segunda-feira, 22 de março de 2021

ÀS FAVAS COM A ECONOMIA! (parte 2)

(continuação deste post)
Desta vez as 4 charges são do Jota Camelo, cujo
humor de resistência tem tudo a ver com este blog
V
ejamos alguns exemplos esclarecedores dessa idiossincrasia que termina sempre por se fundir no lugar comum da mesmice capitalista do presente e do futuro, até que seja superado enquanto forma de mediação social.

O atual governante, eleito dentro de uma conjunção de fatores próprios a uma insatisfação generalizada, apresentou como:
— um salvador da pátria que anunciava o fim da corrupção política; 
— um opositor das velhas práticas fisiológicas;
— um outsider da política;
— defensor do liberalismo econômico, embora na campanha eleitoral afirmasse não entender bulhufas da economia, sequer dominando as teses do seu posto Ipiranga (sobre as quais eximiu-se de falar por conta de um incidente altamente suspeito que lhe serviu de pretexto para fugir dos debates eleitorais).  

Agora, a verdade, como óleo dentro d’água, veio à tona:
— de salvador da pátria passou a genocida de parte substancial de sua população; 
— de tardio paladino do combate a corrupção passou a adepto e usuário dos mais espúrios expedientes do poder para dificultar o processamento criminal das rachadinhas nas quais incorria seu clã e noutro delitos potencialmente ainda mais graves; 
— de pretenso outsider pronto a combater a velha política (da qual fora apagado representante durante três décadas de sua vida) reassumiu-se como parça vocacional do centrão
— de pseudo-liberal privatizador de empresas voltou a revelar-se apenas mais um dos típicos nacionalistas militares (estatizantes e ávidos de assumirem o comando de companhias nas quais circula muito dinheiro e poder).
Digo sempre que nada há de mais liberal do que um nacionalista keynesiano quando as coisas na economia vão bem (ainda que elas nunca possam estar bem de modo linear a coletivo em termos mundiais ou locais abrangentes).

E também nada há de mais nacionalista keynesiano do que um liberal quando a economia vai mal como ora ocorre (e irá cada vez pior por força de de suas contradições intrínsecas e próprias do atingimento do seu limite interno de expansão). 

Assim, agora que a equipe por ele montada na pasta da Economia segundo um projeto liberal já se demitiu por não ter respaldo para fazer aquilo a que se propunha, somente o apego ao poder pelo poder justifica a permanência como ministro do Paulo Guedes, representante da chamada Escola de Chicago.

Mas voltemos à proposta deste artigo, que é a de evidenciar a inexequibilidade da manutenção da ordem econômica dentro da cartilha do economês tradicional, daí ser melhor mandá-la às favas, sem temermos eventuais retaliações dos poderosos. 

A verdade é que a vida social já está em frangalhos do ponto de vista dos indicadores econômicos e sociais, tendendo a ficar cada vez pior doravante. 

Devemos, portanto, promover a apropriação, em benefício do povo brasileiro, das nossas riquezas matérias, e alterar substancialmente as regras do jogo jurídico-mercantil, até porque  temos:
— território enorme e fértil, com densidade demográfica relativamente baixa onde tudo viceja (água, clima, grande potencial enérgico sustentável e limpo, costa marítima extensa, florestas, serras e planícies, fauna e flora diversificada, etc., etc., etc.); 
— capacidade de produção de alimentos voltada para a nossa satisfação alimentar prioritária, ao invés de focada na exportação de itens de baixa cotação no mercado (relativamente aos preços dos produtos tecnológicos e científicos que importamos), de vez que somos um grande produtor de grãos e proteína animal (temos mais gado do que gente, p. ex.);
— recursos minerais (petróleo, ferro e outros) com uso e exportação capazes de garantir o suprimento daquilo que não produzimos, mesmo que não tenhamos paridade de troca na mensuração econômica leonina; e
— como garantir direito de posse para quem precise morar e plantar (desde que não fiquemos para sempre atados à injusta preservação do direito de propriedade por parte de quem mantém a terra indefinidamente sem uso, apenas como um patrimônio a ser vendido se e quando surgir um negócio vantajoso). 

Estes são quatro elementos básicos que nos salvariam da tragédia que se anuncia. 

Os conservadores responderão com o alarmismo de sempre, augurando que tais proposições, inviáveis e inaceitáveis no entender deles, atrairiam tal retaliação internacional que acabaríamos todos mortos...

Os políticos da esquerda socialdemocrata e os comunistas tradicionais qualificarão tais proposições de temerárias, por inadequação momentânea circunstancial ou por apego aos seus nacos de poder submisso.

É claro que a adoção de tais medidas básicas representariam uma surpresa mundial e uma contrariedade à atual ordem econômica mundial opressora, podendo mesmo provocar retaliações no campo financeiro. 
Mas pergunto: qual o problema de virarmos as costas para uma ordem monetária falida que nos escraviza? 

A verdade é que as proposições acima listadas acabarão tendo mesmo de ser implementadas, se não no presente, num futuro próximo; e são verdadeiramente revolucionárias, correspondendo ao desapego aos limites opressores da lógica da forma-valor (dinheiro e mercadorias). 

Representam uma ruptura com a mediação social ineficaz e exaurida feita pelo padrão monetário falido.

Representam a conquista da vida para milhões de pessoas e de uma moral jurídico-social consentânea como um novo raiar de liberdade e construção coletiva contributiva. 

Fora disso é usar analgésico na ilusão de que o mesmo vá curar a infecção. (por Dalton Rosado)

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