segunda-feira, 18 de julho de 2022

SINTOMA ANITTA: AME O LULA, DETESTE O PT

 Era uma constelação de artistas apoiando o PT... 

Se em 1989 uma campanha como a do Lula-lá tinha a entusiástica participação voluntária de uma constelação de artistas de primeira grandeza, no século atual os políticos de esquerda vêm recebendo o apoio de nomes com mínima qualidade estética. 

Hoje o que importa mesmo é apenas ter impacto entre as massas, pegando carona na popularidade alheia para compensar a baixa inserção própria. 

Assim, foi recebida com grande alegria nos círculos lulopetistas a declaração recente de Anitta, recomendando o voto no ex-presidente. O entusiasmo com a potencial chuva de votos, contudo, logo arrefeceu e ficou com certo gosto amargo, pois a cantora proibiu o partido de usar sua imagem. 

Ora, mas como apoiar Lula e se afastar do PT? A aparente contradição, na realidade é um sintoma muito bem alicerçado numa dinâmica alimentada pelo próprio lulismo ao longo das últimas décadas. 

Em Os sentidos do Lulismo, o jornalista e cientista político André Singer – que foi secretário de Imprensa do Palácio do Planalto no primeiro governo do Lula –  deu algumas pistas deste fenômeno. 

De acordo com ele, durante o escândalo do mensalão, Lula criou ciosamente uma separação entre sua imagem e a do Partido dos Trabalhadores. Junto ao discurso de sua ignorância do esquema de pagamentos aos parlamentares, o então presidente criou um complexo sistema de auxílio social centrado no Bolsa Família; nelesua imagem, e não a do partido, colhia os méritos pela instituição do programa. 
...hoje o partido festeja quando atrai uma estrela solitária. 
Na crise paralela às manifestações de junho de 2013 e ao impeachment de Dilma, Lula também passou ao largo, vendo à distância a representatividade do PT derreter. 

Os próprios lulistas sempre optaram por destacar os méritos do ex-presidente pelo sucesso do seu primeiro governo, deixando o papel do partido em segundo plano. 

Esta dissociação entre Lula e o PT é fato marcante mesmo quando se considera a lógica interna da agremiação, pois é notória a inexistência de democracia partidária, agindo o ex-presidente enquanto um deus ex machina transcendental. 

Assim, a dissociação de Anitta entre Lula e o PT possui forte sentido, pois não é fruto de um erro de leitura da parte da pop star ou mesmo de simpatia apenas pelo candidato. Antes, é expressão da dualidade concreta alimentada pelo lulopetismo entre o ex-presidente e o partido. 

Por ela, Lula aparece acima da lógica partidária, acima dos interesses particularistas e mesquinhos da política, se colocando enquanto representante messiânico do povo enquanto entidade mística, desencarnada. É a mesma lógica responsável por colocar Lula acima das classes sociais. 

Esta dicotomia, no entanto, é péssima, não apenas para o PT, mas também para a esquerda e para o próprio Brasil, pois implicita despolitização. Ao não reconhecer a organização partidária enquanto instância da prática política, o povo se rende ao personalismo e deixa de lado a compreensão racional da sociedade em prol de um emocionalismo barato e paternalista, regredindo em termos de consciência ao invés de avançar. 

Não à toa, os dois candidatos que monopolizam a disputa política são altamente despolitizantes e irracionais, não oferecendo nenhum conteúdo ou programa. No fundo, a eleição se resume apenas a decidirmos quem é o melhor pai para o país, se o que dá 
carinho ou o que dá porrada
,
(por David Emanuel Coelho)

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