A monstruosidade do Governo Bolsonaro em evidência no presente momento (logo surgirá outra, o estoque não acaba nunca...) é a parceria criminosa com o plano de saúde Prevent Senior para a realização de pesquisas de alto risco sem o conhecimento nem o consentimento dos conveniados, reduzindo-os, na prática, a cobaias humanas, enfocada no post anterior.
Trata-se, portanto, de um bom momento para revermos um filme de 1977 em que tal prática abominável, da qual eram vítimas compulsórias os prisioneiros de campos de concentração, é importante para o desfecho da trama.
Trata-se de O ovo da serpente, que traz a prestigiosa assinatura de Ingmar Bergman como diretor, mas, na minha opinião, começou com tudo e depois não manteve o pique.
O impacto inicial se deve a ser o filme que melhor reconstituiu, até hoje, o impacto de um colapso econômico na vida dos cidadãos comuns (uma situação muito afim com o soturno momento pelo qual passamos).
Falo, é claro, da hiperinflação alemã de 1923, quando o dinheiro não valia mais nada e as pessoas haviam perdido toda perspectiva de futuro; ou estavam prostradas, sem forças para reagirem aos infortúnios que as esmagavam, ou sofregamente perseguindo prazeres como se o mundo fosse acabar logo em seguida.
Fica muito claro que, não suportando a falta de uma âncora para suas existências, os alemães tenham se deixado mesmerizar pelos discursos raivosos daquele salvador da pátria com bigodinho engraçado, inspirador do mito micado brasileiro.
Mas, após uma primorosa primeira metade, o filme saiu dos trilhos. Bergman quis detalhar o ovo da serpente e não o soube fazer. A trama se torna policialesca a partir do momento em que seu foco se direciona para as primeiras experiências nazistas com cobaias humanas, e aí uma profusão de clichês invade a tela. Parece até filme hollywoodiano sobre o Holocausto.
De resto, os fãs sofisticados (ou seja, quase todos) do Bergman se escandalizaram com a escolha de David Kung Fu Carradine para o papel principal, ao invés do Max Von Sidow de sempre. Segundo a visão preconceituosa desses esnobes, Carradine não tinha pedigree suficiente para o cinema de arte. Eu, pelo contrário, o considerei um dos pontos altos do filme... (por Celso Lungaretti)
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