quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

A REVOLUÇÃO NA LIBERTÂNIA – 2

(continuação deste post)
No cult Jonas, que terá 25 anos no ano 2000, cabe 
às crianças resgatar e unificar as tendências que se
dispersaram 
no pós-1968, conduzindo-as à vitória.
 
O
s sindicatos, contestados na sua proposta de mera obtenção de resultados, passaram a não mais reivindicar salários e empregos, mas sim a fazer o chamamento aos seus associados para que se incorporassem às indústrias e fazendas de produção sem remuneração e voltadas para a produção de itens a serem gratuitamente distribuídos. 

À altura, o grande embate sindical se dava entre, de um lado, as direções adeptas da tradicional reivindicação de melhoras salariais (cada vez menos fortes na correlação de forças com o capital, em face do numeroso exército de desempregados); e, do outro, as muitas direções sindicais que haviam trocado o antigo sindicalismo de resultados pela crescente sindicalização emancipacionista, consistente numa produção social fora da lógica do valor e do mercado. 

Nas décadas anteriores as manifestações de ruas haviam sido reprimidas com violência e mortes. 

O embate então se dava entre uma população desarmada, ainda crédula na representação política burguesa, e as forças militares de governos que só tinham tal resposta a dar, pois não podiam atender aos reclamos da população por absoluta falta de meios (o dinheiro cada vez escasso do Estado falido) e falta de vontade política. Os confrontos acabavam descambando para carnificinas infrutíferas.

A proporção de baixas nestes embates em praças públicas era de 50 civis para cada militar morto. O mais impressionante é que muitas vezes entre os mortos estavam parentes próximos dos militares que, a troco de um soldo mensal, barbarizavam a população desesperada. 
 Sítio Brotando a Emancipação, em Fortaleza 

Entretanto, uma nova forma de pressão popular contra a tirania social e ecológica do capitalismo ainda renitente passara a tomar forma, impulsionada pelas facilidades de comunicação (via satélite) que o próprio capitalismo introduzira, com internet e celulares baratos.

Tais celulares (cada pessoa tinha um e cada um e vivia agarrada à telinha) traziam frases instrutivas, debochadas e revolucionárias que calavam fundo nas consciências populares, tais como: 
— a mercadoria é o ópio do povo; 
— não trabalhe jamais;
— a emancipação do homem será total, ou não será; 
as armas da crítica passam pela crítica das armas; 
— abaixo o realismo socialista, viva o surrealismo; 
— a imaginação toma o poder; 
— é proibido proibir; 
— não mude os empregadores, mude o emprego da/na vida; 
— pare o mundo que eu quero descer;
— pela autogestão da vida cotidiana; 
— não nos prendamos ao espetáculo da contestação, passemos à contestação do espetáculo; 
— os sindicatos são uns bordéis; 
— professores, vocês nos fazem envelhecer. 

A vida pode ser bem melhor, e será!
Assim, a doutrinação social sobre como obter os meios de subsistência e como ajudar na sua produção semiclandestina ganhava espaço e, mesmo sendo fortemente vigiada pelo serviço de inteligência do governo, conseguia burlar tal vigilância (inclusive graças ao número cada vez maior de participantes, comparativamente ao dos incumbidos de os controlarem).

Quando alguém era intimado por um policial a comparecer a uma delegacia sob a acusação de ter cometido crime contra a economia estatal, já era comum a retaliação solidária dos vizinhos e de uma força comunitária anti-repressão que se criara em cada bairro. A ida à delegacia se dava sob escolta de um grande contingente de pessoas solidárias, o que inibia a prática de arbitrariedades. 

O lema então vigente passara a ser mexeu com um de nós, mexeu com todos!. O sentimento de defesa comunitária havia se difundido de tal maneira que as forças de repressão passaram a ficar pisando em ovos quando tinham de cumprir tais ordens arbitrárias. 

Sob tal perspectiva, aos poucos foi sendo difundida uma estratégia de ação para derrubar definitivamente o sistema capitalista combalido e sua força política e policial estatal protetora. Já se sentia o apoio e a força propulsora da revolução. (por Dalton Rosado  continua neste post)

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