quarta-feira, 3 de novembro de 2021

QUANDO VÊ ALGUÉM SENDO APEDREJADO, A REAÇÃO TÍPICA DO BRASILEIRO É APANHAR PEDRAS PARA APROVEITAR O EMBALO

Por que Jair Bolsonaro pôde disputar a presidência da República depois de passar décadas rasgando seda para criminosos atrozes do regime militar, negando que eles fossem torturadores e assassinos a serviço de uma ditadura bestial e condecorando mafiosos tão repulsivos como os milicianos do Rio de Janeiro?

Porque, ao contrário das nações civilizadas, o Brasil não pune como deveria quem apregoa genocídios e crimes contra a Humanidade. Se ele houvesse, num país de  verdade, defendido práticas equivalentes, como as do Holocausto, não teria concorrido a eleição nenhuma em 2018, salvo, talvez, a de xerife da sua cela.

Então, fico chocado ao ver tamanha tempestade de ódio desabando sobre o jogador de vôlei Maurício Souza por ter escrito uma besteirinha ("Ah, é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar"), a respeito do manjadíssimo truque de difundirem uma imagem chocante para promoverem um produto qualquer  no caso, a do beijo gay dado pelo Superman, um personagem de quadrinhos no qual só debiloides e infantilizados prestam atenção.

Isto foi infinitamente menos grave do que as loas a homicidas, torturadores, estupradores, ocultadores de cadáveres e outros crimes hediondos, aquelas loas que jorravam da boca de um deputadozinho do baixo lixão (ôps, quer dizer, do baixo clero) chamado Jair Bolsonaro, vulgo palhaço sinistro.

No entanto, nunca houve uma corrente semelhante, que obrigasse o Legislativo a expurgar do seu seio um personagem tão transgressor de nossas leis, tão desumano, tão grosseiro e tão contumaz nas quebras do decoro do cargo. E centenas de milhares de brasileiros, durante a pandemia, morreram de óbitos evitáveis porque tal mostrengo estava envergando (na verdade envergonhando) a faixa presidencial.

É claro que, para denunciar o protegido da máfia miliciana, era necessário um mínimo de coragem. Para crucificar um mero jogador de vôlei, basta a ânsia de descarregar suas frustrações e a existência de um alvo fácil à disposição. 

O esporte favorito dos brasileiros não deveria ser futebol, mas sim bater em bêbados. (por Celso Lungaretti) 

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