Quando já ia colocar no ar o excelente artigo de Eliane Cantanhêde sobre a crise militar que, tudo leva a crer, abrirá caminho para a
destituição do cada vez mais isolado, esvaziado e descontrolado presidente Jair Bolsonaro, tomei conhecimento de que os comandantes das três Armas entregaram seus cargos na manhã de hoje (30), como desde ontem se previa.
A pergunta é: quem será o próximo presidente? A mim me parece que o general Hamilton Mourão já pode ir preparando seu discurso de posse.
E que o melhor será todos lhe darmos um crédito de confiança, pois a possibilidade maior é a de que ele instale um governo de salvação nacional, depois de o Brasil passar 27 meses sendo destruído.
Mantenho a publicação do artigo da Eliane, pois ele é fundamental para entendermos o desfecho deste que deverá ser um dos últimos episódios de um drama prestes a terminar.
Só acrescento a informação do Ricardo Kotscho, de que o pomo da discórdia que levou Bolsonaro a acelerar sua autodestruição foi a negativa do ministro Fernando Azevedo e Silva, quando o genocida lhe pediu o apoio dos fardados para colocar o Brasil sob um desnecessário, aberrante, ilegal e golpista estado de sítio. (o editor)
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eliane cantanhêde
COMANDANTES DAS FORÇAS ARMADAS DIZEM A NOVO MINISTRO DA DEFESA QUE NÃO DARÃO UM PASSO PARA CONTRARIAR A CONSTITUIÇÃO
Dos três comandantes militares, apenas o do Exército, general Edson Leal Pujol, está decidido a sair do cargo em qualquer circunstância.
Os comandantes da Marinha, Ilques Barbosa, e da Aeronáutica, Moretti Bermudes, vão também entregar os cargos formalmente, mas a permanência deles nos cargos depende da conversa e da reação do novo ministro da Defesa, general Braga Netto.
Pujol reuniu o Alto Comando do Exército na 2ª feira (29) à noite e os três comandantes vêm discutindo cenários desde que o presidente Jair Bolsonaro demitiu o seu velho amigo Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa – ou pediu o cargo, no linguajar de Brasília. Nesta 3ª feira, 30, os três têm encontro com o ministro que sai e com o ministro que entra.
Eles apoiam a postura do general Fernando, de impor limites ao envolvimento das Forças Armadas na política, mas conhecem e elogiam o sucessor Braga Netto e não acham que ele possa ultrapassar limites. A intenção dos três comandantes é deixar claro que não darão um passo que possa contrariar a Constituição ou caracterizar ingerência nos outros Poderes, o Judiciário e o Legislativo.
Assim, a bola está com Braga Netto e tudo depende de como evoluir a conversa. Pujol está fora, tanto por vontade própria quanto por decisão de Bolsonaro, que vem acumulando divergências com o comandante do Exército desde que ele disse, no ano passado, que a política não pode entrar nos quartéis. Esse é um dos grandes mandamentos militares em regimes democráticos, mas Bolsonaro não gostou.
Quanto ao almirante Ilques e o brigadeiro Bermudes, há dúvidas ainda. Eles podem sair por discordar das investidas de Bolsonaro para sugar as Forças Armadas para a política –a sua política–, ou podem ficar por seguir uma regra militar: missão se cumpre.
De toda forma, há muitas dúvidas ainda sobre a troca no Ministério da Defesa e as maiores delas são qual a orientação que Bolsonaro deu para Braga Netto e se ele, o novo ministro, está disposto a seguir o mantra do general Eduardo Pazzuelo na Saúde: um manda, o outro obedece.
Ou seja, se, ao contrário de Fernando Azevedo Silva, Braga Netto está sendo nomeado para seguir à risca tudo o que seu mestre Bolsonaro mandar.
O recado, porém, está dado. Se havia a sensação na sociedade de que os militares são um monobloco, pensam todos da mesma forma, são todos a favor de Bolsonaro e estão todos dispostos a seguir com ele em qualquer aventura antidemocrática, essa sensação evaporou com a posição firme do general Azevedo e Silva a favor da legalidade e da institucionalidade.
Há resistência nas três forças armadas, sim, a qualquer tipo de projeto autoritário. Essa é uma grande novidade, a ser comemorada –e mantida. (por Eliane Cantanhêde)
Uma canção para lembrar que nem sempre os
militares sustentam déspotas; também os depõem.
2 comentários:
Caro Celso
Seus tres últimos 'posts' adensam a situação
Somem-se a eles o artigo de Rui Martins noo Correio do Brasil "E se os evangélicos participarem de um golpe?"
e mais "Deputada dos EUA chama Bolsonaro de ‘genocida’e propõe intervenção no governo brasileiro" também no Correio do Brasil e
um apanhado geral "Radicalização política e militar - Frases do dia", a Unisinos
http://www.ihu.unisinos.br/607956-radicalizacao-politica-e-militar-frases-do-dia
E agora, ainda falta muito?
Abraços, Fausto Neves
Acredito que, se a pandemia deixar, o mês de julho será um mês de alívio, como antigamente, já com o Bozo bem longe do Palácio do Planalto.
Há tempos venho escrevendo que dificilmente ele passaria deste semestre. Agora tal possibilidade é maior do que nunca.
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