david emanuel coelho
SOU PAULO GUEDES, MAS PODEM ME CHAMAR
PELO MEU NOME FANTASIA: JAIR BOLSONARO
De modo algum a matança presenciada no Brasil hoje é o resultado apenas do desejo pessoal do presidente da República.
De fato, pode ter extrapolado o patamar considerado aceitável, mas é, sob qualquer ângulo, o resultado do projeto (neo)liberal de austerícidio imposto pela burguesia brasileira ao país.
Comecemos pelo final. Ano passado, a contragosto, a burguesia tinha aceitado pagar R$ 600 de auxílio emergencial para o povo. Também havia declarado estado de emergência.
A contragosto, digo, porque tais ações resultaram em gastos públicos, reduzindo a fatia do orçamento que vai para as famintas bocas do financismo nacional e de outros setores da burguesia.
Não apenas aumentaram gastos, mas também significaram menor pressão sobre os trabalhadores no que diz respeito à busca destes por fontes de renda. Como consequência, houve menos gente procurando emprego e o custo da mão de obra ou subiu ou se manteve no mesmo patamar.
A burguesia detesta benefícios sociais porque estes encarecem a mão de obra. O trabalhador com fonte de renda assegurada não aceita qualquer salário. Isto vale para qualquer burguesia do mundo, mas vale ainda mais para a brasileira, pressionada pela baixa produtividade de sua economia e sempre ameaçada de ser engolida pelo capital imperialista.
Não à toa, ela é obcecada com o chamado custo Brasil, o qual é tão somente o custo com benefícios sociais.
Por isso, não é surpresa ter a burguesia, em termos administrativos, decretado o fim da pandemia no dia 31 de dezembro de 2020. Sim, nesta data a pandemia acabou para nossa elite, ao menos dentro do orçamento público.
No dia primeiro de 2021, não havia mais auxílio emergencial ou estado de emergência. O empresariado brasileiro lavou as mãos e voltou para seus afazeres, certo de ter feito o melhor que sua consciência cristã ditava.
Rodrigo Maia, capacho-mor desta turma, declarou em alto e bom som que não era mais necessário medidas do governo para enfrentar a crise sanitária. Estava tudo bem. Era hora de voltar a pensar nas reformas.
É este o motivo de não ter havido nenhuma ação efetiva do governo federal no combate à pandemia nos três primeiros meses de 2021. Sem auxílio, milhões de brasileiros foram obrigados a sair de casa para se contaminar em ônibus lotados e ruas abarrotadas. Milhões tiveram de se submeter a trabalhos precários, nos quais a segurança sanitária é a última das preocupações.
Em paralelo, a não continuidade do estado de emergência fez com o que o governo federal recuasse nas medidas de auxílio aos estados e municípios, não mais enviando recursos e mesmo fechando vagas hospitalares.
É cristalino para qualquer banqueiro ver: milhares de municípios não receberam um centavo de ajuda do governo nos três primeiros meses deste ano.
Em nome do quê foi feito isto? Ora, em nome da austeridade fiscal, o totem supremo da burguesia financista.
Foi para cultuar tal totem que o governo passou meses chantageando a população, ao condicionar a liberação de novo auxílio emergencial –uma esmola de 150 reais!– ao congelamento de salários de funcionários públicos.
Congelar estes salários, incluindo aí os do pessoal da saúde, é apostar na piora do serviço, afetando diretamente os trabalhadores. E, óbvio, estes sempre terão a iniciativa privada de braços abertos para atendê-los, desde que paguem e aceitem ser humilhados.
Portanto, a austeridade de Paulo Guedes, que é apenas o executor do projeto de classe da burguesia brasileira, é uma causa fundamental para o morticínio que nos atinge. O genocídio é um projeto de classe.
Clamam tanto pelo respeito à ciência, mas hoje nossas universidades e institutos estão à beira da falência, sem verba e sucateadas. Nossos principais cientistas fogem do país, indo procurar emprego em países centrais e não tão centrais assim.
Vamos repetindo no mundo acadêmico a sina do mundo futebolístico: por aqui só vão ficando os players de terceira e quarta categorias.
A imposição do ajuste fiscal conduz ao enfraquecimento da capacidade do Estado de responder a emergências, tais como a vivenciada hoje.
Um Estado cuja prioridade é não dar assistência ao povo, só pode ter como imperativo o salve-se quem puder. Não à toa, ele deve ter um chefe norteado pelo mesmo princípio.
Bolsonaro e sua lógica da morte não é acidente. Não é um acaso, muito menos um raio em céu azul. É a melhor expressão do projeto (neo)liberal da burguesia brasileira, daí a desregulamentação, a super-exploração, o egoísmo bárbaro, a renúncia à coletividade e a ideia do trabalhador como sendo um recurso descartável.
Por isso, a pregação bolsonarista contra as medidas sanitárias casam-se muito bem com o ideário econômico da burguesia nacional. E não é de espantar que 50% dos empresários recentemente entrevistados pela Folha de S. Paulo estejam ao lado do governo Bolsonaro em sua resposta à pandemia e em sua condução do país. Os demais 50% são os envergonhados, aqueles para quem a matança foi longe demais.
No fim, contudo, tanto uns, quanto outros, aferram-se ao (neo)liberalismo, sem se preocuparem com seus efeitos cruéis ou com quão inescrupulosos são seus executores. (por David Emanuel Coelho)
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