quinta-feira, 30 de setembro de 2021

COM O BOZO O BRASIL PASSOU A TER, COMO NUNCA, UM GOVERNO DE E PARA O CENTRÃO

A rainha da Inglaterra (esq.) e o real presidente (dir.)
william waack
NUNCA FOI
 TÃO BOM
Em 2005 o então presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, insistia com a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, para que ela cumprisse uma promessa feita pelo presidente Lula. 

“O que o presidente me ofereceu foi aquela diretoria que fura poço e acha petróleo. É essa que eu quero”, foi a célebre frase de Severino, empenhado em colocar um afilhado na Petrobras.

Para os herdeiros políticos de Severino Cavalcanti o mundo melhorou muito nesses últimos 16 anos. Depois de um mensalão, uma Lava-Jato, um impeachment e uma onda disruptiva (com a promessa de que tudo iria mudar), o cargo de presidente da Câmara que ele ocupou equivale hoje ao de um primeiro-ministro. Com poderes para vociferar, ao mesmo tempo, contra a Petrobras e os governadores, mantendo, ao mesmo tempo, a faca no pescoço do presidente da República.

Foi o caso no show armado pelo atual presidente da Câmara, Arthur Lira, em torno da política de preços da Petrobras. 

Não se tratou apenas do costumeiro espetáculo eleitoreiro de políticos preocupados com o efeito corrosivo do formidável aumento dos preços de combustíveis sobre a popularidade de quem disputa votos. Foi uma manifestação eloquente de como as forças unidas do centrão ditam hoje a agenda política, além de mandar no Orçamento.
No caso da estatal do petróleo, Lira fala por uma espécie de
consenso de amplo espectro, nacional-desenvolvimentista/varguista/petista ou o que seja, segundo o qual empresas públicas devem refrescar a vida de consumidores, servir de ferramentas de desenvolvimento (não importa a definição), garantir a soberania nacional (outro conceito elástico) e proporcionar empregos diretos e indiretos. 

Só pode ser piada a promessa de Paulo Guedes de privatizar a Petrobras nos próximos dez anos.

Lira, como herdeiro de Severino, fala também por um consenso político amplo quando comemora a aprovação da reforma administrativa e da mexida no IR. Afinal, privilégios de corporações existem para serem mantidos – objetivo atingido na reforma administrativa. 

E renúncias fiscais para serem preservadas, missão cumprida em relação ao cipoal tributário, que ficou ainda mais intrincado, mas garantiu muitos interesses setoriais. Seria uma injustiça, porém, designar Lira e o centrão como forças do atraso

Recente levantamento das elites parlamentares, feito pela consultoria Arko Advice, menciona um total de 124 deputados e senadores. A maioria dessas lideranças vem do Sul e Sudeste (juntos, superam o Nordeste) e mais da sua metade está dividida entre partidos grandes (PT, PSD, MDB e DEM), embora seja relevante notar que outros 20 partidos ostentam integrantes nessa elite parlamentar

São personalidades políticas em parte muito diversas, comandando blocos fracionados de votos em função de serem articuladores, ou detentores de cargos formais, ou representando setores, ou grupos religiosos, ou de pressão, ou tudo junto. 

Note-se que nessa tipologia de liderança não surgem categorias políticas clássicas, como a afiliação ideológica ou programática do integrante da elite do Congresso.

Governar com o centrão foi imperativo para todos os presidentes até aqui, dadas as perversas características do sistema de governo brasileiro, mas é com Bolsonaro que o Brasil passou a ter um governo do e para o centrão

Tem suas inegáveis vantagens imediatas, considerando os acontecimentos em torno do último 7 de setembro: o centrão, ao qual bagunça é o que pouco interessa, foi uma das forças eficazes em frear a maluquice presidencial.

Visto de forma mais abrangente, porém, o governo do 
centrão da era Bolsonaro é a expressão da paralisia política, da falta de projeto de país, da estagnação da produtividade, da incapacidade de se combater desigualdade e injustiça sociais. 

Essas forças diversas ocuparam o natural espaço deixado pela falta de lideranças políticas abrangentes e com visão. Não estão interessadas em grandes alterações, apenas em equilibrar seus interesses.

Para quem está preocupado em conseguir diretorias que furam poço, nunca foi tão bom. (por William Waack)

Um comentário:

Anônimo disse...

Alfredo Setubal, presidente da Itaúsa entrevista - O Globo
https://www.4shared.com/s/fxAsVaIaViq

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