quarta-feira, 23 de março de 2022

O POVO BRASILEIRO NÃO TEM REPRESENTAÇÃO CONGRESSUAL LEGÍTIMA – 2

(continuação deste post)
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. a representação política infiel ao povo (mas fiel ao poder poítico-econômico elitista) – como sabemos, o processo eletivo republicano é dominado pelo poder econômico, que se manifesta sob as mais variadas formas. 

A classe média, que corresponde a cerca de 15% da população, se junta à classe alta, que detém outros 5%, formando um conjunto cujo poder de formação de opinião costuma influenciar  a vontade soberana e consciente dos 80% restantes da população, os quais têm interesses diversos dos daqueles que os influenciam, definindo a vitória eleitoral dos seus representantes. 

Neste mister são ajudados pela grande mídia e por disparos robóticos de comunicação via internet. 

Tal distorção eleitoral ocorre, principalmente, nas cidades do interior, que correspondem geralmente à maioria do eleitorado do estado-membro, e que por terem maior dependência econômica local, quase sempre votam em parlamentares e governantes cujos propósitos desconhecem (ou conhecem apenas superficialmente). Depois, tais eleitores não têm como fiscalizar a contento aqueles em quem votaram.. 

O sistema de representação política da democracia burguesa é um cheque em branco passado pelo eleitor a representantes que o manipulam e dificilmente lhe prestam conta. 

É evidente que a maioria das questões decididas nas esferas executivas e legislativas obedecem à lógica do capital, que é avessa ao interesse popular porque, se assim não fosse, o capitalismo não seria o que é; e se não fosse a manipulação das consciências, ele não sobreviveria nem seria aceito pelos oprimidos como o sistema de exclusão e segregação social escravista que é. 

Daí a presença de políticos ligados à corporações elitistas e até criminosas (bancadas ruralista, da bala, do crime organizado, da religiosidade farisaica e fundamentalista, dos banqueiros do sistema financeiro ou dos jogos de azar, de grandes industriais, do agronegócio, das principais cadeias de comércio, etc.) ser 
 sempre majoritária no parlamento.

Os representantes institucionais das corporações de base popular (sindicatos e movimentos sociais) são sempre minoritários e, assim mesmo, estão presos a um juramento e decoro parlamentar ou administrativo que os enquadra constitucionalmente. 

Assim, apenas cumprem a triste missão de dar legitimidade institucional, pela via eleitoral, a algo que é absolutamente ilegítimo: a ordem opressora político-econômica do capital.        

Mesmo quando da proclamação da República no Brasil  via um golpe militar conservador e sem participação popular, apoiado pela elite política conservadora nacional que achava o monarca Dom Pedro II muito avançadinho –, o povo foi apenas avisado pelo general dirigente. 

Até esta data jamais tivéramos um parlamento cujos representantes de corporações e partidos políticos de base ocupassem 25% das cadeiras do congresso, e muito menos do que isto de mulheres e negros, o que comprova  o domínio eleitoral burguês elitista, racista, misógino e pernicioso. 

O povo brasileiro não tem representação congressual legítima e os cargos executivos são igualmente ocupados por representantes do capital na sua grande maioria; os que não o são e ousam contestar, costumam ser ejetados do poder burguês como um vírus estranho ao corpo no qual se instalou!
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. o absolutismo do capital 
assume muitas faces, mas a essência é sempre a mesma:
 nas monarquias despóticas de antes e de agora (vide a Arábia Saudita do cruel príncipe Mohammed bin Salman), o que prevalece é a vontade do rei; 
— nas ditaduras militares, é a vontade marcial da força bruta reluzentemente fardada; 
— nas democracias de governantes com aspirações ditatoriais (e são muitos os que se elegem pelo voto e desejam eliminá-lo para governar sem quaisquer tipos de filtros), é a força bruta de milícias e aparelhos policiais que surgem das trevas do submundo político criminoso;
— nas democracias burguesas liberais (no sentido político, não econômico, que tem conceito diferente do conceito de liberalismo capitalista), são as instituições de predominância da lógica de mediação do capital, que fazem a filtragem de quaisquer movimento popular de base.   

Todos estes regimes políticos tem um senhor que os comanda: o capital. O qual, como já dissemos noutras oportunidades, não admite outro senhor que não seja ele mesmo.

Trata-se de uma lógica de mediação social coisificada, na qual a forma-valor, uma abstração numérica, ganha vida e dá vida às coisas inanimadas (os objetos da natureza, processados industrialmente ou obtidos in natura) transformando-os em mercadorias, e passam a teleguiar a ação dos seres humanos sob seu fetiche macabro.

Desde que se produza valor tudo é desculpável, justamente porque se considera que o valor é um Deus que dá vida e que por isto deve ser adorado.

Ninguém questiona o fato de que, em qualquer objeto material que sirva ao consumo ou qualquer serviço necessário, não exista um grama sequer de dinheiro, a representação mefistofélica do valor. Mas todos dizem que somente se faz alguma coisa com dinheiro. 

E assim o é de fato numa sociedade completamente mediada pelo capital (daí o imperativo de nos livrarmos das limitações que tal modo de relação social nos impõe!). 

Se assim fosse, Pedro Álvares Cabral não teria encontrado nas praias da Bahia, há 522 anos, centenas de pessoas vivas, belas, a que chamou de índios. 

Elas não conheciam a forma-valor e as mercadorias (por isso trocavam ouro por espelhos), mas comiam, bebiam, pintavam-se numa nudez sem pecado, amavam sob um código moral livre, poligâmico, sem patriarcado. Os recém-chegados, contudo,  neles viram seres sem alma, que precisavam ser catequizados para adquiri-las.       

O concessão de centenas de milhões de dólares em armas para a Ucrânia, por parte dos Estados Unidos, repercute na nossa mente a ideia equivocada de que somente quem tem dinheiro pode produzir, seja arma ou alimento. 

Desta forma, todo o arcabouço republicano de poder se funda no ato de gerenciamento político de outro ato que lhe é anterior e soberano, qual seja o de produzir valor econômico, que nada mais é do que uma convenção de relação social imposta, determinada, escravista, segregacionista, ilusória, reificada, contraditória, com caráter onívoro, destrutiva da natureza e das boas relações humanas e sociais e, por fim, autodestrutiva (porque destrutiva de sua própria forma). 

Muitos outros males poderiam ser elencados como crítica ao republicanismo burguês, uma forma política tida como sacrossanta, e que tem servido de parâmetro comportamental de vetustos senhores das esferas estatais de poder (nem sempre tão republicanos assim), mas que não passa de um episódio histórico, e como tal, não ontológico da existência humana. 

Um dia, será visto como uma etapa atrasada e inferior do nosso processo evolutivo, caso não sucumbamos todos diante de sua irracionalidade fratricida. 

No momento ficaremos por aqui, mas tem muito mais coisa podre no reino do republicanismo burguês... (por Dalton Rosado)

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