Segundo a atualização de hoje (19/03) das contaminações e óbitos da covid-19 no mundo, os EUA continuam encabeçando as duas listas, com 29,9 milhões de contaminados (9,07% de sua população) e 545.131 mortos (0,16% de sua população).
O Brasil ocupa o segundo lugar, com 11,8 milhões de contaminados (5,57%) e 287.499 mortos (0,14%).
Vale notar que o percentual de contaminações é bem maior nos EUA, mas o de óbitos quase igual (ou seja, os infectados têm chance significativamente maior de sobreviverem lá do que aqui).
E, como todos sabem, os índices vêm piorando aqui e melhorando nos EUA, porque a âncora que arrastava os estadunidenses para o fundo do poço era o negacionismo de Donald Trump, enquanto seu sucessor na presidência do país, Joe Biden, está dando total prioridade ao controle da pandemia, inclusive prometendo completar a vacinação do total da população do país em maio próximo.
Conclusões mais esclarecedoras podem ser extraídas da comparação entre Brasil e Índia, a terceira pior colocada no ranking, pois as realidades sociais são mais próximas entre si.
A Índia continua pobre (PIB de US$ 2,59 trilhões para uma população de 1,36 trilhão de habitantes) e o Brasil, nem tanto (US$ 1,26 trilhão x 211,76 bilhões hab.), mas vem empobrecendo sistematicamente nas últimas décadas.
A Índia, com uma população cerca de 5,5 vezes maior que a brasileira, acumulou até agora 11,5 milhões de contaminados (0,84% de sua população) e registra 159.216 óbitos (0,01%).
Cotejar o Brasil com a Índia é mais esclarecedor para nós. A diferença em termos de letalidade, p. ex., é simplesmente gritante: dos que se contaminam no Brasil, 2,44% morrem; dos que têm a mesma infelicidade na Índia, só 1,39%.
Parece detalhe de pouca monta? Não é. Permite-nos concluir que, se a covid fosse tratada no Brasil com os corretos padrões indianos, baseados na ciência e não no achismo de um leigo metido a besta, nossos 287.499 mortos até agora se reduziriam a 163.753 vítimas.
Tais cálculos nos dão uma ideia aproximada do ônus do negacionismo obtuso e da sabotagem sistemática ao combate científico da covid por parte de Bolsonaro: mais de 120 mil mortes que poderiam ter sido evitadas!
Noutras palavras, uns 40% dos óbitos ocorridos no Brasil devem ser colocados na conta do dito cujo, porque tudo leva a crer que não ocorreriam se tivéssemos um presidente mentalmente são e com a competência necessária para ocupar tal cargo (*).
Por último, pode-se aplicar a Bolsonaro o rótulo de homicida? Não se nos ativermos à definição convencional, de "ato de exterminação sistemática de um grupo étnico ou todo ato deliberado que tenha como objetivo o extermínio de um aspecto cultural fundamental de um povo".
Mas, a convenção da ONU de dezembro de 1948 abriu o leque, passando a encarar como genocídio vários atos cometidos "com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso".
Várias vezes Bolsonaro manifestou seu desprezo pelos idosos (um dos principais grupos de risco da pandemia), com frases nas quais se referia a eles praticamente como descartáveis.
E, com a tomada de decisões que em nenhum momento ofereceram proteção efetiva aos mais pobres, fornecendo-lhes auxílio emergencial irrisório, obrigou-os a aglomerarem-se em transportes coletivos lotados para colocarem comida na mesa familiar.
Além disso, com um charlatanesco kit covid, que nenhuma proteção real proporcionava contra a pandemia, fez com que acreditassem estar a salvo da contaminação, impelindo-os a exporem-se insensatamente.
Afora ter sempre dado o exemplo criminoso de manter comportamentos que deveriam ser maximamente evitados: circular em ambientes públicos sem máscara e participar de aglomerações (no caso dele, geralmente as provocando, como se colocar em risco a vida alheia lhe proporcionasse imenso prazer).
Sua influência nefasta inevitavelmente terá acarretado mais mortes entre os pobres e vulneráveis, incapazes de proteger de forma adequada a si próprios e que foram abandonados pelo governo federal quando mais careciam de verdadeiro apoio.
Ele concorreu, portanto, para as mortes em cascata de brasileiros reduzidos à miserabilidade e estimulou preconceitos contra idosos, que certamente acabaram encurtando a vida de muitos deles.
Que os doutos decidam se tudo isso caracteriza ou não genocídio. Não tenho dúvida nenhuma de que sim.
Assim como estou certo de que os tribunais chegarão à mesma conclusão quando, passado o pesadelo atual e afastado da presidência da república quem jamais deveria tê-la exercido, sejam apurados os crimes perpetrados neste período hediondo, o mais vergonhoso de nossa História. (por Celso Lungaretti)
* Já o epidemiologista Pedro Hallal, ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas, estima que 75% das mortes por covid-19 poderiam ter sido evitadas no Brasil caso o governo federal e o Ministério da Saúde não houvessem desenvolvido "um trabalho tão vexatório no enfrentamento da pandemia". (CL)
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