sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

A REVOLUÇÃO NA LIBERTÂNIA – 3

(continuação deste post)
M
arcada a paralisação para uma data amplamente difundida e sem precisar de códigos clandestinos que seriam facilmente decifrados, ela consistiu tão-somente numa anti-ação destinada à destituição do poder vertical do Estado e instituição de uma ordem horizontalizada de decisões. 

Ou seja, todos foram convocados para que:
— estocassem em casa alimentos não perecíveis, água potável, gás de cozinha ou lenha para longo período;
— ninguém saísse às ruas; e
— quando alguém fosse ameaçado de prisão, que se prendessem, isto sim, os autores da ameaça, graças à ação de grandes grupos de cada comunidade (tais prisioneiros foram mantidos incomunicáveis como forma de barganha e pressão, bem como para intimidarem-se os policiais e/ou militares do governo).

Ademais, todos foram alertados no sentido de não darem pretextos para confrontos bélicos nas ruas (ficar em casa era mais eficiente, pois o capitalismo precisa dos braços humanos a serem explorados). 

No dia divulgado pela internet as ruas amanheceram e continuaram vazias. 

As indústrias e os prestadores de serviços, ainda inseridos na relação de trabalho remunerado pelo dinheiro, não tinham braços para dar vasão aos interesses do capital. 
"Imagine que não existem posses/ Eu me
pergunto se você consegue" (John Lennon)

Inicialmente o governo lançou um decreto ameaçando de prisão quem não comparecesse ao trabalho. Em vão, pois sequer existiam prisões, contingente policial e viaturas disponíveis para tal empreitada, além de a população já ter percebido que a correlação de forças lhe era favorável.   

Transcorridos 30 dias com a paralisação completa das atividades econômicas, todo o sistema capitalista fundado na forma-valor foi ruindo à medida que as mercadorias iam perdendo valor de troca. A própria moeda oficial era vista, cada vez mais, como simples papel colorido e o escambo não se mostrou factível, pois o próprio mercado se deteriorava de tal forma que já se havia tornado um espeço meramente marginal.

Após 60 dias de greve geral dos braços parados, veio a capitulação do governo e a instauração de uma nova ordem jurídica constitucional, na qual:
— aboliram-se as moedas;
— aboliu-se a propriedade, entronizando-se a posse e uso efetivos como critério de ocupação de imóveis e unidades de produção;
— criaram-se cupons eletrônicos de abastecimento individual; capazes de suprir necessidades de consumo mensal;
— instalaram-se centrais de abastecimentos nos bairros e grandes centrais em cinco zonas da capital e uma em cada cidade menor;
— criou-se uma nova constituição e leis civis e penais consentâneas com o mesmo espírito; e
— passou-se a utilizar toda a tecnologia de produção social e serviços existentes, para que o conjunto da população fosse abastecido comodamente.

Ninguém ficaria à margem do processo de produção, de modo que, com menos horas de esforço por parte de cada cidadão, se pudesse aproveitar todo contingente populacional no suprimento das necessidades de abastecimento alimentar, energético, de água, de habitação, de transporte, de remédios, de atendimento hospitalar, as práticas esportivas nas mais variadas espécies), de informação midiática plural isenta e sem remuneração, etc.

O uso racional do tempo permitiu que as pessoas se dedicassem muito mais ao lazer; o ócio produtivo passou a estimular fortemente as artes, as descobertas científicas, os inventos engenhoso e práticos

Os avanços científicos, desde a engenharia genética até as vacinas e remédios, deixaram de ser reserva de mercado das patentes e das empresas delas detentoras, passando a ser disponibilizados amplamente para a população, que foi compreendendo melhor a obviedade de que em nenhum produto ou serviço existia antes um grama sequer de dinheiro.

Caiu para o povo a ficha de que o dinheiro, ao invés de estimular a produção de bens de consumo e o acesso a eles, fazia justamente o contrário, e que o novo modo de produção veio dar um fim ao jugo castrador da viabilidade econômica (o item, por mais que fosse necessário, só ser produzido se suficientemente lucrativo).  
Foram, contudo, surgindo os
contras, que, diante das dificuldades iniciais de implantação passaram a tentar solapar a nova ordem instituída,  criando grupos de saudosistas do poderio econômico e político que haviam perdido. 
Mas, a evidência da justiça social em curso e as perspectivas de progressos coletivos e abrangentes bastaram para abortar as tentativas de volta ao passado. 

Libertânia, mesmo com as ameaças externas, passara a ser exemplo mundial e a respirar outros ares; sua população sentiu júbilo por ter feito a revolução e haver sido a primeira a emancipar-se defintivamente do jugo da escravização moderna e cruel do capitalismo.  

Quando se conhece a justiça, a segurança, a satisfação do consumo, a sustentabilidade ecológica e comodidade socialmente proporcionadas, não há tentativa de retrocesso à injustiça que prospere! (por Dalton Rosado)  
Depois de dar o roteiro acima, só faltou o Dalton dizer: "Vamos nessa!"
Mas, já o tinha feito nesta sua composição, gravada pela Graça Santos

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