Na aliança com o Lula não caberia o quarto personagem |
Como na luta pela liberdade de Cesare Battisti eu recebera ajuda de vários jornalistas que me transmitiram informações de bastidores muito valiosas para a vitória de nossa causa, pensei em repetir o efeito num mandato paulistano.
Ou seja, sem o mínimo interesse em iniciar uma carreira de político profissional aos 62 anos, o que eu queria era colocar sob os holofotes da mídia o máximo possível de denúncias consistentes das maracutaias, abusos e injustiças que eram cometidas pela classe político-criminosa municipal.
Um cacique do Psol me deu o que supus ser um aval para minha intenção e, ingenuamente, acreditei que o partido fosse me ajudar a ser eleito tão somente porque eu era, de todos os aspirantes à vaga, o mais apto para cumprir o papel de pedra no sapato dos poderosos.
Mas, depois perceberia que isso acontecia era nos tempos do velho partidão, quando havia mesmo empenho em alavancar quem poderia servir melhor à causa. E quando os filiados votavam em quem os dirigentes apontavam.
Como fui ingênuo! Duas alas disputavam encarniçadamente cada naco de poder dentro do partido e, quando ambas se deram conta de que o Psol elegeria um único vereador, passaram a manobrar para que os respectivos seguidores descarregassem seus votos no nome por cada uma delas escolhido, desfavorecendo os demais candidatos promissores.
Caberia acrescentar: aliar-se desde já com o PT pra quê? |
Aquela a que eu pertencia chegou a enrolar-me durante semanas, acabando por não me fornecer as listagens de endereços residenciais e de e-mails dos eleitores da capital.
No dia em que as urnas se fecharam já escrevi que dali em diante não participaria mais de nenhuma atividade do Psol.
Meu primeiro impulso foi desfiliar-me do partido, mas o encaminhamento burocrático do rompimento dava (e dá) uma trabalheira danada. Fiquei, então, à espera de encontrar um partido que considerasse mais merecedor do meu apoio, pois, ao fazermos uma nova filiação, tal agremiação cuida ela mesma de desfazer o vínculo antigo.
Lá se foram oito anos e ainda não encontrei nenhuma; fui deixando como estava para ver como ficava.
Mas, se o Psol decidir mesmo atrelar-se desde já à candidatura de Lula para presidente (ao invés de, pelo menos, participar do 1º turno com candidato próprio), como é a tendência dominante neste momento, finalmente farei o que deveria ter feito lá atrás. E eles que expliquem por que saíram de um PT menos domesticado em 2004 para se tornarem forças auxiliares de um PT bem mais aburguesado agora.
Por que tanta contundência? Porque, num novo mandato que só lhe será concedido se tiver pactuado com o sistema, o Lula inevitavelmente se deslocará mais ainda para a direita. Em vez de algo como a Carta aos Brasileiros de 2002, provavelmente se ajoelhará perante o poder econômico, prestando-lhe humilde vassalagem (vide uma exposição mais elegante das minhas razões aqui).
E, embora eu vá fazer tudo que puder para que seja o quanto antes revogada a licença do Bolsonaro para matar brasileiros, tão logo ele seja expelido do Palácio do Planalto eu passarei a cuidar de assuntos mais importantes para o futuro da esquerda brasileira.
Ou seja, caso o novo governo venha a ser apenas a substituição da ultradireita estupradora pela direita vaselina, eu estarei é ajudando a forjar uma esquerda realmente combativa e anticapitalista no Brasil.
Como dizia o saudoso Raulzito, quem entra num buraco de rato, de rato tem de transar. Mas não me apetece o queijo rançoso das elites... (por Celso Lungaretti)
2 comentários:
Pois é, Celso
Uma vez me chamaram para entrar num partido e o que senti foi expresso pelo grande poeta Augusto dos Anjos.
"Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco".
Sentia-me muito nauseado ao ter que, por dever de ofício, compartilhar o mesmo ambiente e respirar o mesmo ar que aquelas pessoas.
Eternos fariseus, sempre dispostos a sacrificar a verdade.
Socorro-me do vate mais uma vez e cuspo, mas " o meu cuspo carrasco, jamais exprimiria o acérrimo asco que os canalhas do mundo me provocam"!
Desfiliei de sindicatos, associações e conselhos após aposentar-me.
Nunca cometi a ingenuidade de entrar em partidos políticos.
É moralmente insuportável a companhia de tais seres.
*
Martin.
A mim, companheiro, quando vejo as aspirações rasteiras e a falta de ideais dessa corja de políticos profissionais, vem-me à lembrança o desabafo de Paulo Martins/Jardel Filho no "Terra em Transe", filme pelo qual me apaixonei antes mesmo de entendê-lo direito, aos 16 anos:
"Não é mais possível esta festa de medalhas, este feliz aparato de glórias, esta esperança dourada no planalto.
"Não é mais possível esta festa de bandeiras, com guerra e Cristo na mesma posição.
Assim não é possível, a impotência da fé, a ingenuidade da fé...
Somos infinita e eternamente Prometeu dilacerado, e somos infinita e eternamente filhos das trevas da Inquisição e da Convenção, e somos infinita e eternamente filhos do medo da sangria no corpo do nosso irmão.
E não assumimos a nossa violência, não assumimos as nossas ideias com o ódio dos bárbaros adormecidos que somos, não assumimos o nosso passado (todo um raquítico passado de preguiças e de preces numa paisagem de tanto sol sobre almas indolentes estas indolentes raças de servidão a Deus e aos senhores uma passiva fraqueza típica dos indolentes)...
Ah, não é possível acreditar que tudo isto seja verdade!
Até quando suportaremos?
Até quando, além da fé e da esperança, suportaremos?
Até quando, além da paciência e do amor, suportaremos?
Até quando, além da inconsciência do medo, além da nossa infância e da nossa adolescência, suportaremos?"
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