Neste Natal, fiquei perto da TV e longe do computador, pois estava passando o dia com a minha filha mais velha.
E assim assisti à explicação sobre o que significava a perspectiva de que a vacina chinesa Coronavac não vá atingir um percentual de eficácia na casa de 90%, mas poderá ser utilizada desde que ultrapassasse o patamar de 50%.
Segundo o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da USP, uma vacina com eficácia de 90% permitiria que a imunidade de rebanho fosse atingida vacinando-se uns 70% da população brasileira.
Mas, a Coronavac ficou abaixo disso. Quão abaixo? O secretário da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, não sabe! "Ela foi eficaz, está acima de 50%, mas não sabemos se 60%, 70%, 80%. Essa informação está sigilosa e guardada a sete chaves" (em obediência a cláusula contratual do acordo com os chineses).
Como os testes não deram o resultado (ótimo) esperado, Gorinchteyn teve de entrar em detalhes para tentar desfazer a impressão de fiasco. E não se saiu exatamente bem, pois, pressionado, revelou o que preferiria ter omitido.
Trocando em miúdos, o objetivo principal da vacinação não é garantir a incolumidade do vacinado, mas sim propiciar a imunização de rebanho (quando o contágio do coronavírus vai se reduzindo até tornar-se residual).
Então, se a vacina tiver eficácia de 51%, p. ex., será necessário vacinar 90% dos brasileiros para obter-se a imunidade de rebanho.
A minha preocupação, contudo, é que o povo só irá (e vale ressalvar: talvez) em tal proporção aos postos de vacinação se acreditar que as duas doses da vacina o colocarão 100% a salvo da covid.
O que acontecerá se ele tomar conhecimento de que, mesmo vacinando-se, ainda terá 49%, ou 40%, ou 30% ou 20% de chances de contrair a doença? Vai vacinar-se na proporção necessária?
Ou seja, o amplo conhecimento da verdade vai dificultar ainda mais a luta contra a pandemia. É, contudo, simplesmente inimaginável conduzirmos o povo como boiada para os postos de vacinação, iludido por uma enganosa narrativa conveniente.
Quando superar o desgosto por suas férias em Miami terem sido abreviadas pelo chamado do dever, o governador João Doria se verá, ainda, com este abacaxi para descascar.
Bem feito, por ter adiado o endurecimento das restrições sanitárias para depois das eleições municipais, colocando a politicalha sórdida à frente da vida ou morte dos governados!
E, tão obcecado pela eleição de 2022 quanto o genocida do Planalto, Doria continua fazendo questão cerrada de iniciar a vacinação paulista no dia 25 de janeiro... para, obviamente, coincidir com o aniversário da cidade de São Paulo.
Há quem diga que o Doria não passa de um Bolsonaro que usa os talheres, ao invés de enfiar os dedos no prato para pegar a comida. Concordo. (por Celso Lungaretti)
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