domingo, 6 de setembro de 2020

BOLSONARO USOU A LAVA JATO E O ARAS JOGOU FORA, MAS É UMA BRIGA DE VILÕES

dalton rosado
O DESMONTE A JATO DA LAVA JATO E O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO BRASILEIRO
Com o perdão do trocadilho infame, estamos a observar o desmonte a jato da Operação Lava Jato. Há questões conceituais para esta ocorrência que não podem ser desconhecidas, caso contrário incorreríamos em grave ingenuidade de compreensão sistêmica. 

Repete-se o que ocorreu com a eleição de 1986, influenciada pelo Plano Cruzado do Governo Sarney, de triste memória (como temos lembrança amnésica!). 

Graças a ele a situação elegeu todos os governadores dos Estados brasileiros mas, poucos dias depois, o engodo eleitoral era desmascarado e o governo teve de partir para o Plano Cruzado II, pois a versão primeira derretia a olhos vistos.

A História se repete ciclicamente, agora com a Lava Jato, responsável em 2018 pelo triunfo de uma fornada de candidatos cujos discursos mais pareciam elegias sacrossantas de imaculada probidade. 

O PSL (Partido Suco de Laranja, ao qual Boçalnaro, o ignaro ensaia retornar, esquecendo todas as acusações que houvera feito) elegeu vários governadores e até um Presidente da República como se fossem defensores desde criancinhas do combate à corrupção.

Agora, vemos dois desses governadores (os do Rio de Janeiro e Santa Catarina) serem acusados com robustas provas de corrupção e afastados do cargo ou na iminência de sê-lo pela prática de tais atos, enquanto os filhos do presidente e até sua esposa não conseguem encontrar explicação minimamente plausível para o recebimento de dinheiro que tudo indica ter procedência ilegal.

A pergunta que até os paralelepípedos fazem (
Por que o Queiroz depositou R$ 89 mil na conta da Michelle???) e outras (O que são mesmo as rachadinhas dos parlamentares da família bolsonaro???) continuam sem resposta, levando-nos a concluir que há algo de podre no reino da Familícia

Os perspicazes já não têm quaisquer dúvidas de que os pretensos outsiders são legítimos continuadores da crapulosa tradição política brasileira (minha avó costumava dizer que o cesteiro que faz um cesto, faz um cento, assim que tenha cipó e tempo...). 

Para completar, a minha avó também dizia que pabulação de riqueza e santidade é sempre a metade da metade. Pois não é que o bispo Pastor Everaldo (aquele que, travestido de São João Batista, celebrou o batismo no rio Jordão do recém tornado evangélico Jair Messias Bolsonaro) também está preso por corrupção???

O combate à corrupção com o dinheiro público, como temos amiúde afirmado, é sempre ingênuo ou hipócrita, justamente porque:
— 
quando ocorre de maneira bem intencionada, é um equívoco de credulidade quanto aos bons propósitos, posto que se refere à preservação das finanças públicas de um Estado que desde a sua formação visa à manutenção de uma corrupção intrínseca ao modo de produção social atual, segundo o qual se permite a acumulação da riqueza abstrata (e material, por consequência) pelo capitalista (privado ou estatal) em detrimento de quem o produziu, aquele que é obrigado a vender a sua força de trabalho por valor inferior ao por ela gerado; e,
— quando ocorre de maneira sub-reptícia, nada mais é do que um crime, visando passar uma falsa imagem de austeridade e integridade com objetivos políticos inconfessáveis de riqueza pessoal e de assunção e manutenção do poder político.

Combater a corrupção com o dinheiro público, bem definido pela irônica expressão latina res nullius (ou seja, coisa de ninguém) e que só na letra falaciosa da lei é do povo, comumente se transforma numa tentativa de enxugar gelo que cedo é desmascarada como farsa ou boicotada por instrumentos de um poder que se mantém pela corrupção original de propósitos: a escravização indireta do capital.

Algo assim como acreditar-se que o tráfico de entorpecentes possa ser extinto pela ação policial. 

É graças a esse comportamento ingênuo ou hipócrita que assistimos (estarrecidos os crédulos e desvanecidos da dúvida os que nunca acreditaram na eficácia do combate à corrupção) ao desmonte de uma formação político-jurídica a partir de um núcleo de procuradores e juízes que macularam as regras de isenção que devem, teoricamente, presidir os julgamentos judiciais. 

Os que ora são justificadamente destituídos de suas funções, mas por um procurador-geral tirado da cartola pelo Boçalnaro fora dos critérios corporativos e ensejando graves suspeitas por partir de quem está implicado em vários episódios de possível corrupção com o dinheiro dito público, também agiram com postura de parcialidade que a Vaza Jato demonstrou irrefutavelmente (para a infelicidade dos que queriam manter o sigilo sobre tais fatos).

As duas partes nessa briga de poder marcada pela parcialidade de pretensos paladinos da justiça apenas deixa enojada a população mais esclarecida, que vê a cada dia serem solapados os seus recursos pessoais de manutenção de suas qualidades de vidas, bem como assiste impotente a um caricato retrocesso civilizatório (agora se defende, p. ex., a manutenção de um feto, qualquer que seja a sua formação ou circunstância em que foi gerado e nem mesmo considerar os riscos de vida para a grávida).   
O somatório de uma visão falsamente moralista da apropriação individual da riqueza produzida pela sociedade, conjuminado com preceitos religiosos fundamentalistas baseados numa leitura bíblica de interpretação subjetiva, transplantada de um passado remoto para a atualidade, sem os filtros de uma análise metafórica mais acurada, e manipulada pela esperteza de interesses específicos inconfessos, produz ressaltados desastrosos.

O Brasil vive um dos piores momentos de sua História, agora agravado por um desastre sanitário que já produziu mais de 125 mil mortes, configurando-se como uma tragédia humanitária sem precedentes nessas nossas terras tropicais, e sob o comando de um negacionismo governamental que contraria os números da realidade e do conhecimento científico como se continuássemos na Idade Média. 

Por favor, respeitem a nossa inteligência!!! (por Dalton Rosado)

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