segunda-feira, 18 de julho de 2022

NÃO VAI TER GOLPE/2: A ONDA DIREITISTA PASSOU, SÓ O BOZO NÃO VIU

Embora as previsões que costumo fazer de cenários futuros da política nacional tenham quase todas sido confirmadas pela marcha dos acontecimentos, elas vêm há muito sendo ignoradas pelas lideranças de esquerda que poderiam utilizá-las para prevenir  desfechos desastrosos.

Dou só um exemplo. No dia 17 de abril de 2016, quando a Câmara Federal aprovou a abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, imediatamente escrevi que, transposta a principal barreira (era a única etapa que exigia a concordância de dois terços dos votantes), o impedimento se tornava só questão de tempo e a insistência em evitá-lo apenas permitiria que o inimigo se fortalecesse cada vez mais.

Sugeri a imediata renúncia da Dilma, seguida do lançamento de uma campanha do tipo diretas-já, exigindo a convocação imediata de novas eleições. Como a popularidade de Michel Temer era nenhuma, tal linha de ação, ainda que não atingisse o objetivo final, nos recolocaria no ataque e empurraria a direita para a defensiva. Seríamos nós que acumularíamos forças, não eles.

Dilma fez questão de espernear inutilmente até o mais amargo fim. E, de manifestação em manifestação pró-impeachment, a direita se robusteceu o suficiente para eleger o Bozo em 2018 (beneficiada, além disto, pela facada cenográfica, tempestade de fake news, abuso escandaloso de poder econômico, etc.).  

Percebo hoje que a falta de um status acadêmico contribui para minhas previsões não serem levadas em consideração pela esquerda organizada.  
Absorvi muito conhecimento marxista para meu uso como militante e passei a projetar desdobramentos dos cenários existentes quando a VPR, para minha surpresa, fez de mim um comandante de Inteligência de 18 anos (!), o que me obrigou a ir fundo numa área que até então só conhecia pelos livros do John Le Carré e Graham Greene.

Graduei-me em jornalismo pela ECA/USP apenas como uma garantia de continuar atuando na minha profissão sem ser incomodado por burocracias, mas nunca senti necessidade de apresentar minhas análises como teses de formato acadêmico. Elas sempre foram urgentes, respondendo a exigências imediatas das lutas que eu travava ou apontando opções para episódios em curso.

Creio ter faltado sensibilidade àqueles que desprezaram minhas advertências em vários momentos críticos, pois descartaram o meio século em que tive como um dos meus principais focos aprimorar-me cada vez mais nessas análises antecipatórias, primeiramente por exigência da militância revolucionária e depois em função da prática jornalística.

O certo é que, por ter vindo na contramão da grande maioria dos articulistas da web, é comum eu introduzir visões ausentes nos textos deles. 

Na viabilidade de um golpe bolsonarista, p. ex., só acreditei em 2019, desde que ele soubesse aproveitar o embalo da vitória eleitoral. 

Tentando algo de imediato talvez até houvesse obtido êxito, embora o regime decorrente jamais fosse durar outros 21 anos; certamente derreteria em curto ou médio prazo. 

Em 2020 eu já dava seu fracasso como favas contadas, seja enquanto governante, seja enquanto golpista. E o principal motivo, além de suas gritantes limitações pessoais (tende, inclusive, a sempre amarelar nos momentos culminantes), já era a inviabilidade econômica. 

O golpe de 1964, tramado havia um tempão e abortado em agosto de 1961, só decolou quando os EUA passaram a ser governados por um caipirão do Texas, que engoliu as lorotas da CIA como John Kennedy, se vivo, jamais faria. 

Sem acreditarem na proteção estadunidense e sem a esperança de tirarem a economia brasileira do buraco, os castellistas estariam conspirando até hoje...

O mundo de 2020 não era o mesmo da guerra fria, então, mesmo com Trump no poder, eu sabia que os EUA não dariam ao Brasil do Bozo a mesma mão forte que deram à ditadura militar, quando favorecerem de tal forma os investimentos de lá para cá que nossa economia passou por  aquela fase de aquecimento provisório e ilusório conhecido como milagre brasileiro.

E o apoio capitalista ao Bozo se resumia a vira-latas como os predadores ambientais, insuficiente para lastrear qualquer governo. Daí eu concluir que, desperdiçado o momento do entusiasmo inicial, o golpe do palhaço sinistro já virara pó.

Não tive dúvidas de que a posse de Joe Biden em janeiro de 2021 era o ponto de inflexão da onda ultradireitista no mundo e a pá de cal das últimas esperanças golpistas do Bozo por aqui. 

Então, tratei desde o início a mobilização bolsonarista para o último 7 de setembro como uma ridicularia destinada ao fracasso acachapante,  daí a ter intitulado de 
micareta golpista. Não deu outra.

As atuais tentativas desesperadas do Bozo de, mediante seus costumeiros blefes,  evitar ser devolvido à insignificância que marcou toda a sua trajetória adulta, sinalizam tão somente que uma aberração política está nos estertores. Em bicho papão só temos desculpa para acreditar quando ainda somos crianças... 

Um bom artigo desta semana, de autoria do Mathias Alencastro (acesse-o aqui), tem afinidades com a minha visão de que é a economia, estúpido, o fator principal do fracasso irremediável do Bozo.  

Isto porque o besteirol bolsonarista não tem sustentação econômica nenhuma, neste momento em que o Brasil enfrenta sua pior e mais prolongada recessão da fase republicana; portanto, é apenas um fogo fátuo saindo do túmulo da finada onda  ultradireitista. 

O que, claro, não impedirá que surjam outras em médio ou longo prazo. Mas, por ora, sem chance. É jogo jogado!  (por Celso Lungaretti)      

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails