terça-feira, 5 de julho de 2022

O PARLAMENTO BURGUÊS É IMPRESTÁVEL, MAS UMA DITADURA SERIA PIOR – 1

dalton rosado
AS VERTENTES DA REJEIÇÃO AO PARLAMENTO BRASILEIRO
"
Alguns políticos afirmam que a única maneira de 
tornar inofensivo um revolucionário é dar-lhe um assento
no parlamento" (C. S. Lewis, poeta e ensaista)
As últimas manobras do repulsivo centrão indicam que os ratos abandonam o navio que aderna e estão de olho do novo governo, determinados a fazer do orçamento secreto algo sob seu completo e permanente controle. 

É sempre assim no final de um governo sem perspectivas de continuidade; os oportunistas e bajuladores são os primeiros a pularem fora, e prontos para um novo exercício de fisiologia política. 

Aliás, como é denunciador de maus propósitos uma verba orçamentária dita secreta, mas que se refere ao dinheiro dito público, não?! 

Na verdade, o dinheiro do erário nem público é, pois serve à opressão do público por ele sustentado; e seria uma contradição em termos a res publica ser secreta.     

Na trilha do orçamento secreto, que agora se tornou impositivo, veio agora a PEC do Desespero, nada além de uma compra de votos às escâncaras, seu principal motivo.

Tal PEC, que secundariamente visa contemplar setores específicos da sociedade (caminhoneiros, taxistas, recebedores do do auxílio emergencial e do auxílio gás, etc.), prevê dispêndio de R$ 41 bilhões, mas pode acarretar gastos em cascata da ordem de R$ 100 bilhões. 

Ademais, como tudo na economia burguesa, causa aos por ela favorecidos problemas colaterais  quais sejam:
 aumento da inflação, que é uma consequência da distribuição de dinheiro artificial (sem receita);
 aumento do dólar, pois os investidores estrangeiros conhecem os efeitos do descontrole de gastos do governo e retiram com boa antecedência os valores aqui aplicados;
 aumento da taxa de juros, que paralisa a produção ainda mais e causa desemprego; e
— redução da receita fiscal, porque concede subsídios fiscais a produtos como os combustíveis.

Aos benefícios imediatos correspondem prejuízos mediatos à população, que não se dá conta do outro lado dessa tramoia populista-eleitoreira. Como disse Milton Friedman, no capitalismo não há almoço grátis. 

O pior é que a esquerda, ao invés de denunciar a ilegalidade eleitoral, apoia a PEC por medo de se contrapor a ela num ano eleitoral, já que a opinião pública se guia por simplismos. Assim, caiu na arapuca armada e quem quer que ganhe as eleições, vai sofrer o diabo ao ter de administrar a economia capitalista depauperada.   

Como diz a velha canção do Chico Buarque, "mas é carnaval, o que você pedir eu lhe dou/ seja você quem for, seja o que Deus quiser". A alegria, contudo, dura só até a 4ª-feira de cinzas e depois o novo mandatário terá de administrar a falência estatal e os governados, de arcarem com suas consequências. A  hipocrisia eleitoral burguesa reina absoluta. 

Lula disse certa vez que no Congresso Nacional havia cerca de 300 picaretas

Afora suspeitar que, devidamente domesticado e picado pela mosca azul do poder, ele hoje negaria tal afirmação, eu acho o Lula errou na conta pois deixou de incluir os representantes do crime organizado, que estão acima dos picaretas na hierarquia do banditismo. O processo de representação eletiva parlamentar é mesmo paralamentar... 

Quem dos nossos leitores não poderia citar o caso de um escroque qualquer que não tenha sido eleito para alguma instância legislativa?

O general Heleno tinha razão quando cantarolou esta paródia do conhecido samba do Ary do Cavaco: "Se gritar pega centrão, não fica um meu irmão". 

Mas o problema do ministro bolsonarista é que ele quer substituir o parlamento por uma ditadura, na qual o dinheiro público ficaria ainda mais secreto, porque controlado por alguém sem a mínima obrigação de prestar contas à sociedade, e muito menos propenso a permitir que a imprensa cumpra o seu mister precípuo e ontológico de livremente divulgar. (por Dalton Rosado – continua neste post)

Um comentário:

Anônimo disse...

O Antropoceno e as ruínas da democracia: a condição humana como monstruosidade
https://www.ihu.unisinos.br/images/stories/cadernos/ideias/335cadernosihuideias.pdf

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