Primeiramente, é bom repetir o óbvio: não se trata de um problema de característica pessoais do governante da nação vítima, mas sim das do autocrata do país agressor, que quer impor sua vontade pela força militar, colocando a Ucrânia sob sua dependência, seja para exercer a dominação diretamente, seja para dourar a pílula mediante a instalação de um governo fantoche.
E o antiamericanismo não é argumento para revolucionários anticapitalistas. Para nós, EUA, Rússia e China se equivalem, são apenas o jugo capitalista em três diferentes roupagens.
Estamos batendo numa tecla à qual os revolucionários anticapitalistas já deram resposta definitiva quando eclodiu a 1ª Guerra Mundial: os dirigentes verdadeiramente revolucionários, rechaçando a hipótese de acumpliciarem-se com o conflito capitalista, orientaram os trabalhadores de seus países a não irem matar os proletários de outras nações, o que os reduziria ao papel de meras buchas de canhão numa disputa de mercados.
Continua não havendo motivo nenhum para tomarmos partido numa guerra capitalista. Devemos ser contrários a tais matanças e contrários a todos os governos capitalistas que delas participam. Existimos para impedir esses sacrifícios inúteis da vida de trabalhadores.
JOGO SUJO – A desqualificação do presidente Zelensky está servindo para justificar um posicionamento simpático ao autocrata Putin por parte da esquerda que trocou os valores marxistas ou anarquistas pela realpolitik.
Dá-se descabido destaque a pontos até irrelevantes (ele foi comediante no passado? E daí? Pior estamos nós, que temos como presidente quem jamais deixou de ser um palhaço sinistro...} no quadro do morticínio e destruição desfechados contra a Ucrânia por um país extremamente mais poderoso em termos militares.
A invasão do Putin lembra em tudo (menos na eficiência, já que deveria ser uma guerra-relâmpago mas, enquanto tal, flopou...) as conquistas do Hitler entre 1939 e 1941, até sua escalada ser detida na Inglaterra e revertida na URSS.
Desde a década retrasada eu venho defendendo nas redes sociais a integridade dos valores revolucionários, contra essas análises em que os princípios são escanteados, enquanto se superdimensionam os fatores geopolíticos. Elas têm servido para dourar a pílula das posturas descabidas e vergonhosas assumidas por petistas & aliados.
O sentido maior da prática revolucionária nos últimos séculos tem sido o de conduzir a humanidade a um estágio superior de civilização, com igualdade e liberdade plenas. Admitir e relevar o autoritarismo de nomenklaturas ou de fanáticos religiosos é uma postura totalmente inaceitável à luz dos ensinamentos de Marx, Lênin, Trotsky, Proudhon, Bakunin, Malatesta e que tais.
Polemizei muito com esquerdistas que pretendiam estar combatendo o imperialismo ao apoiarem tiranos execráveis como Gaddafi, Saddam Hussein e Ahmadinejad e/ou assassinos desvairados como Osama Bin Laden. Temos é de superar o capitalismo, não de favorecer uma volta à Idade Média ou a instauração do caos.
Levo sempre em conta que Marx definiu como países fundamentais para a vitória do socialismo as nações capitalistas avançadas, pois elas é que determinam o rumo a ser seguido pelas menos pujantes. Tentar comer o capitalismo pelas bordas foi um erro terrível e um desvio de rota desastroso, iniciado pela URSS de Stalin.
A imagem do socialismo, graças à lavagem cerebral incessante com que a imprensa burguesa usou e abusou de trunfos que lhe fornecemos estupidamente, passou a ser identificada com o atraso e com o despotismo, acabando por causar repulsa até em grande parte dos trabalhadores dos países avançados.
E onde isto nos levou? A conquistas efêmeras que depois se transformaram em retomadas capitalistas, como nos casos da Rússia e da China. A reinados dantescos do terror, como no Camboja de Pol Pot. E a decadências econômicas extremadas como a da Venezuela.
A adesão à realpolitik em termos internacionais por parte do PT é irmã da opção pelo reformismo em território nacional. Ambas expressam a desistência de lutar pela superação do capitalismo e a insistência em procurar um lugar ao sol na noite capitalista (o paradoxo é intencional), posturas ademais condenadas de antemão ao fracasso, neste momento em que o capitalismo visivelmente se encontra nos estertores.
É hora de darmos um chute nesse utilitarismo amoral, que hoje nem sequer se traduz mais na afirmação de que os fins justificam os meios. Se fossem sinceros, seus praticantes diriam que as conveniências da nomenklatura justificam os meios...
É hora de voltarmos a apostar na revolução! (por Celso Lungaretti)
2 comentários:
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Com os senhores tenho aprendido a respeito de Marx.
Então, mesmo correndo o risco de estar errado, dou meus palpites.
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O modo de produção condiciona a relação de produção entre os agentes econômicos e, no meu entender, esse é o conceito de história de Marx.
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O modo de produção atual dispensa o trabalhador, o famoso proletário e a classe proletária.
O proletariado.
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Nos tempos dos putins o capital criou o igualmente famoso complexo industrial/militar.
Imprescindível para a manutenção da exploração capitalista.
Território, gente, impostos, taxas, renda e lucro
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Sou feliz até hoje por ter lido o ensaio "O Rendimento e Suas Fontes".
Enfadonho, mas conciso.
Concisíssimo!
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Atualmente, só as igrejas e governos querem gente.
Pois, sem gente, sem renda.
Sem renda... adeus o estado nação e sua moeda fiduciária.
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O velho Marx também enfatizou que as relações de produção e a propriedade dos meios de produção criam as classes sociais.
Uma dominante e outra dominada, sendo esta última sempre e sempre alienada dos frutos do seu trabalho.
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Acompanho de perto o movimento do congelamento dos ativos russos e sua exclusão do Swift.
Se efetivamente conter o movimento dos oligarcas russos (o complexo industrial/militar), significa que, como tenho dito por aqui, uma nova classe dominante surgiu.
E ela está acima dos estados e suas maquinas de guerra.
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E essa foi a revolução que eu acho que já aconteceu.
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Caro SF,
vamos a alguns conceitos marxiano (para diferenciar do marxismo vulgar):
01. O modo de produção define o caráter da sociedade. No escravismo direto (como no feudalismo) já existia o valor, o dinheiro e as mercadorias, mas ainda de modo incipiente, pois era a detenção/propriedade da riqueza material que predominava. No escravismo indireto, do trabalho abstrato, estágio desenvolvido para o capitalismo e suas instituições, o que predomina é a produção de valor, pois todas as mercadorias são mensuradas por este critério, e a riqueza material se subordina à riqueza abstrata. É o modo de produção socialmente segregacionista destes dois modelos históricos aquilo que produziu as classes sociais nos últimos séculos.
Nas sociedades marxistas-leninistas, em todas elas, predominou sempre a produção de valor (sob a desculpa ou pretensão de que seria apenas um modo de transição provisório para uma sociedade sem dinheiro e mercadorias) e assim se preservou a extração de mais-valia pelo Estado. Flopou.
02. A briga atual, de disputa hegemônica entre ocidente e Eurásia/Ásia, é uma briga entre capitalistas, e somos avessos a ela. Nela não tem nenhum santo, só selvageria capitalista. O interesse verdadeiramente comunista, marxiano, é que os seres humanos se desnudem da vestimenta de trabalhador produtor de valor, do trabalho abstrato, do próprio valor, do conceito de nações (porque os seres humanos irmanados não têm pátria), de Estado, do direito burguês, de partidos políticos e de classes sociais distintas.
03. Quando dizemos que precisamos implementar a revolução sobre os escombros do capitalismo, é porque não consideramos que tenha havido revolução alguma. As metamorfoses do modo de produção capitalista na terceira revolução cibernética apenas prenunciam e denunciam o limite interno de expansão capitalista causado pelas contradições dos seus próprios fundamentos (Marx), e se dão num mesmo campo de relações sociais.
Revolução emancipacionista é outras coisa.
04. Seus comentários, antes de serem meros palpites, são elaborações do pensar que promovem o debate salutar em busca de nos aproximarmos da verdade, que nunca é completa. É dos erros e autocrítica deles, mas direcionados para um pensar humanista que podemos crescer como seres humanos, oxalá antes que o capitalismo nos extermine.
Um abração, Dalton Rosado.
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