dalton rosado
O CAPITAL E AS ARMAS DE FOGO
A transição do escravagismo direto dos servos europeus do feudalismo para o escravagismo indireto do trabalho abstrato capitalista não teria sido possível sem a participação do incremento da letalidade das armas de fogo.
As guerras de transição nos séculos 18 e 19 implicaram a necessidade de formação de exércitos regulares que eram remunerados em dinheiro, com o custeio de tais contingentes bélicos implicando não somente custos salariais (os soldos militares) e a alimentação, fardamento e alojamento das tropas, mas também (principalmente) a fabricação de armas de fogo e munições cada vez mais aprimoradas e caras.
Os Estados nacionais então em formação exigiam dinheiro para o custeio das lutas por hegemonias político-econômicas então em ascensão, em tudo diferentes das antigas guerras de armaduras e espadas nas quais eram os súditos dos reis e eventuais mercenários que participavam dos embates.
Passaram a se fazer necessários soldados agrupados em exércitos regulares cujos elevados custos em dinheiro tinham de ser bancados: era o que ditava o novo comportamento social e a necessidade político-burguesa de uma nova ordem jurídico-constitucional consentânea com o mercantilismo ascendente.
Portanto, as armas de fogo serviram como móvel auxiliar, ao mesmo tempo promotor e dependente, de uma nova ordem em formação: o capitalismo.
Por que se fabricam armas de fogo e, principalmente bombas (agora com a sofisticação e letalidade dos recursos bélicos que incorporaram à sua produção todos os saberes tecnológicos científicos), senão para dar sequência ao ethos original capitalista de escravização indireta???
Neste sentido, a defesa de liberação de armamentos é patrocinada pelo poder econômico da indústria bélica, em conluio com governantes de ultradireita como o destrumpelhado pato Donald, e o capitão Boçalnaro, o ignaro, os quais mais não são do que os representantes políticos da vertente capitalista opressora bélica.
Não é por menos que as arminhas são o gestual simbólico de um governante que cultua a morte e que não está nem aí para as cerca de mil mortes diárias que ora ocorrem no Brasil (nosso país caminha para o patamar número aberrante de 200 mil mortos até o final do ano se continuarem as irresponsáveis defesas de mobilidades sociais como se nada estivesse acontecendo).
O mesmo raciocínio de fuga para a frente a qualquer preço, sem a qual não sobrevive a sociedade capitalista, se observa mundo afora . É que predominam os interesses mercantis em detrimento do interesse da sobrevivência das populações oprimidas. O coronavírus expôs o oportunismo capitalista e sua insensibilidade utilitária com relação à vida dos seus cidadãos.
O mundo, que já contabiliza a macabra estatística de quase 800 mil mortes, caminha para 1 milhão de mortes até o fim do ano, repetindo a tragédia das mortes anunciadas que se vê no Brasil.
Os populistas de direita e de esquerda, opressores disfarçados de filantropos e salvadores da pátria, querem armar o povo manipulado para que defenda os seus interesses, ao mesmo tempo em que a indústria armamentista floresce e recolhe impostos.
Pari passu aumenta a miséria social.
O que dizer de um país cujo povo se regozija com uma mera ajuda de R$ 600, quantia que mal dá para o sustento alimentar de um única pessoa por um mês? Tal manifestação é a certidão de uma pobreza infinita que submete os famélicos ao tacão de um farsante ignaro que, com o parafuso solto na cabeça que a cada instante demonstra ter, talvez até acredite no seu próprio messianismo charlatão.
O poder da indústria bélica da morte é imenso, justamente porque ele ao mesmo tempo incrementa e sobrevive da morte. A cultura de paz é incompatível com a indústria bélica e com o capitalismo.
Há um processo de retroalimentação na indústria bélica. Ao mesmo tempo em que recrudesce a violência urbana por vários fatores (pobreza, crime organizado, tráfico de entorpecentes, etc.), guerras civis e convencionais impulsionam as vendas de armas e seus altos valores de faturamento aliviam a combalida economia capitalista.
Opressão governamental armada e capitalismo convergem numa rede de interesses macabros. (por Dalton Rosado)
"Give Peace a Chance", de John Lennon, na empolgante
interpretação do Joe Cocker, Mad Dogs & Englishmen
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