(continuação deste post)
A transformação necessária passa pela adoção de um modo de produção voltado para a satisfação do consumo, e não para a realização do lucro.
Trata-se de uma iniciativa que naturalmente vai convergir, até por consequência, com as práticas e conceitos humanistas de convivências sociais e ampliação dos ganhos civilizatórios, ao invés dos retrocessos que ora são defendidos por dirigentes políticos energúmenos, obedientes à restrição de direitos em face da debacle capitalista.
Um esclarecedor exemplo de pragmatismo pernicioso podemos extrair da postura do Boçalnaro, o ignaro.
Quando ele ainda pensava estar politicamente forte, atacava o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal enquanto instituições (não esqueçamos da frase do seu filho 03, de que bastavam um cabo e um soldado para fechar o STF).
Agora, acuado e temendo ser defenestrado do poder à medida que aumenta cada vez mais o número de brasileiros convictos de sua incompetência administrativa, dubiedade política e descaso com a vida dos conterrâneos, afora as provas contundentes que vão surgindo de existência de corrupção grossa no seu governo, nega melancolicamente aquilo o que até ontem pregava para sua claque de fanáticos obtusos.
Cessando a condenação oportunista da velha política, reassumiu seu lugar de membro permanente, com carteirinha assinada, dessa corja de fisiológicos, tomando lá do centrão tudo que lhe fosse útil para evitar o afastamento anunciado e dando cá para tais parasitar as chaves de todos os cofres do erário.
Depois de reiteradas ofensas e ameaças aos senadores e deputados federais, bem como aos ministros do STF e do TSE, passou a conciliar com o presidente do Supremo e com os dirigentes do Legislativo, pregando a paz e a harmonia entre os poderes, tão manso como um lulu de madame.
Do neoliberalismo do final do século 20, professado por Paulo Guedes, retrocedeu para o nacionalismo de meados daquele século, ainda popular entre os militares e uns poucos nostálgicos de um mundo pré-globalização que não voltará jamais. Assim, o Boçalnaro agora deixa claro que esse negócio de privatização de empresas públicas foi somente bravata de campanha eleitoral e de discurso para os seus adeptos mais inconformados com o singelo fato de que a História marcha para frente e não para trás...
O ex-juiz Sérgio Moro, endeusado como paladino da justiça bolsonarista e super-homem inflado nas manifestações públicas, foi removido do ministério ao discordar do aparelhamento da Pasta da Justiça, jogado fora após ser usado para tornar crível a lorota de que o Boçalnaro ergueria a bandeira anticorrupção.
O simbólico ex-juiz e ex-ministro da Justiça tornou-se, em pouco tempo, um adversário detestável. A farsa de ambos estará relegada ao lixo da história.
Diante da iminência de perda da eleição de 2022 (se antes não for destituído do poder, possibilidade cada dia mais admitida por todos) prega contra o processo eleitoral que o elegeu, como se este tivesse sido fraudado por manipulações eletrônicas. Mas, não ilude ninguém ao investir desde já numa justificativa para a derrota e num pretexto para tentar melar o pleito, mais uma vez seguindo as pegadas do seu guru, o também trapalhão Donald Trump.
O pragmatismo mambembe do Boçalnaro tem um único objetivo: manter-se no poder.
Mas ele não percebe que, em política, a coerência com uma linha de pensamento e ação por parte de um governante conspira contra o pragmatismo orientador das ações de governo que venha a adotar de modo oportunista.
Quando se muda rapidamente da água para o vinho como ele o faz, perde apoio entre os seus, que se afastam, decepcionados com a negação dos dogmas anteriormente defendidos e prometidos (apoio militar incondicional às iniciativas disparatadas da extrema-direita, combate à corrupção –lembram-se da promessa de abrir a caixa preta do BNDES?– e ao fisiologismo político, desestatização das empresas públicas, mais Brasil e menos Brasília, etc., etc., etc).
Boçalnaro é negacionista até dele mesmo.
A busca da verdade social, ainda que nunca seja absoluta, tem ojeriza ao pragmatismo. Então, a justiça social construída consistentemente sob bases sólidas, sem oportunismo, ainda que demore a se estabelecer, quando o fizer, será de modo irreversível.
(por Dalton Rosado)
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