitólio, num clima golpista de caos durante três horas, nunca visto antes nos EUA, no qual morreram cinco pessoas.
Como aconselhei 
aqui há algumas semanas, a melhor maneira de reagir diante dessa provocação será a de evitar confrontos com os milicianos, seguidores e evangélicos nas ruas. Se a oposição a Bolsonaro puder se conter, a chamada ao golpe e à luta armada nas ruas poderá se esvaziar, Bolsonaro sofrerá mais uma derrota e seu golpe no 7 de setembro será outro fiasco.

Porém, se os milicianos atacarem os policiais encarregados da proteção do prédio do STF e prédios de outras instituições e mesmo residências, utilizando a abundância de armas com as facilidades de importação criadas por Bolsonaro, havendo ou não havendo intervenção de tropas do exército, terá se criado um clima de caos em diversas cidades brasileiras. 

Esse caos permitirá a Bolsonaro convocar em regime de urgência deputados e senadores para a decretação de estado de sítio e como possui maioria, aproveitará para anular a data das eleições, e prender quem bem entender, inclusive ministros do STF.

Como impedir esse pesadelo? Só com uma união quase unânime da sociedade civil contra o golpe e contra qualquer manobra visando a criar o caos, mais o apoio das Forças Armadas em torno da democracia e do respeito total à Constituição, intervindo contra as milícias e contra os golpistas, prendendo rapidamente os responsáveis e apoiadores do golpe em Brasília, antes de se criar o caos. 

Poderão ser algumas horas ou mesmo dias difíceis, mas estará salva a democracia, desde que, o governo provisório legalmente instituído não queira se aproveitar da situação para se manter no poder, confirme a realização das eleições no 2 de outubro e assegura um rápido retorno à normalidade democrática.

No dia 11 de agosto, será feita a leitura de do texto da nova Carta, marcando uma união geral em torno da defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições do 2 de outubro, como prevê nossa Costituição, e contra qualquer tentativa de golpe e de se provocações no 7 de setembro, 2 de outubro ou outras datas, bem como contra violências a pessoas e bens e contra a instauração do Caos. 

É dentro desse espírito que assino a Carta às Brasileiras e Brasileiros, como jornalista mas também como antigo estudante nas arcadas do Largo de São Francisco. (por Rui Martins)
Para matar as saudades do Rui e dos leitores, eis uma versão de
Morte e Vida Severina, em filme dirigido pelo Zelito Viana (1977)

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